O método de produção é clássico, a partir de uvas chardonnay adaptadas ao escuro, com apenas duas mil garrafas por safra, desenvolvido na fronteira entre a Eslovênia e a Áustria pela vinícola Radgonske Gorice, que tem 170 anos de história às margens do rio Mura. Não por acaso, o espumante é chamado de Untouched by light (Intocado pela luz) e já se tornou um símbolo de status sem igual para os amantes de vinho.
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O custo está longe de ser proibitivo, comparativamente a outras bebidas super luxuosas: bastam cem euros (R$ 584, na cotação atual) para ingressar no restrito círculo de quem já provou algo nunca tocado pelos raios solares ou nem mesmo pela luz elétrica durante o seu ciclo de vida.
Para se ter uma ideia de como se chega à criação desse espumante, basta saber que todos os processos de produção são realizados na ausência de luz, a partir da colheita. Isso acontece na região de Gornjia Radgona, em noites escuras, e é feito manualmente com óculos de visão noturna.
A produção do “Untouched by light”
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ForbesItalia Todo o processo interno de produção é sem luz
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ForbesItalia As garrafas saem da vinícola dentro de sacos totalmente vedados à luz
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ForbesItalia A recomendação também é tomar a bebida em completa escuridão
Na vinícola, quando os cachos das uvas chardonnay são transportados, as luzes ficam apagadas no caminho que dá acesso à centenária adega – localizada em uma antiga pedreira de gelo, também completamente imersa na escuridão – onde o espumante envelhece três anos em garrafas pretas à prova de luz.
Os óculos com visão noturna são úteis para todas as operações na adega, como a remuage (rotação gradual das garrafas). Isso vale também para a embalagem, que ocorre em sacos pretos selados a vácuo.
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No comércio, copos da mesma cor são vendidos junto com as garrafas de Untouched by light – ça va sans dire, ou seja, o conselho é servir e provar o “Intocado pela luz” totalmente no escuro, aguçando o olfato e o paladar.
Truque de marketing? Talvez a estratégia da Radgonske Gorice pareça ser apenas um apelo comercial, mas a escuridão exerce de fato um efeito diferente sobre as bolhas dos espumantes, coisa que os raios solares não fazem.
Segundo o estudo científico que convenceu Borut Cvetkovič, o CEO da vinícola eslovena, a dar início ao projeto, a exposição das uvas à luz (“lightstrike”, nas palavras dele) transforma aminoácidos em compostos odoríferos, como o dissulfureto de dimetilo, que pode alterar as características dos vinhos, especialmente quando são armazenados em garrafas transparentes.
Daí a escolha da vinícola por utilizar um recipiente especial que filtra 99% da luz, contra 70% do vidro verde mais utilizado.
Em 1989, Ann C. Noble, química da Universidade da Califórnia, nos EUA, publicou um estudo sensorial controverso sobre essa questão no American Journal of Enology and Viticulture, chamado “Sensory study of the effect of fluorescent light on a sparkling wine and its base wine”, ou na tradução “Estudo sensorial do efeito da luz fluorescente num vinho espumante e no seu vinho base”, considerando essa condição. De acordo com Noble, a exposição do vinho à luz gera de fato os chamados aromas iluminados.
*Marco Gemelli é colaborador da Forbes Itália. Foi editor do Il Giornale della Toscana e do Speciale Pitti Uomo. É membro da World Gourmet Society e presidente do comitê Italian Chef Charity Night