Quando perguntado sobre como US$ 20 milhões (R$ 97,4 milhões na cotação atual) ajudariam a acelerar a produção dos drones de pulverização de cultivos de sua empresa, o fundador e CEO da Guardian Agriculture, Adam Bercu, não poupou palavras em entrevista exclusiva à Forbes: “Isso é combustível no tanque para impulsionar a produção.”
Sediada em Boston, a startup anunciou em junho que havia conseguido, de fato, os US$ 20 milhões em “combustível” na forma de um investimento da Série A de um grupo de investidores liderado pela Fall Line Capital, descrito por Bercu como “um maravilhoso sindicato de investidores”.
“Qualquer agricultor que esteja comprando um novo maquinário hoje pode lhe falar sobre problemas de confiabilidade, uma vez que a complexidade superou em muito o controle de qualidade”, afirmou Clay Mitchell, diretor executivo da Fall Line Capital. “A Guardian é a primeira empresa a desenvolver tecnologia de aplicação aérea não tripulada com engenharia e fabricação de qualidade aeronáutica, o que melhora significativamente a confiabilidade e o desempenho.”
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Fundada em 2017, a Guardian Agriculture produz o drone SC1 autônomo de decolagem e pouso vertical elétrico (eVTOL), que os agricultores podem utilizar para a aplicação aérea de inseticidas em suas plantações.
Cada SC1 tem 4,5 metros de largura, pesa aproximadamente 270 quilos quando completamente carregado e é alimentado por um pacote de bateria de 45 quilos. Tem capacidade para carregar 76 litros de pesticida, o que pode cobrir de 4 a 8 hectares, dependendo da taxa de aplicação e da velocidade do SC1, de acordo com Bercu.
“Portanto, nas taxas mais baixas, você consegue pulverizar algo em torno de 18 hectares em uma hora, e na taxa mais alta, está mais próximo de 8 hectares por hora”, disse Bercu, explicando: “Tudo se resume a aplicar o produto exato na área correta do terreno, no momento certo, para proteger todo o trabalho árduo dos agricultores”.
O SC1 foi projetado para realizar voos de três a cinco minutos, em seguida passando de dois a três minutos no solo para reabastecer seus tanques e recarregar sua bateria de alta densidade por meio de um supercarregador, um processo mais rápido do que a troca de baterias, explicou Bercu.
O executivo observa que, embora a Guardian possa produzir drones eficientes e eficazes, ela enfrenta concorrência de inúmeras empresas que operam outros tipos de máquinas para pulverização de cultivos.
“Nossa concorrência é ampla, de drones automatizados pequenos, em sua maioria chineses, à aviação tripulada. Mas, a maioria dos hectares ao redor do mundo é tratada por máquinas terrestres grandes e pesadas, que realmente causam estragos no meio ambiente”, disse Bercu.
O novo financiamento, vindo apenas dois meses após a Guardian obter a aprovação da FAA para operar em todo o país, não poderia ter chegado em melhor hora.
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“O dinheiro que entra é todo direcionado para nossa enorme carteira de vendas. Estamos projetando as vendas até 2025 e as contratações não estão dando conta da quantidade de pedidos”, disse Bercu. “Portanto, estamos investindo forte e rapidamente e aumentando nossa capacidade de fabricação em Boston. Acabamos de dobrar nosso espaço físico. Estamos trazendo máquinas, talentos e pessoas para a equipe.”
Nos próximos meses, a Guardian Agriculture iniciará operações comerciais para dar suporte aos clientes da Wilbur-Ellis, que opera a maior frota de pulverização de cultivos nos Estados Unidos.
“Os sistemas de proteção aérea de cultivos têm funcionado da mesma maneira por décadas”, afirmou Willie Negroni, vice-presidente de relações com fornecedores da Wilbur-Ellis. “Com a recente aprovação da FAA (Federal Aviation Administration), a Guardian Agriculture está em uma posição única para mudar o panorama da agricultura para melhor. Pela primeira vez, temos agora uma solução confiável, econômica e sustentável na forma do Guardian SC1. Estamos tão confiantes na tecnologia e na equipe da Guardian que não somos apenas clientes, mas também investidores.” A empresa anunciou que os pedidos de drones já somam US$ 100 milhões (R$ 487 milhões).
A segurança é abordada em duas frentes. Primeiro, evitando que os humanos sejam expostos a produtos químicos e, segundo, através de uma regulamentação mais rigorosa sobre a quantidade aplicada nos cultivos.
“Esses químicos que os produtores agrícolas vendem são muito fortes, por isso é importante ter responsabilidade. Para os operadores, não se trata apenas do poder do químico, mas também na forma como é utilizado. Não ter ninguém na aeronave é uma mudança de paradigmas, e ter a máquina tomando decisões rápidas durante o voo é realmente fundamental”, explicou Bercu. “Você pode, potencialmente, contaminar a produção, mas também usar uma quantidade insuficiente é ruim, pois pode gerar resistência. É como tomar metade dos seus antibióticos.”
Esses foram pontos que não passaram despercebidos pelos novos investidores da Guardian ao tomar a decisão de ajudar a financiar o crescimento da startup. Bercu passou anos trabalhando no negócio de aviação de sua família em Miami, época em que começou a estudar os potenciais perigos da pulverização de cultivos para os aplicadores de produtos químicos.
“Muitos dos pilotos que contratávamos iam para a América do Sul, no verão, para pulverizar bananas e geralmente voltavam muito felizes, ganhando muito dinheiro fazendo um trabalho de verdadeiros caubóis”, disse ele, “mas, infelizmente, também haviam acidentes fatais.”
Utilizando sua experiência e habilidades relacionadas a motores elétricos que desenvolveu enquanto conquistava várias competições na BattleBots – reality show americano de guerra entre robôs –, Bercu fundou a Guardian Agriculture em 2017 em Woburn, Massachusetts, posteriormente abrindo um escritório na Califórnia.
Agora, com milhões de dólares para impulsionar a expansão de sua empresa, Bercu está pronto para levar os drones para outro patamar e pronto para responder a uma grande pergunta: “Será que conseguiremos aproveitar essa incrível oportunidade que temos? Sinto que estamos diante de um grande desafio e precisamos enfrentá-lo”.
*Ed Garsten é colaborador na Forbes EUA e cobre a área de indústria automobilística e tecnologia desde 1989, primeiro como CNN Detroit Bureau Chief, depois como National Auto Writer para a Associated Press, redator sobre a General Motors no Detroit News e repórter de vídeo do Automotive News
(tradução: João Pedro Isola).