Criado no estado norte-americano de Kentucky e com formação universitária em Rhode Island, John Bojanowski passou o último ano de faculdade estudando na Polônia. Isto ocorreu pouco antes da queda do muro que separava a Europa Oriental e Ocidental, no final da década de 1980.
Encantado com a experiência na Polônia, Bojanowski voltou para os EUA, concluiu a sua tese sobre teoria literária crítica e decidiu que queria expandir horizontes além de sua terra natal. “Eu disse: vou voltar para a Polônia”. Na época, uma das opções de renda era ensinar inglês, porém na Polônia pagava-se US$ 100 (R$ 510 na cotação atual) por mês, valor insuficiente para cobrir as contas. “Decidi então procurar uma empresa que precisasse de alguém para viajar ao Leste Europeu”. Ter morado na Polônia e com a queda do muro – que trouxe mais liberdade para transitar pela Europa –, o sonho de Bojanowski poderia se tornar realidade.
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Assim, ele começou a trabalhar para um fabricante de baterias de computadores onde permaneceu por cinco anos, morando em Paris. Foi nessa época que Bojanowski conheceu Nicole, hoje sua esposa. Nicole cresceu em Saint-Marcel-sur-Aude, na região de Languedoc, no sul da França. Ela trabalhava como gerente de exportação para uma cooperativa de vinhos, mas queria fazer seu próprio vinho e já sabia até qual seria o estilo: um grand vin rouge. Nicole já sabia também como seria o cultivo: plantação de uvas syrah e cabernet sauvignon em altitude, em solo de cascalho branco.
Ela também levou o namorado para visitar a pequena vila onde residia, em Saint-Jean-de-Minervois, no sul da França, uma minúscula comunidade na qual moram cerca de 150 pessoas. A beleza das vinhas e da paisagem conquistou Bojanowski. Isso aconteceu há 25 anos para ser exato, eles criaram o filho Sacha nesse local e é onde permanecem até hoje. Atualmente, cultivam 8,5 hectares com 18 variedades de uvas. Dessa produção saem as garrafas de vinhos com marca própria, batizada de Clos du Gravillas, que são comercializadas na França e nos EUA.
No início, a vinificação foi um desafio
Para criar o negócio, Nicole se formou em engenharia agrícola e gerenciou uma colheita de uvas na região de Borgonha, centro-oeste da França, enquanto Bojanowski aprendeu a dirigir um trator e trabalhou em outra produção no sul da França. Ele diz ter boas lembranças daquela época. “Compramos este lugar em 1996. Estávamos procurando uma casa que precisasse de reforma e que também tivesse cômodos externos”, disse Bojanowski. “Esta sala era uma cocheira e todo o resto estava em ruínas. Colocamos concreto no piso, trouxemos eletricidade e assim começou nossa vinícola”, conta ele ao mostrar a casa à reportagem da Forbes.
A estrutura para a fabricação de bebidas aos poucos foi se ajeitando. “Tínhamos dois tanques de fermentação. As uvas colhidas eram esmagadas em baldes de 90 litros. Depois os baldes eram levados até o balcão com um guincho, desses usados em construção civil, subia as escadas e na sequência eram armazenados nos tanques. Foi um trabalho muito intenso e que exigiu bastante esforço, mas funcionou”.
Na primeira colheita, o casal reduziu a quantidade de pés de uvas por hectare, o que diminuiu a produção. A mudança no manejo foi para modificar o período de maturação dos frutos e alterar a cor e os níveis de açúcar na bebida final. A atitude ousada despertou a curiosidade e a desconfiança de alguns viticultores locais. “No primeiro ano, quando estávamos derrubando as uvas, eles me disseram: Qual é o seu problema? Isso é dinheiro e você está jogando fora? Você está louco!”, disse Bojanowski.
Com o tempo, o número de tanques de fermentação cresceu. O gancho dos baldes foi substituído por equipamentos mais modernos e menos trabalhosos. Embora Bojanowski adorasse a prensa de rosca, ele finalmente concordou em substituí-la por uma prensa pneumática, depois que a antiga quebrou no meio da colheita, em uma das safras.
“Nós somos aquele casal que gosta de tentar várias possibilidades e, provavelmente, essa seja a nossa diferença em relação a outros produtores. Na faculdade, o meu carro tinha um adesivo que dizia ‘E se?’, isso resume nosso jeito de encarar a vida”, afirma Bojanowski.
As uvas estrelas da casa
“No início havia meio hectare de vinhas muito antigas de carignan, e a outra metade era grenache gris. As velhas carignan tinham a qualidade de serem uvas pretas, então pelo menos poderíamos fazer um pouco de vinho tinto enquanto plantávamos syrah e cabernet sauvignon e esperávamos até cinco anos para que essas uvas amadurecessem”, conta o produtor.
Já com as uvas grenaches gris, o casal teve que aprender como cultivá-las. “Visitamos fazendas e perguntamos como eles trabalhavam com esse tipo de uva”. A pesquisa de campo teve resultados. “Embora a maioria das pessoas nos conheça por causa das uvas carignan, o que nos deixou famosos e abriram as portas para sermos fornecedores dos restaurantes do guia Michelin, foram as grenaches gris”.
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O cultivo das uvas moscatel
Outra história pode ser contada para a uva moscatel. Quando o casal começou a produção não havia interesse em cultivar essa uva, mas os consumidores exigiram e eles mudaram de ideia. “As pessoas batiam na nossa porta nas manhãs de domingo perguntando se tínhamos moscatel. Acatamos o pedido e em 2001 já tínhamos 33,5 hectares de moscatel. Acabou sendo uma ideia muito boa. Foi muito interessante, tiramos vinhos mais encorpados, o que a gente nem imaginava”.
E quanto ao futuro? Depois de 25 safras, contando com a ajuda do filho Sacha, Nicole e Bojanowski não arriscam a prever o que vem pela frente. Mas eles dizem que se um dia venderem a vinha, o que não está nos planos, sabem que estão deixando um legado, que é ter elevado a qualidade, o status e a reputação dos vinhos de Saint-Jean-de-Minervois.
*Tom Mullen é colaborador da Forbes EUA e escreve sobre mercado, tendências e histórias sobre empreendedores.