Escrevo para vocês diretamente da fazenda onde estamos no quarto encontro de implementação da Filosofia Lean, sistema de gestão, que visa o aumento da produtividade e lucro, através da eliminação de desperdício, seja ele de tempo, material ou até de segurança, com o menor custo, sem perda de qualidade. A Filosofia Lean nasceu na indústria japonesa, criada por Taiichi Ohno, engenheiro da Toyota e também é conhecido como Sistema Toyota de Produção. Devido a sua adaptabilidade, a metodologia tem se tornado onipresente, sendo utilizada em empresas como a Embraer, Valtra, Danone, Marfrig, John Deere entre outras.
Você pode estar se perguntando, é possível adaptar um sistema que foi criado para a indústria, ao setor do agronegócio? O agro é um setor dinâmico que tem passado por intensa transformação nos últimos 40 anos, entretanto, enfrenta gargalos na gestão, que se eliminados, podem aumentar a produtividade e eficiência. A filosofia vem sendo implantada em muitas propriedades que buscam melhorar seu sistema de gestão, que é um dos fatores primordiais para o incremento da rentabilidade no campo.
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Vamos à parte prática, como é realizada a implantação do Lean Thinking nas propriedades?
Na nossa experiência, o primeiro encontro que deu início a implementação durou uma semana, que se iniciou com o mapeamento de todos os setores da propriedade (oficina, almoxarifado, fábrica de ração, alojamento, curral, cantina e etc) e dos processos inerentes a cada setor. Foram dias intensos onde toda a liderança visitou área por área da propriedade com a cabeça aberta e olhar crítico a cada etapa, independente da sua área de atuação, ouvindo os responsáveis por aquela área, enquanto buscavam identificar dores, problemas e oportunidades de melhoria nos inúmeros processos.
Fizemos de uma das paredes do escritório um grande mural onde cada etapa dos processos foi mapeada e abaixo dela, identificados todos os problemas, que preferimos chamar de oportunidades de melhoria. Só para vocês terem uma ideia, foram encontradas 300 oportunidades de melhoria, que encaramos com muito otimismo!
Nesta mesma semana, em uma planilha, transformamos as oportunidades em tarefas, com pessoas responsáveis pelo cumprimento, data de início e data prevista de finalização, esta planilha é chamada de Plano de Ação. Foi escolhido um gestor, que é o guardião do Lean na fazenda, ele roda todas as áreas durante a semana, acompanhando o andamento das tarefas.
Os encontros são realizados a cada 30 dias, então teríamos um mês de muito trabalho pela frente, para dar conta do movimento da fazenda, que não pode parar, e também administrar as tarefas do Plano de Ação.
No segundo encontro, iniciamos a implementação de mais uma ferramenta, o 5S, um programa de gestão, que busca otimizar a organização, limpeza, padronização e disciplina. Uma das principais vantagens da metodologia 5S é a forma como ela se adapta a diferentes realidades, por isso, ela é tão conhecida e eficiente. Os 5S foram traduzidos de 5 sensos em japonês: senso de utilização, senso de organização, senso de limpeza, senso de padronização e de disciplina. No final do primeiro encontro, foi escolhida uma área por onde iniciaríamos a implantação do 5S, a área definida foi a oficina, por ser uma das partes mais nevrálgicas e com mais oportunidades de melhoria dentro da propriedade.
A próxima etapa foi a semana D na oficina, que teve início com a retirada de literalmente tudo de dentro da oficina, do almoxarifado da oficina e do pátio. Foi um trabalho hercúleo, que revelou muito material acumulado desnecessariamente nas referidas áreas de trabalho. Após a retirada de todo o material, seguindo os 5 sensos, separamos o útil do inútil a aquela área. O que é inútil, foi separado em três categorias, o que pode ser reutilizado na fazenda, o que pode ser vendido como ferro velho ou descartado como lixo.
Tudo que foi considerado útil, foi separado de acordo com o segundo senso, de utilização, se não fosse utilizado naquela área, era encaminhado para a área de interesse. Depois vem o senso de limpeza, todo o ambiente foi lavado e o material de trabalho limpo.
O próximo senso de padronização foi aplicado às ferramentas, todas foram separadas e organizadas no ambiente de trabalho conforme o uso. E então, vem o último senso que é de disciplina. Foi desenvolvido um cronograma de limpeza e manutenção em todos os ambientes da oficina. Este mesmo processo foi executado em encontros subsequentes na fábrica de ração, confinamento, alojamento dos funcionários, casa de arreios e curral até o momento, ainda faremos o processo na serraria, serralheria, cantina e finalmente na colônia e sede.
Este é um assunto ao qual retornaremos mais vezes, pois a implementação ainda tem vários pontos como a TPM (manutenção produtiva total), ferramenta que muito interessa ao setor do agronegócio.
Buscando maior eficiência, muitas vezes investimos em novos equipamentos e tecnologia, quando o controle dos processos administrativos e operacionais da propriedade são deixados em segundo plano, deveria ser ao contrário, primeiro sistematizar as operações. A mudança cultural no ambiente é notável, todos satisfeitos com a facilidade de encontrar as ferramentas e com o ambiente limpo e organizado, vejo um horizonte auspicioso e brilhante.
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*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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