A Alltech é uma empresa norte-americana, fundada em 1980 e com sede em Nicholasville, no estado de Kentucky, possui 80 fábricas no mundo, sendo cinco brasileiras, que produzem nutrição animal, incluindo suplementos e ração, biológicos para plantas e produtos da indústria alimentícia como café e cerveja. Em 2022, o faturamento foi de US$ 2,1 bilhões (R$ 10,40 bilhões na cotação atual), do qual o Brasil tem participação de 14% (R$ 1,4 bilhão). O grupo pretende ampliar os negócios no setor de aquicultura e está de olho no mercado brasileiro de ração para peixes.
Em entrevista à Forbes Brasil, durante sua visita anual ao país, o presidente e CEO global da Alltech, Mark Lyons, disse que pretende usar a expertise do grupo na produção de ração animal com base em leveduras sustentáveis para abocanhar uma fatia maior do mercado de cultivo de pescados.
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“O mercado da aquicultura cresce globalmente 5% ao ano, mas existe uma tendência de alta ainda maior para o Brasil nos próximos anos, prevista em 10%, ganhando espaço nas exportações. O consumidor está mais exigente e quer uma dieta com uma proteína saudável, mas quer que essa proteína tenha uma cadeia produtiva sustentável. Usando biotecnologia, o cultivo do peixe pode oferecer menos impacto ao meio ambiente. Por isso, esse setor é uma das principais áreas de foco do nosso negócio”, diz.
A projeção de Lyons se confirma com o Boletim da Aquicultura em Águas da União, do Ministério da Aquicultura, divulgado na última terça (01), que mostra que em 2022 o Brasil cresceu 25% na produção de pescados e frutos do mar, somando 119,4 mil toneladas com 91,7% da produção no sistema de tanques-redes. A tilápia foi a espécie mais cultivada representando 26,6% com 108,9 mil toneladas.
De acordo com o grupo, o mercado brasileiro de camarão e tilápia é de US$ 1,7 bilhão (R$ 8,42 bilhões), apoiado por uma indústria de ração que produz 1,4 milhão de toneladas de ração, movimentando US$ 600 milhões (R$ 2,9 bilhões), do qual a empresa tem participação de 10%, o que representa R$ 290 milhões. Os números já correspondem a 20% do faturamento total da Alltech Brasil (R$ 1,4 bilhão), mas a empresa quer mais.
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“A produção de ração para peixes, comparando com ração para outras proteínas animal, é o segmento que mais vem crescendo no Brasil. A projeção para 2023 é que possa aumentar em até dois dígitos a porcentagem de volume produzido. Desse total, a maior parcela é com as tilápias, mas outros peixes também são importantes como o pacu, além do camarão que está voltando a ter destaque no Brasil”, afirma Paulo Rigolin, vice-presidente LATAM da Alltech.
Mercado de ração na mira dos negócios
Em 2017 começou a negociação para a compra de uma nova marca que mudou o rumo do segmento de ração do grupo aqui no Brasil. A aquisição em 100% foi em 2019, onde a Alltech passou a ser a detentora da marca Guabi, uma empresa brasileira, fundada em 1974 e com nome inspirado no tupi guarani e que significa “alimento”. A Guabi já é líder no país em produção de ração para equinos e já tem uma boa fatia em ração para peixes.
Em 2022, 60% do faturamento (R$ 600 milhões) dos negócios brasileiros vieram das unidades de produção da Guabi, localizadas em Sales Oliveira (SP), Anápolis (GO), Além Paraíba (MG) e Pará de Minas (MG).
Um levantamento anual realizado pela própria Alltech, com dados da produção de 142 países em mais de 28 mil fábricas de ração, divulgado em janeiro deste ano, mostrou que em 2022 o mundo produziu 1,2 bilhão de toneladas de ração, considerando bovino, aves, suínos, peixes e pets.
O Brasil é o terceiro maior produtor de ração com 81,9 milhões de toneladas, com aumento de 0,87% em relação a 2021, atrás apenas dos EUA (240,4 milhões de toneladas, alta de 1,02%) e China, maior produtora global (260,7 milhões de toneladas, redução de 2,83%).
