A festa do chocolate passa por Rondônia. Vem do estado os campeões do “Concurso Nacional de Cacau Especial do Brasil – Sustentabilidade e Qualidade”, realizado pelo quinto ano consecutivo. Os vencedores foram anunciados na noite desta sexta-feira (24), em Ilhéus, no sul da Bahia. O produtor Robson Tomaz de Castro Calandrelli, do Sítio Três Irmãos, no município de Nova União, a 370 quilômetros da capital Porto Velho, ficou em primeiro lugar na categoria mistura, quando o chocolate avaliado leva mais de uma variedade de cacau. Na categoria varietal, o chocolate feito de uma única variedade genética de cacau, o primeiro lugar ficou com o produtor Deoclides Pires da Silva, da Chácara Tiengo, do município de Jaru, herdeiro de uma lavoura de cacau plantada pelo pai nos anos 1970 e que também ficou em primeiro lugar no concurso de 2022.
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“Ninguém chega ao topo sozinho”, disse Silva, ao receber o prêmio e citar as ajudas recebidas, entre elas Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). “Temos recebido um apoio muito grande e estamos aqui pelo empenho deles por Rondônia.”
O produtor Calandrelli também destacou o apoio recebido dos dois organismos. “É a minha primeira participação neste concurso para mostrar não só o cacau do meu estado, mas do Brasil todo”, disse ele, alertando que “Rondônia está vindo forte não só na quantidade, mas na qualidade”.
Para o prêmio foram avaliadas 98 amostras originadas em seis estados, a maior parte em pequenos produtores da fruta, sendo o Amazonas e o Tocantins estreantes na disputa. Da primeira fase, 20 amostras de produtores de cacau no Pará, Bahia e Rondônia foram classificadas para as etapas finais da competição. Completam os seis estados, o Espírito Santo.
O concurso organizado pelo CIC (Centro de Inovação do Cacau), com o apoio da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), AIPC (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau) e da Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas)l tem o objetivo de incentivar a melhoria da qualidade e da sustentabilidade na produção de cacau no Brasil. O CIC foi criado em 2017 como uma iniciativa do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia, com laboratórios dedicados às avaliações físicas, químicas e sensoriais de amêndoas de cacau e chocolate.
“É a realização de um sonho”, diz Cristiano Villela, diretor científico do CIC. “Estamos há cinco anos na trajetória da qualidade e sustentabilidade do cacau brasileiro, e não estamos sozinhos. Tem muita gente nessa jornada.” Os prêmios desta edição foram de R$ 60 mil, divididos para os três primeiros lugares das duas categorias. Na mistura, os outros dois ganhadores foram os cacauicultores Francisco Pereira Cruz e João Rios de Sousa, ambos do município de Novo Repartimento (PA). Na categoria varietal, os ganhadores foram Leonardo Silva Vieira, de Medicilândia, também no Pará, e no terceiro posto a única mulher a subir no pódio, a produtora Marina Paraíso, de Ilhéus (BA).
Como são avaliadas as amêndoas do cacau
As fases de avaliação do concurso nacional de cacau especial incluem análise físico-química das amêndoas não-torradas e análise sensorial do cacau em forma de líquor (massa de cacau) feita por um júri técnico dentro do CIC. O trabalho é coordenado pela bióloga Adriana Reis, gerente de qualidade do CIC, doutora em biotecnologia de microrganismos e uma das maiores especialistas da fruta nos dias atuais.
Ela falou sobre suas percepções das amostras avaliadas, destacando o desafio dos produtores no enfrentamento de uma safra curta da fruta em 2023, por conta de condições climáticas adversas, principalmente nos estados da Bahia e Espírito Santo. Mas destacou o crescimento da representação das mulheres no concurso, que tem crescido. “Estamos sim vendo a força do feminino mas forte dentro da cadeia do cacau”, diz ela. “Por mais cacau mais cacau na vida do brasileiro e é isso que nos une”, comemorou Adriana durante a entrega dos prêmios.
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Para completar a avaliação, um júri externo formado por convidados especiais realiza uma avaliação às cegas do sabor do cacau na forma de chocolate 70%. Entre os avaliadores desta edição estão Marcos Palmeira, ator que volta a protagonizar a telenovela “Renascer”, filmada no sul da Bahia, o chef confeiteiro Lucas Corazza e o empresário Alexandre Costa, da Cacau Show. “Eventos como esse ajudam a colocar o Brasil no mapa do mundo do cacau e ajuda toda a indústria do chocolate”, diz Costa. “Não fiquei surpreso com a qualidade, porque conheço o que os produtores estão fazendo. Digo que estou muito feliz com o que vi nesta edição.”
O concurso também avalia o manejo produtivo das lavouras de cacau, com base no Currículo de Sustentabilidade do Cacau, documento que é referência de sustentabilidade para produtores da fruta, técnicos e instituições na busca pela melhoria contínua da produção atrelada à redução dos impactos negativos oriundos da atividade. No ato de inscrição, os produtores respondem a um questionário sobre produção sustentável e, na etapa final, recebem a visita de auditores em suas propriedades para verificar as informações declaradas.
“Os produtores precisam estar atentos ao seu enquadramento nos critérios de sustentabilidade definidos pelo currículo”, diz Villela. “Precisamos trabalhar a qualidade do nosso cacau, mas mantendo o foco em um modelo de produção sustentável. E, desta forma, contribuir para a melhoria da reputação do cacau brasileiro.” Atualmente, o CIC mantém uma equipe de 18 pessoas trabalhando com qualidade do cacau,