“O Agro é o fato mais importante da história econômica do Brasil nos últimos 40 anos”, disse Flávio Souza, presidente do Itaú BBA, para uma plateia de cerca de 1.000 pessoas entre produtores rurais, lideranças e técnicos, em evento realizado pela Syngenta que ocorre em Campinas (SP), nesta terça e quarta-feira (14). “O agro precisa ir bem, para o agronegócio ir bem; precisa ir bem, para economia do Brasil; e diria que ele precisa ir bem para o próprio comportamento da economia mundial.”
Nos últimos anos, com um mercado financeiro mais próximo das operações ao longo das cadeias produtivas do agro – mas, ainda mais próximo das operações de campo –, o banco investiu em sua estrutura para atender a esse público. Até 2019, não mais que 30 pessoas formavam a equipe de agro do Itaú BBA, com foco em grandes operações e boa parte dela concentrada nas metrópoles.
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Hoje, são cerca de 700 pessoas, a maioria gente especializada em finanças, gestão e processos, sediadas em importantes polos de produção, entre eles Sorriso, uma das cidades da soja que mais planta a oleaginosa no país. “Hoje, o agro é nossa principal carteira”, diz Souza.
O Itaú BBA é o maior banco corporativo e de investimento da América Latina e faz parte do grupo Itaú Unibanco. Neste ano, o grupo manteve sua posição como a marca mais valiosa do Brasil, com um valor de US$ 8,7 bilhões (cerca de R$ 42,7 bilhões), representando um crescimento de 32% em relação a 2022. O maior banco da América Latina supera outras marcas, com seu valor sendo 70% maior que a segunda colocada, de acordo com um levantamento realizado pela consultoria britânica Brand Finance e apresentado na semana passada.
Souza afirma que hoje a instituição olha para o agro tendo três pilares: financiamento, ESG e agricultura 4.0. Confira o que pensa o presidente do Itaú BBA:
Agro precisa de R$ 800 bi a R$ 1 trilhão
“O financiamento, obviamente no qual a gente está diretamente envolvido com o sucesso do agro, e como qualquer atividade, temos as chamadas dores do crescimento. Ele também traz desafios e uma das dores do crescimento é que a atividade cresceu tanto, passou a ter uma representatividade tão grande, que cada vez mais temos uma necessidade.
Mesmo com o Plano Safra sendo corrigido ao longo do tempo, a gente acaba de ver para o ano R$ 340 bilhões. Pela nossa estimativa, a necessidade do setor está ao redor de R$ 800 bilhões a R$ 1 trilhão. E a pergunta natural é: existe funding para isso? Vou direto na resposta: existe funding para a atividade do agronegócio. O mercado financeiro no Brasil é bastante sólido e consolidado. E a gente também tem um mercado de capitais cada vez mais pujante e realmente muito interessado em participar de todo esse desenvolvimento do agronegócio.”
Crescimento de LCAs, CRAs e outros
“Quando a gente olha alguns indicadores, por exemplo, no estoque de CPR no mercado, há um crescimento absolutamente extraordinário de mais de 80% nos últimos 12 meses. Em volume de transações mais do que dobrou.
Quando a gente vai olhar para os instrumentos financeiros, nas LCAs também vê um crescimento. Não teve nenhum outro instrumento financeiro que nos últimos 12 meses mostrou o crescimento que a gente observou nas LCAs, com um estoque acima de R$ 400 bilhões. Quando a gente olha para os CRAs é outro outro instrumento que também tem tido um crescimento absolutamente impressionante, de mais de 100% nos últimos dois anos e já superando um estoque de R$ 100 bilhões”
O Fiagro entra em cena
“Não menos importante, o instrumento mais recente e que a gente acredita que vai ter um papel muito relevante para o agronegócio ao longo dos próximos anos e décadas é o Fiagro, o Fundo de Investimento do Agronegócio aqui. O Fiagro tem cerca de dois anos. Desde o primeiro lançamento do Fiagro, que por acaso foi feito por nós no Itaú BBA, ele já atraiu mais de 200 mil cotistas investidores.
