A startup norte-americana Galy fechou um acordo com a fabricante japonesa Suzuran Medical Inc. para utilizar o algodão cultivado em laboratório da startup em seus produtos. A Suzuran planeja utilizar 3 mil toneladas, por ano, das fibras de algodão “Literally Cotton” da Galy como parte de uma parceria de 10 anos. O valor do negócio é de US$ 50 milhões (R$ 244 milhões na cotação atual).
“Isso é grandioso”, afirma Luciano Bueno, fundador e CEO da Galy. “É a primeira vez que o algodão cultivado em laboratório entrará em qualquer mercado no mundo.”
A Suzuran usará a matéria-prima da startup – cultivada a partir de células, em vez de plantas – em produtos como algodão para fins cosméticos e lençóis, além de produtos como gaze e algodão absorvente para uso médico e de consumo, de acordo com Yasuhiro Kunieda, presidente da empresa. A companhia tem trabalhado com a Galy desde 2021, quando concluíram uma prova de conceito para a avaliação das fibras do algodão. A Galy foi fundada em 2019 como uma startup de agricultura celular.
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Para produzir o algodão da Galy, uma equipe seleciona amostras de uma planta e colhe suas células. As células são cultivadas em biorreatores ou tanques de fermentação em um processo de cultura celular semelhante ao da fabricação de cerveja. O produto final é seco e colhido, com um uso mínimo de água, terra e energia, de acordo com a startup.
Os 10 anos da parceria fechada começarão a ser contados quando a Galy inaugurar sua primeira unidade de produção em escala. O acordo foi estruturado em torno da compra, pela Suzuran, de quantidades definidas de Literally Cotton a um preço específico. A fibra produzida atenderá a todas as especificações da Suzuran, afirma Bueno.
De acordo com Kuineda, o mercado será monitorado. “Se tivermos sucesso, teremos um meio de adquirir matérias-primas que sejam menos suscetíveis às influências climáticas e ambientais, em quantidades estáveis e a preços estáveis”, disse o executivo. “A ideia é muito atraente para nós, se o mercado as aprovar como matérias-primas seguras.”
O presidente da Suzuran acrescenta que a empresa continuará a utilizar algodão cultivado, uma vez que pode haver problemas com a aceitação dos consumidores em relação à variedade de laboratório.
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“Acreditamos que a introdução dessa tecnologia no mercado ajudará a solucionar os problemas de impacto climático e trabalho infantil causados pelo cultivo de algodão (em países subdesenvolvidos). Também possui grande potencial do ponto de vista empresarial e vemos isso como uma inovação que mudará o conceito de produção dessa fibra.” Além de Boston, a Galy tem um escritório em São Paulo, no Brasil.
“Em relação às futuras instalações para a produção da fibra, nossa descoberta de produtos e sua expansão estão sendo desenvolvidas em paralelo, o que é muito importante para nós. Isso deve nos ajudar a entrar no mercado mais rapidamente”, acredita Bueno. “Estamos planejando entrar no mercado nos próximos anos. Só não quero dar uma data precisa para não criar expectativas equivocadas.”
O futuro do algodão
Por causa do aquecimento global, o futuro para a indústria tradicional do algodão é desafiador. Uma solução tem sido o desenvolvimento de plantas com maior tolerância ao calor e resistência à seca. O Cotton 2040, uma iniciativa para criar uma indústria do algodão mais sustentável e resiliente às mudanças climáticas, está reunindo marcas e varejistas internacionais líderes para lidar com essa questão.
A parceria com a Suzuran inspira a Galy a continuar avançando, afirma Bueno. A startup tem visto crescer o interesse em plantas cultivadas em laboratório e transformadas em uma variedade de produtos. Ele afirma que a tecnologia pode ser aplicada a quase tudo que é produzido por uma planta no campo, desde commodities até cultivos especiais.
“Estamos trabalhando em outros dois produtos – ainda em sigilo – e já conseguimos criar provas de conceito para ambos”, afirma Bueno. “Com nosso sucesso no desenvolvimento de produtos, fortalecendo a parceria com a Suzuran e o interesse da indústria em diversos produtos, estamos em um momento muito especial neste momento.”
*Jeff Kart é colaborador da Forbes EUA e mestre em estudos ambientais pela University of Illinois. (tradução: João Pedro Isola)