O brasileiro está comendo mais peixes cultivados em redes ou tanques, uma atividade que tem crescido ano a ano e que atrai cada vez mais consumidores de carne branca. É na onda da saudabilidade e da sustentabilidade que os produtores dessa proteína surfam. Em 2022 foram cultivadas 860.355 toneladas de peixes cultivados, de acordo com o “Anuário 2023 Peixe BR da Piscicultura”, um levantamento exclusivo realizado pela Peixe BR (Associação Brasileira da Piscicultura), entidade que reúne produtores que engordam o peixe, produtores de alevinos e genética, empresas de equipamentos, insumos veterinários, nutrição, ração, frigoríficos e entidades de classe regionais. O crescimento no ano passado foi de 2,3%, sobre as 841.005 toneladas de 2021.
“Não foi um crescimento como em anos anteriores, porém a atividade manteve a curva ascendente, comprovando a demanda crescente dos peixes de cultivo”, afirma Francisco Medeiros, presidente executivo da Peixe BR.
A produção de peixe cultivado está espalhada por 26 estados, mais o Distrito Federal. O Paraná se mantém à dianteira, com uma produção de 194.100 toneladas, mais que o dobro do segundo colocado, São Paulo, com 83.100 toneladas. Outros quatro estados produzem na faixa de 50 mil toneladas: Rondônia (57.200), Minas Gerais (54.700), Santa Catarina (54.300), Maranhão (50.300). Completa a lista dos 10 maiores produtores de peixes cultivados o Mato Grosso (42.800), Mato Grosso do Sul (34.450), Bahia (34.000) e Pernambuco (31.960 toneladas).
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“No total, produzimos 860 mil toneladas, com destaque mais uma vez à tilápia, que já representa cerca de 64% do volume. Os peixes nativos mantêm-se como um segmento de muita relevância e outras espécies – com destaque para o pangasius – buscam evolução”, afirma Medeiros. O pangasius, ou peixe-panga, é um tipo de bagre comercializado quando chega a 1,5 quilo. Sua popularidade entre os produtores têm aumentado por causa do bom rendimento de filé, de cerca de 40% em relação ao peso. Atualmente, cerca de 90% de todo o panga consumido no mundo vem do rio Mekong, um dos maiores rios do mundo, localizado no Sudeste da Ásia.
Para a tilápia, os dois maiores produtores no Brasil em 2022 foram o Paraná, com 187.800 toneladas e São Paulo, com 77.300 toneladas. O terceiro maior, Minas Gerais, registra produção na casa de 50 mil toneladas. Entre os produtores de peixes nativos, a lista é encabeçada por Rondônia, com 57.200 toneladas, seguida por Maranhão (39.100 toneladas) e Mato Grosso com 38 mil toneladas. Desde que a Peixe BR oficializou as estatísticas de produção de peixe cultivado, em 2014, a evolução foi de 48,6%. Há nove anos, a produção foi de 281.555 toneladas.
Mesmo assim, embora com crescimento, o ano de 2022 foi considerado desafiador para os produtores dessa proteína, como ocorreu para as demais, como aves, suínos e bovinos que dependem de grãos para a dieta animal. “Esse foi um dos principais desafios do setor, pois acabou influenciando os preços da ração, que representa o maior custo da piscicultura”, afirma Medeiros. “2022 foi um ano desafiador em vários sentidos. A economia global manteve-se em desaceleração devido à pandemia e também foi impactada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Além disso, foi um período de custos de produção elevados e desajustes no comércio internacional.”
O executivo reforça que o ano de 2022 foi bastante atípico, com um primeiro semestre de preços baixos pagos ao produtor. Essa condição levou à redução do alojamento e, por consequência, também da oferta de peixes na segunda metade de 2022. A partir daí, ocorreu aumento de preços pagos ao produtor. Entre agosto e dezembro houve a maior série histórica dessa elevação, com aumentos semanais, de acordo com levantamento do CEPEA. Medeiros acrescenta, ainda, que o cenário ainda foi intensificado pela perda do poder aquisitivo de parte da população. “A solução foi melhorar a gestão dos negócios em toda a cadeia produtiva, oferecendo novos itens ao consumidor final e ampliando os canais de venda.”
Mas, para o executivo, esses desafios têm caminhos em várias frentes para retomar o ritmo de avanço mais rápido da produção brasileira. “O que nos move é o tremendo potencial para a atividade, inclusive porque o consumo interno ainda é baixo (cerca de 9,5 kg/hab/ano) e há muitas oportunidades no mercado externo para nossos peixes de cultivo”, afirma.
A Peixe BR tem contribuído para as políticas públicas no setor e também com iniciativas. Uma delas, por exemplo, foi o lançamento do modelo de produção “Integração tambaqui-curimbatá”, contribuindo para a retomada do crescimento da produção de peixes nativos no Brasil. “Estamos em contato com o Ministério da Pesca e Aquicultura, nos colocando à disposição para a construção de uma piscicultura nacional forte e competitiva, conectada a boas práticas, intenso cuidado sanitário e busca pelo aumento da produtividade, sempre com rentabilidade para os diversos segmentos da cadeia produtiva”, afirma Medeiros. “Em 2023, estaremos ainda mais atuantes, contribuindo para a contínua evolução dessa fantástica atividade, que coloca à disposição do mercado alimentos saudáveis e de alta qualidade”.