Contudo, olhando para um recorte do setor da aquicultura, apesar da China ter reduzido em 10% sua produção total de ração, aumentou 10% o volume de ração para peixes. Os EUA registraram alta na aquicultura de 2,18% e o Brasil cresceu 2,7% a quantidade de toneladas de ração destinadas ao cultivo de pescados.
Novas marcas e novas fábricas para impulsionar as vendas
Na última década, 25 novas empresas foram adquiridas pelo grupo para acoplar tecnologia genética, ganhar experiência no processo produtivo e conquistar novos mercados. Em fevereiro deste ano a Alltech Coppens, divisão global do grupo para ração de peixes, comprou em parceria com a Finnforel, empresa finlandesa de economia circular, a única fábrica de ração de peixe da Finlândia, a Raisioqua, que passou a se chamar Fenno Aqua Oy.
Os projetos de Lyons incluem trazer para o Brasil a experiência de produção de outras fábricas do grupo na Europa. “O objetivo é buscar abordagens mais inteligentes e sustentáveis para a aquicultura”, afirma. “Queremos expandir essa produção, mas em muitos países não tem a matéria-prima que precisamos, mas é um processo que sempre pode ser adequado”, diz Mark Lyons, CEO global da Alltech.
“Eu quero mudar a imagem do agronegócio brasileiro”
As operações comerciais da Alltech no Brasil começaram em 1993 e a primeira fábrica própria foi inaugurada em 2007, em São Pedro do Ivaí, que hoje é a maior fábrica de leveduras do mundo dedicada à agropecuária. E foi nessa época que Mark Lyons morou no Brasil, de 2004 a 2008, para finalizar o processo de construção da unidade e iniciar os negócios de biotecnologia para nutrição animal e de plantas.
Com a convivência mais próxima com os brasileiros e a possibilidade de conhecer de perto os sistemas produtivos da agropecuária do país, Lyons percebeu que a imagem que o mundo tem do agronegócio brasileiro precisa ser mudada. Ele faz uma comparação com o seu país de origem, a Irlanda, e que, segundo ele, tem a cultura de “contar histórias”, repassar os valores de geração para geração. Com isso, e também por se tratar de um país pequeno com 5 milhões de habitantes, o que torna mais eficiente a comunicação, é mais fácil espalhar as notícias, dentro do país, e depois fazer com o que o mundo conte a mesma história.
“A Irlanda é conhecida por ter uma produção de alimentos de qualidade, sustentável e com rastreabilidade, que são as exigências do consumidor atual. No entanto, quando venho para o Brasil vejo que aqui se faz tudo isso, mas o país não tem essa imagem lá fora. Eu quero mudar a imagem do agronegócio brasileiro”, afirma. “Aqui se preocupa muito em divulgar o volume de produção ao invés de construir valor agregado aos produtos. Por outro lado, o Brasil tem marcas de alimentos fortes para o consumidor final, não entendo porque não tem a mesma força na ponta inicial da cadeia, que é a produção no campo”.
Para ajudar a melhorar a imagem da produção agropecuária, não só no brasileira, mas mundial, Lyons está lançando, durante essa visita ao Brasil, o projeto da produção de um documentário intitulado “World Without Cows” (Mundo sem vacas), para responder a pergunta – “E se tivéssemos um mundo sem vacas” – levantada por diversas ONGS do mundo todo.
“É uma provocação para discutirmos, entre o nosso setor, como vamos nos comunicar melhor e para mostrarmos como são produzidos os alimentos. Um detalhe desse documentário é que ele terá uma linguagem acessível para o consumidor final. A equipe que está captando as entrevistas conta com dois jornalistas da Alltech, mas conta também com outras pessoas que não convivem no meio do agro, tudo isso para que a gente possa transmitir um conteúdo de um jeito que seja compreendido por toda a população”, diz Lyons.
O vídeo entrevistou pecuaristas, profissionais da área agropecuária e ciência ambiental e consumidores de 20 países, incluindo o Brasil, com visões diferentes para encontrar respostas ao tema. O audiovisual está em fase de edição e será lançado em 2024.