
Concurso escolhe os melhores produtores de cacau do Brasil, com destaque para Rondônia em 2023
A festa do chocolate passa por Rondônia. Vem do estado os campeões do “Concurso Nacional de Cacau Especial do Brasil – Sustentabilidade e Qualidade”, realizado pelo quinto ano consecutivo. Os vencedores foram anunciados na noite desta sexta-feira (24), em Ilhéus, no sul da Bahia. O produtor Robson Tomaz de Castro Calandrelli, do Sítio Três Irmãos, no município de Nova União, a 370 quilômetros da capital Porto Velho, ficou em primeiro lugar na categoria mistura, quando o chocolate avaliado leva mais de uma variedade de cacau. Na categoria varietal, o chocolate feito de uma única variedade genética de cacau, o primeiro lugar ficou com o produtor Deoclides Pires da Silva, da Chácara Tiengo, do município de Jaru, herdeiro de uma lavoura de cacau plantada pelo pai nos anos 1970 e que também ficou em primeiro lugar no concurso de 2022.
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“Ninguém chega ao topo sozinho”, disse Silva, ao receber o prêmio e citar as ajudas recebidas, entre elas Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). “Temos recebido um apoio muito grande e estamos aqui pelo empenho deles por Rondônia.”
O produtor Calandrelli também destacou o apoio recebido dos dois organismos. “É a minha primeira participação neste concurso para mostrar não só o cacau do meu estado, mas do Brasil todo”, disse ele, alertando que “Rondônia está vindo forte não só na quantidade, mas na qualidade”.

Deoclides Pires da Silva (no centro da foto com a placa do prêmio) com a equipe de Sebrae e Senar de Rondônia
Para o prêmio foram avaliadas 98 amostras originadas em seis estados, a maior parte em pequenos produtores da fruta, sendo o Amazonas e o Tocantins estreantes na disputa. Da primeira fase, 20 amostras de produtores de cacau no Pará, Bahia e Rondônia foram classificadas para as etapas finais da competição. Completam os seis estados, o Espírito Santo.
O concurso organizado pelo CIC (Centro de Inovação do Cacau), com o apoio da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), AIPC (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau) e da Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas)l tem o objetivo de incentivar a melhoria da qualidade e da sustentabilidade na produção de cacau no Brasil. O CIC foi criado em 2017 como uma iniciativa do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia, com laboratórios dedicados às avaliações físicas, químicas e sensoriais de amêndoas de cacau e chocolate.

Robson Calandrelli dizendo que Rondônia está vindo com quantidade e qualidade de cacau
“É a realização de um sonho”, diz Cristiano Villela, diretor científico do CIC. “Estamos há cinco anos na trajetória da qualidade e sustentabilidade do cacau brasileiro, e não estamos sozinhos. Tem muita gente nessa jornada.” Os prêmios desta edição foram de R$ 60 mil, divididos para os três primeiros lugares das duas categorias. Na mistura, os outros dois ganhadores foram os cacauicultores Francisco Pereira Cruz e João Rios de Sousa, ambos do município de Novo Repartimento (PA). Na categoria varietal, os ganhadores foram Leonardo Silva Vieira, de Medicilândia, também no Pará, e no terceiro posto a única mulher a subir no pódio, a produtora Marina Paraíso, de Ilhéus (BA).
Como são avaliadas as amêndoas do cacau
As fases de avaliação do concurso nacional de cacau especial incluem análise físico-química das amêndoas não-torradas e análise sensorial do cacau em forma de líquor (massa de cacau) feita por um júri técnico dentro do CIC. O trabalho é coordenado pela bióloga Adriana Reis, gerente de qualidade do CIC, doutora em biotecnologia de microrganismos e uma das maiores especialistas da fruta nos dias atuais.
Ela falou sobre suas percepções das amostras avaliadas, destacando o desafio dos produtores no enfrentamento de uma safra curta da fruta em 2023, por conta de condições climáticas adversas, principalmente nos estados da Bahia e Espírito Santo. Mas destacou o crescimento da representação das mulheres no concurso, que tem crescido. “Estamos sim vendo a força do feminino mas forte dentro da cadeia do cacau”, diz ela. “Por mais cacau mais cacau na vida do brasileiro e é isso que nos une”, comemorou Adriana durante a entrega dos prêmios.
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Para completar a avaliação, um júri externo formado por convidados especiais realiza uma avaliação às cegas do sabor do cacau na forma de chocolate 70%. Entre os avaliadores desta edição estão Marcos Palmeira, ator que volta a protagonizar a telenovela “Renascer”, filmada no sul da Bahia, o chef confeiteiro Lucas Corazza e o empresário Alexandre Costa, da Cacau Show. “Eventos como esse ajudam a colocar o Brasil no mapa do mundo do cacau e ajuda toda a indústria do chocolate”, diz Costa. “Não fiquei surpreso com a qualidade, porque conheço o que os produtores estão fazendo. Digo que estou muito feliz com o que vi nesta edição.”
O concurso também avalia o manejo produtivo das lavouras de cacau, com base no Currículo de Sustentabilidade do Cacau, documento que é referência de sustentabilidade para produtores da fruta, técnicos e instituições na busca pela melhoria contínua da produção atrelada à redução dos impactos negativos oriundos da atividade. No ato de inscrição, os produtores respondem a um questionário sobre produção sustentável e, na etapa final, recebem a visita de auditores em suas propriedades para verificar as informações declaradas.
“Os produtores precisam estar atentos ao seu enquadramento nos critérios de sustentabilidade definidos pelo currículo”, diz Villela. “Precisamos trabalhar a qualidade do nosso cacau, mas mantendo o foco em um modelo de produção sustentável. E, desta forma, contribuir para a melhoria da reputação do cacau brasileiro.” Atualmente, o CIC mantém uma equipe de 18 pessoas trabalhando com qualidade do cacau,