O ano de 2022 certamente será mencionado nos livros de história como um período muito incomum para os produtores de vinho na Europa. Na maioria das regiões, houve muito pouca ou nenhuma chuva durante vários meses. Mas a falta de chuvas não teve consequências tão catastróficas quanto alguns temiam. Na maioria das regiões produtoras de uvas viníferas, 2022 será um ano de vinhos muito bons e até marcantes. Confira o que dizem alguns grandes enólogos sobre esta safra, nas várias regiões produtoras:
Bordeaux safra 2022
Fabrice Bacquey, enólogo do Chateau Phélan Ségur, em Saint Estèphe, Bordeaux: “2022 foi um ano excepcional em Bordeaux. Tivemos um verão quente e altas temperaturas. As uvas estavam muito maduras. Colhemos muito cedo. Houve uma intensa evaporação. Teremos muita concentração e densidade. Será uma safra especial”.
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Véronique Sanders, presidente do Château Haut-Bailly, em Pessac-Léognan: “2022 será um vinho muito bom. Tivemos um clima perfeito. Em termos de qualidade, será uma grande safra. Em termos de quantidade, vamos sentir um pouco de falta por causa da corrente de ar. É extremamente promissor.”
Juha Berglund, Château Carsin, Cadillac Côte de Bordeaux: “Este ano foi muito incomum por muitas razões. Tivemos muita seca, talvez 20 mm de chuva desde junho. Isso gerou muito estresse para as videiras. Nunca a colheita havia começado tão cedo. Agora, é quase uma regra começarmos em agosto. Ainda temos (no dia 2 de outubro) algumas uvas nas vinhas para o vinho doce, mas apesar de termos tido alguma chuva, a podridão nobre ainda não começou. Fizemos um vinho doce sem podridão nobre em 1997; talvez tenhamos que fazer isso este ano também. O potencial de qualidade do vinho tinto é muito bom. Os taninos são macios, tem boa cor, e conseguimos vinhos com aromas de ameixa e groselha preta. Desde que minha filha Nea assumiu, temos feito vinhos com um pouco mais de tensão. Os brancos também serão certamente bons. Mas tanto o tinto quanto o branco serão em menor quantidade.”
Borgonha, Champanhe, Vale do Ródano
Philippe Bernard, proprietário e enólogo da Clos Saint Louis, Fixin, Borgonha: “Este ano estou muito feliz porque conseguimos qualidade e quantidade. A de 2022 foi uma vindima difícil, muito seca e com muito sol, mas vai ser muito boa.”
Flavien Rutat, co-enólogo da Champagne Rutat: “2022 foi um ano muito, muito seco, sem chuva. Isso levou a muita dificuldade para a vinificação. As primeiras provas do ‘baby wine’ revelaram aromas surpreendentemente frescos. Achamos que será bom para envelhecer.”
Alexandre Penet, Champagnes Penet-Chardonnet: “A colheita deste ano é excelente. Muito promissora. O tempo atrapalhou um pouco, mas a colheita acabou sendo ótima. Estamos muito felizes com os resultados. Faremos uma excelente safra de 2022.”
Kate McKinlay, Domain de Mourchon, Séguret, sul do Vale do Rhône: “Foi uma safra extrema, quente e seca. As vinhas sofreram. Fomos salvos pela chuva no final de agosto e início de setembro, que veio e reidratou as uvas. Temos um suco perfeitamente equilibrado. Muito açúcar, mas também frescura. Taninos agradáveis, mas não muito. Está se desenhando um cenário muito promissor.
Laure Couturier, Domaine Rabasse-Charavin, Cairanne, sul do Vale do Ródano: “Pode ser muito cedo para dizer (sobre a qualidade). Mas acho que será uma safra muito boa. As uvas estavam boas, o tempo estava bom, tudo estava bom. Vai ser uma boa safra.”
Áustria, Piemonte, Portugal
Franz Leth, Weingut Leth, Wagram, Áustria: “Colhemos nosso grüner veltliner e rieslings em perfeitas condições.”
Max Trabitsch, Weingut Jurtschitsch, Langenlois, Áustria: “A safra parece promissora. Temos acidez alta, não tão alta quanto 2021, mas ainda boa. Temos álcool apropriado, nem alto nem baixo. Esta vai ser uma boa safra.”
Diana Muller, Weingut Muller, Kermstal, Áustria: “Se os deuses do clima não nos derem chuva nos últimos dias da colheita, teremos uma ótima safra.” (Os comentários foram feitos antes de todas as uvas serem colhidas.)
Niki Moser, Weingut Sepp-Moser, Kermstal, Áustria: “A colheita começou muito cedo porque foi uma safra quente e seca. Queríamos trazer as uvas com um bom teor de acidez, e a maturação estava lá. Está aí a base para uma grande safra.”
Vasco Lopes, Pedro Milanos, Vale do Douro, Portugal: “Foi um ano muito, muito quente. As uvas estavam um pouco desequilibradas e por vezes queimadas pelo sol. Mas conseguimos colher mais cedo do que costumávamos. Este é o novo normal das mudanças climáticas. Fizemos uma boa colheita e os vinhos parecem bons. Eles não são tão alcoólicos quanto costumavam ser, embora fosse um ano quente, o que é um pouco estranho. Acho que os vinhos vão sair muito bons.”
Flavio Sobrero, Cantina Sobrero Francesco, Barolo, Piemonte: “este ano foi muito quente e seco, mas a qualidade é extraordinária. Os vinhos são incríveis. As uvas que chegaram à adega estavam perfeitas.”
* Per e Britt Karlsson são colaboradores da Forbes EUA. O casal sueco baseado em Paris é autor de cinco livros sobre vinhos, já visitaram cerca de 200 vinícolas, além de escreverem para outras publicações.