Vista de cima, a Bodega Jorge Rubio é uma colcha de retalhos de cores verdes. O argentino dono da vinícola, Jorge Rubio, nasceu e morreu a vida inteira em General Alvear, no sul de Mendoza. O sonho de menino era ser médico, mas a primeira formação profissional foi de engenharia agrícola. Depois, veio o diploma de enólogo. Quando Rubio entrou em uma adega, foi paixão à primeira vista.
Em 2003, aos 44 anos, decidiu comercializar vinho de marca própria, que leva o seu nome e traz uma particularidade na garrafa: o famoso rótulo de couro. Hoje, aos 64 anos, ele é um dos nomes de vinhos mais renomados do país.
“Sempre me chamou a atenção as calças jeans que traziam a marca em uma etiqueta de couro, então pensei. Por que não colocar em uma garrafa como rótulo? Colocamos e foi muito bem aceito pela maioria das pessoas, já que chamam o vinho pelo rótulo de couro e não pela marca”, diz Rubio.
Vinte anos depois
Desde então, 20 anos se passaram. E ele não para de se reinventar. Recentemente, o enólogo, que já cultivava 55 hectares, comprou outros 75 hectares que, segundo ele, oferece novas tendências da bebida, como o Pét-Nat Naranjo. A palavra vem de “pétillant naturel”, uma expressão francesa para “efervescente natural” ou “espumante natural”. É um método de vinificação com apenas uma fermentação. Confira a entrevista concedida à Forbes Argentina.
Forbes: Em tempos em que os consumidores procuram produtos mais leves e com menos álcool, sua marca decidiu se aventurar com um Pét-Nat?
Jorge Rubio: Decidimos fazer este Pét-Nat a partir de uvas Moscatel, mas com menos pressão e despejando para limpar as borras que tornam o produto amargo e turvo. Assim nasceu este Pet Nat Naranjo, da linha A Contramano, fresco, frutado e com baixo teor alcoólico.
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Produção de uvas ganha mais espaço
F: Entre as novidades deste vigésimo aniversário está a compra de uma nova área para plantio de uvas. Que tipos de vinhos pretende fazer?
JR: Antes de decidirmos comprar esta fazenda, passamos mais de um ano explorando a região sul da Argentina em busca de uma área de 50 a 70 hectares. Depois de muitas fazendas, decidimos comprar esses 75 hectares, que chamamos de Finca El Convento, pois nela havia uma construção que tinha a forma de um convento, havia até um sino que vamos recuperar na reforma.
Praticamente plantamos as variedades que utilizamos: Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Chardonnay, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e aquelas que não temos, como Semillón, Tannat, Ancellotta. Portanto, essas variedades serão utilizadas para linhas de alto padrão e exportação. Estes novos hectares serão certificados como biológicos.
Visão para novos mercados de vinhos
F: Quanto aos mercados externos como China, Dinamarca e Brasil, o que é que estes públicos fecham nos dias de hoje em termos de vinhos?
JR: Cada mercado é diferente, embora a porta de entrada seja sempre o Malbec. Você tem mercados maduros como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha e Dinamarca, que já têm suas preferências e geralmente giram em torno do Malbec e vão dos mais jovens aos mais complexos e envelhecidos.
Mercados jovens, como Brasil, México e Peru, também estão inclinados ao Malbec jovem e reserva, mas também se aventuram em outras variedades, como as uvas Cabernet Franc, Pinot Noir e Criollo. São mercados em crescimento e com grande potencial para os próximos anos.
Na China e em Taiwan, os consumidores gravitam em torno do Malbec de alta qualidade. Lá somos fortes nos nossos vinhos Gran Reserva e Íconos. Além disso, são grandes compradores de apresentações especiais, como garrafas magnum ou produtos colecionáveis.
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Sempre em busca de inovação
F: Como pode ser visto no seu portfólio, o sr. é um produtor inquieto: a vinícola também tem conhaques e fortificada para quê?
JR: Conhaque é algo que eu queria fazer desde o início, me chamou a atenção que esse tipo de destilado não era feito na Argentina. Assim que pude, comecei a fazer e desde o lançamento relatos de retornos muito bons. Embora seja um produto que não é massivo, ficamos muito felizes com as críticas que recebemos sobre ele. Fazemos os fortificados com o nosso álcool e envelhecemos em barricas. Você consegue um produto muito bom, mas não há muita rotação, não há costume na Argentina de bebês-los, como é o caso de Espanha, Portugal ou Reino Unido.
*Reportagem publicada por Andrea Albertano, Forbes Argentina.
(tradução e adaptação: Flávia Macedo)