O que é ser bom na criação de gado e na oferta de animais de qualidade ao mercado? Para a ACNB (Associação de Criadores de Nelore do Brasil), entidade que representa a maior a raça bovina criada no país, há vários caminhos para a pecuária produtiva. Um deles, as premiações que encerram o ano, é esperado pelos criadores porque mostram uma parte dessa tarefa nas fazendas.
Na noite de ontem (12), a entidade anunciou em São Paulo, os ganhadores do ano para animais abatidos em seu programa de avaliação de carcaças, ou seja, qual pecuarista consegue entregar um animal bem criado ao frigorífico, e os criadores que se destacaram no ranking dos animais avaliados nas exposições agropecuárias. Há, também, homenagens, como Liderança Feminina no Agronegócio, Amigo do Nelore, Liderança de Destaque e Família Nelorista, entre outros.
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No circuito Nelore Carcaça de Qualidade 2022, o ganhador foi Agropecuária Itaquerê do Araguaia, com o melhor lote de machos. Para os animais castrados, o primeiro lugar ficou com a Colpar Participações. A novidade neste ano foi levar a mesma avaliação de lotes entregues aos frigoríficos ao Paraguai e Bolívia. O circuito serve como uma espécie de mapeamento da pecuária em todo o país, como se fosse uma radiografia da qualidade de determinada região.
No ranking das exposições agropecuárias, os ganhadores foram Udelson Nunes Franco como melhor criador e expositor de nelore mocho. Do nelore com chifres, o grande vencedor do ranking foi a Rima Agropecuária, de Ricardo e Bruno Vicintin.
Confira, a seguir, a entrevista que presidente da ACNB, o pecuarista capixaba Nabih Amin El Aouar, concedeu à Forbes na noite de ontem:
Forbes: O ano de 2022 marca a saída de um período difícil para o país, em função da pandemia. Como foi o ano para os criadores de nelore?
El Aouar: Quase todas as associações paralisaram os eventos. Nós decidimos, mesmo virtual e com todos os cuidados e medidas preventivas, continuar o Circuito de Carcaça Nelore nos frigoríficos. As exposições fizemos também de modo virtual e não paralisamos o ranking. Foi o modo de continuarmos com os criadores, divulgando o produto dele. Neste ano voltamos à normalidade dos eventos presenciais, esse é um grande momento.
Forbes: Qual o principal desafio para 2023, em que questões ambientais voltam com força à agenda do país?
El Aouar: Somos muito otimistas e temos que levar motivação para a cadeia produtiva. Estamos vivendo um momento diferente e vamos continuar trabalhando para produzir carne e leite.
A motivação está no fato de que o mundo necessita se alimentar e carne e leite são alimentos de altíssima qualidade e benéfico a toda a população. São produtos que sempre teremos para abastecer, seja o mercado interno ou para as exportações.
Então, independente do cenário, o criador precisa acreditar nisso. Mostrar o trabalho de uma fazenda de pecuária comercial e uma fazenda de genética é fundamental para a sociedade entender como a carne chega até o consumo.
Forbes: Qual a importância para a ACNB estender o programa de qualidade de carcaça dos animais da raça nelore para outros países, como ocorreu nesta etapa do circuito?
El Aouar: O Brasil criou o circuito nelore de qualidade, de avaliação dos animais para abate, como uma forma de ensinarmos outros criadores a produzir uma carne de melhor qualidade, num tempo mais curto, com melhor acabamento de gordura e animais extremamente pesados.
Com isso, sendo os animais mais jovens e bem criados, a carne é mais macia, suculenta e saborosa. Mas, mais que isso, como esse animal tem um valor agregado maior, o consumidor ganha em qualidade do produto e o criador ganha na rentabilidade. O frigorífico e o setor varejista ganham, também, nesse agregação de valor.
Por isso, passamos de cerca de seis etapas de avaliação há alguns anos, para as atuais 30 etapas de avaliações em todo o país. Neste ano avançamos e fizemos três etapas internacionais, duas na Bolívia e uma no Paraguai. Para 2023 já temos em vista três na Bolívia e duas no Paraguai.
Forbes: Há intenção de implantar o circuito em outros países?
El Aouar: Estamos em conversas com o Equador e a Colômbia.
Forbes: Como é feita a avaliação em frigoríficos fora do Brasil?
El Aouar: Segue o mesmo critério do circuito nacional. Os pecuaristas inscrevem os lotes dos animais, que são avaliados antes e depois do abate por técnicos da ACNB. Mas, no caso, os animais são inscritos na associação de seus países de origem. Mas, nessa parceria, esses criadores vieram ao Brasil receber os prêmios.
Acontece um intercâmbio de informações que ajuda a todos os criados, porque um quer saber o que o outro faz para entregar o melhor animal. E para um pecuarista participar do circuito ele nem precisa ser um associado da ACNB ou de qualquer outra entidade, porque a ideia é ir em busca de quem está produzindo com excelência, antes de qualquer condição.
Forbes: Como um pecuarista pode participar?
El Aouar: Ele inscreve lotes, que podem ser a partir de 15 animais, a depender do esquema do frigorífico. Quando os animais chegam no curral do frigorífico, fazemos as avaliações fenotípicas e uma avaliação racial do padrão do nelore. E depois do abate avaliamos peso, acabamento e gordura.
Forbes: Se os animais serão abatidos, porque fazer avaliação racial do nelore que participa do circuito?
El Aouar: O grande desafio, e estamos fazendo isso, é tornar o nelore ainda mais produtivo. Para isso, estamos trabalhando a precocidade da raça. Olha o exemplo do angus, um animal extremamente precoce, que ganha uma velocidade muito grande em termos reprodutivos. As fêmeas criam com 14 meses, 15 meses de idade, e sua carne premium vem de animais jovens que atende ao gosto do consumidor.
Assim como outras raças taurinas, o angus tem no mínimo 500 anos de seleção. Exatamente o contrário do nelore no Brasil, que começou a ser selecionada a partir das importações da década de 1960, por meio dos programas de melhoramento. Então, buscar nesses animais de abate as características da raça nelore é ir atrás de quanto elas estão impressas até o fim do processo de criação, porque houve e ainda há muita misturas de nelore com outras raças.