A Serasa Experian acaba de concluir um estudo inédito com a participação de 337 mil produtores rurais de todo o Brasil. A consultoria de serviços de informações para as empresas queria saber qual o grau de comprometimento dos produtores em compliance com a conformidade socioambiental, um atributo que passou a ser exigido pelo Banco Central para a concessão de linhas de crédito e fundos de investimento.
A Forbes teve acesso em primeira mão ao trabalho, que será apresentado nesta quinta-feira (29). E o resultado mostra que 91,8% dos produtores rurais dentro do universo pesquisado tomam decisões acertadas em relação às suas obrigações socioambientais, ou seja, seguem diretrizes acertadas em relação às práticas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança).
Leia também:
- Sustentabilidade da agropecuária: o que caberá à nova geração de produtores rurais
- Como ESG e blockchain podem estar na costura de um agro mais sustentável
- A preservação ambiental feita por produtores rurais
Extrapolando para todo o setor, o Brasil possui atualmente 5 milhões de propriedades rurais. “O que vemos é uma potência nacional que, em sua maioria, trabalha para viabilizar um modelo econômico mais sustentável”, diz Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian. “Por isso, entendemos a importância de utilizar a expertise em dados para trazer transparência sobre o segmento como um todo”. De acordo com o executivo, o alto percentual de conformidade na pesquisa mostra um quadro positivo sobre a adaptação da agricultura brasileira frente às métricas ESG.
O levantamento também mostrou que, nesse novo momento do mercado de crédito, as análises complementares são fundamentais e que elas devem entrar no radar dos produtores. “Um produtor rural que possui uma boa pontuação de crédito pode não ser tão bem classificado sob a perspectiva ESG”, afirma Pimenta. “Esse tipo de perfil pode ter uma baixa probabilidade de inadimplência, mas potencialmente causar danos ambientais e reputacionais de larga escala”, completa.
Ainda segundo o executivo, a ideia do tipo de visão citada acima não é apenas mitigar riscos aos credores, mas garantir que os produtores que estão em compliance sejam vistos de forma adequada pelo mercado. Além disso, também serviria para orientar aqueles que ainda precisam se adaptar para melhorar a pontuação de crédito, os indicadores ESC e, por consequência, acessar linhas de crédito mais compatíveis com o seu perfil.
Monitoramento via satélite entra no modelo ESG
Na pesquisa, a utilização de imagens capturadas via satélite foi integrada ao funcionamento do Score ESG, desenvolvido pela Serasa Experian, para aumentar a precisão da ferramenta. “Essa modalidade de monitoramento, com imagens de satélite, proporciona uma perspectiva abrangente e detalhada sobre as transformações ocorridas em uma região ao longo do tempo”, diz Pimenta. “Sejam desmatamentos, queimadas ou qualquer outra alteração, podendo capturar e analisar esses eventos, permitindo uma análise mais fiel e abrangente das propriedades rurais e das práticas adotadas pelos produtores”, completa.
A Serasa Experian utilizou o banco de imagens de sua empresa Agrosatélite. A coleção de informações de diferentes culturas e biomas consegue comprovar a situação ambiental agrícola e tornar o crédito mais acessível e sustentável em todo o país.
Segundo os dados do estudo, que avaliou três das grandes commodities brasileiras, é possível garantir que os mercados de café, soja e cana-de-açúcar, possuem um bom desempenho socioambiental, mesmo quando observados separadamente. O setor cafeeiro, por exemplo, tem 95,6% de seus produtores operando em compliance com as práticas ESG. Além disso, o segmento de cana-de-açúcar registrou que 93,3% de seus trabalhadores estão em compliance. Para a soja, o quadro também é positivo, com 88,5% dos produtores bem avaliados.
Para head de agronegócio da Serasa Experian, a atuação de projetos como a Certificação do Café, a Moratória da Soja e grupos como o Bonsucro, relacionado à cana-de-açúcar, impulsionam a adoção de práticas sustentáveis e auxiliam na organização dos produtores. Isso sem contar com o novo Plano Safra, divulgado nesta semana, que deverá premiar agricultores que produzirem com baixo carbono, por exemplo. “A adaptação às práticas ESG evolui constantemente e é primordial que os produtores de todos os portes e culturas estejam dispostos a mudar e entender novos formatos de trabalho. Para isso os incentivos e direcionamentos que contemplem os critérios socioambientais são primordiais”.
Mas Pimenta também faz um aparte, afirmando que mesmo engajados, principalmente para pequenos agricultores, essa adaptação não é tão simples. “Sabemos que não adianta apenas responsabilizar o produtor irregular, por isso, queremos também ajudá-lo a estar em conformidade, disponibilizando informações e orientação”, diz. Para o executivo, este é um caminho para incorporar ao mercado CNPJs e CPFs que ainda patinam em questões socioambientais.