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Quando a gente olha de forma análoga em relação aos fundos imobiliários, que surgiram lá por volta da da primeira década deste século, em 2010, os fundos imobiliários tinham 10 mil cotistas. E eles só foram superar a marca de 200 mil cotistas em 2018. Foi preciso oito anos para que eles chegassem nessa marca e de lá para cá cresceram com uma velocidade importante. Hoje, são mais de 2 milhões cotistas em Fundos, Investimentos imobiliário e um patrimônio nessa indústria de R$ 200 bilhões.
Nossa visão é que o Fiagro tem a possibilidade de ser uma parcela de funding muito importante. Para ter uma referência, a indústria de fundos no Brasil é uma indústria de R$ 7,6 trilhões nos fundos imobiliários. O agro tem uma participação na economia maior do que o setor imobiliário. Eu consigo ver, com muita tranquilidade, que nós vamos ver centenas de bilhões de reais nos Fiagros ao longo dos próximos anos.”
A fronteira do mercado financeiro no agro
“A última fronteira que vejo com uma oportunidade enorme para o agro crescer e se desenvolver está relacionada obviamente ao mercado de capitais, através da emissão de ações. É absolutamente incompatível, quando a gente olha para a relevância que o agro tem na nossa economia.
Do ponto de vista do valor de mercado das empresas do agronegócio que estão listadas, elas representam 2% do valor de mercado. Pouco mais de uma dezena de empresas do agronegócio estão listadas. Vale destacar que a partir de 2021, com a alta de juros, esse mercado deu uma esfriada importante. Desde 2021 tivemos seis empresas do agronegócio indo ao mercado.
Quando a gente olha para o valor de mercado das empresas listadas no Brasil, estamos falando de mais de R$ 4 trilhões. Na indústria de funding são R$ 7 trilhões. Com a história de sucesso que o agro tem construído, não há a menor dúvida de que o mercado está pronto e disponível para apoiar o investimento no agro.”
Carteira para o agronegócio
“O Itaú BBA tem acompanhado e acelerado muito seu crescimento no setor. Hoje, o agro é nossa principal carteira. A nossa operação tem R$ 500 bilhões de crédito para apoiar o setor e é onde a gente tem a maior exposição. Nós temos R$ 90 bilhões hoje de crédito concedido.”
Crédito com sustentabilidade
“Para ter acesso a esse funding e na dimensão que o agronegócio, cada vez mais a sustentabilidade e governança se tornam muito importantes. O elemento de governança, com transparência das informações, relatório gerenciais, a gestão de riscos. A atividade do agro se remunera pelo operacional. Fazer uma boa gestão de risco, do ponto de vista do portfólio, é absolutamente fundamental.”
Governança e transição de geração
“Na pauta de governança, a gente está começando a observar uma transição de gerações como nunca se viu no negócio, pelo menos nesta dimensão, nos últimos 40 anos. A governança saiu de uma certa relevância para uma enorme relevância.
Hoje, muitas companhias, muitas propriedades estão vivenciando a sua primeira transição de geração, de pai para filho e algumas já estão fazendo a transição de segunda para terceira geração. Aqui estamos falando de uma transição de filhos para primos e é natural que aqui se exija muito mais governança, muito mais transparência. Que é uma expectativa do mercado para que o segmento, para que tenha acesso a todas as linhas, no aspecto de sustentabilidade.”
Agricultura 4.0 e o futuro do setor
“O principal fator de crescimento da atividade do agronegócio nos últimos anos, no Brasil, está muito mais relacionado ao aumento da produtividade. Essa é uma pauta em que as exigências não param. O movimento, que acontece em diversos stakeholders na comunidade global, é uma barra que não para de subir. É absolutamente fundamental que o agro esteja cada vez mais atento a isso.
O protagonismo do setor está relacionado à agricultura 4.0. A gente já entrou numa época de disrupção, de transição, na qual o uso de dados e da Inteligência Artificial vão certamente oferecer uma oportunidade muito grande para o agro no Brasil. Parte do sucesso que a gente vê na operação do agro, nas últimas décadas, está diretamente relacionado ao fato de que o setor sempre esteve, não só aberto à inovação, mas que abraçou a inovação e puxou a inovação sempre de uma maneira muito importante. Esse desafio, agora, está passando por mais uma nova etapa.”