Antes de abrir o capital de sua empresa, o CEO da Tattooed Chef, Salvatore “Sam” Galletti, disse aos investidores que seu objetivo era “fornecer produtos à base de plantas de excelente sabor para o crescente grupo de consumidores que busca adotar um estilo de vida mais ecológico e consciente da saúde”. A companhia, não sem motivo, se autodenomina “uma empresa líder em alimentos plant-based”.
Mas a bolha dos produtos à base de plantas estourou este ano, e a Tattooed Chef, que abriu o capital em outubro de 2020 e está avaliada em US$ 1,7 bilhão (R$ 8,9 bilhões), perdeu quase metade de seu valor apenas no ano passado. Buscando maneiras de sair do buraco, a empresa considera o que antes era impensável: vender carne de origem animal.
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“Isso abre muito mais caminhos e muito mais portas”, diz Galletti à Forbes. “O interesse por produtos à base de plantas diminuiu, mas a demanda por alimentos ainda é maior do que nunca”, avalia.
A decisão é um golpe para a indústria de alimentos à base de plantas, lançada há alguns anos com grandes expectativas em atender clientes interessados na melhoria da saúde e na desaceleração das mudanças climáticas. Mas desde meados do ano passado, os compradores têm indicado preferir o bolo de carne da vovó no lugar da carne à base de plantas. Agora, persiste a dúvida se isso é apenas um obstáculo temporário no caminho para o plant-based ou uma destruição maior de todo o modelo de negócios.
No centro dos problemas da Tattooed Chef está a sua própria decisão de abrir o capital e ter que responder aos investidores de Wall Street, em vez de crescer em seu próprio ritmo como uma empresa de capital fechado. A empresa era lucrativa quando era privada. Suas tigelas veganas de açaí e massa de pizza à base de couve-flor eram vendidas em 4.000 locais, principalmente em lojas como Walmart e Costco.
Depois que uma fusão reversa a colocou na bolsa de valores, a Tattooed Chef lançou seus produtos em redes de supermercados como Kroger e Safeway. Isso custou muito dinheiro e, embora a companhia tenha aumentado sua distribuição em cinco vezes, para cerca de 20.000 lojas em apenas dois anos, a mudança significou um grande investimento em questões como marketing, taxas de alocação e outras despesas comerciais.
“Como uma empresa privada, nunca perdi dinheiro”, revela Galletti, que explica que “Wall Street disse para não se preocupar em perder dinheiro, apenas se preocupar em fazer sua marca crescer. Agora o mundo inteiro mudou e tudo se resume a ser lucrativo”.
Em 2020, a empresa teve US$ 23 milhões (R$ 120 milhões) em lucro bruto e receita de US$ 148 milhões (R$ 775 milhões). Nos últimos 12 meses, o lucro bruto caiu para US$ 5 milhões (R$ 26 milhões), com receita de US$ 237 milhões (R$ 1,24 bilhão).
Mas a Tattooed Chef não está apenas olhando para a carne para ajudar seus problemas de lucro. A empresa também está buscando simplificar e cortar custos, e está considerando outros produtos mais lucrativos fora do corredor de alimentos congelados, como barras de proteína, batatas fritas e tortilhas refrigeradas.
A carne aumenta o preço de um produto e também ajuda a impulsionar os resultados, diz Galletti, sobre sua rentabilidade. “É algo que precisamos considerar”, pondera.
A empresa começou em 2017 e sempre teve um ethos mais “flexitariano” do que qualquer outra coisa – fazendo alimentos vegetarianos, veganos ou não transgênicos. Mas seus documentos públicos e sua campanha publicitária na TV norte-americana em 2021 utilizavam o conceito “à base de plantas” como carro-chefe para seu marketing.
“A maioria das empresas de carne à base de vegetais têm enfrentado dificuldades neste último ano, especialmente quando se trata de fluxo de caixa”, aponta John Baumgartner, analista sênior de agronegócios do Mizhuo Group. “Como os produtos à base de plantas da Tattooed Chef não estão gerando lucro o suficiente, pode fazer algum sentido mudar a estratégia temporariamente, manter as luzes acesas e esperar que o mercado volte mais forte. Mas isso arriscaria alienar seus clientes fiéis”, alerta.
“Se algo não está funcionando e eles decidirem produzir proteína animal, isso irá contradizer os princípios básicos da empresa”, diz Baumgartner. “Isso pode afastar parte do mercado porque eles não são mais considerados puros ou comprometidos com a causa dos vegetais? Talvez”, reflete o analista da Mizhuo Group.
A Tattooed Chef, que afirma ter sido a segunda marca de crescimento mais rápido na Instacart este ano, também fabrica produtos para marcas próprias de varejistas, incluindo Trader Joe’s, Whole Foods e Aldi.
Os produtos nunca antes incluíram carne. Galletti diz que, se a linha receber luz verde, a proteína fornecida pela empresa teria que ser “única” e produzida “no mais alto nível”.
“Passamos na cola de alguns dos outros concorrentes”, conta ele. “Nós estávamos pegando onda. Todo o setor ficou muito deprimido nos últimos meses. O vegetal está aqui para sempre? Está passando por uma pausa? Tem pernas? Nossa opinião é que sim, mas definitivamente está parando”, avalia Galletti.