Todos os anos, mais de 40 mil profissionais do vinho se reúnem na França para o Wine Paris ou Vinexpo, o principal evento da Vinexposium, uma plataforma de eventos globais do mercado de bebidas com escritórios enm Bordeaux e Paris. Segundo Rodolphe Lameyse, CEO da marca, é onde se decide quais rótulos da bebida vão parar nas prateleiras dos supermercados, nas adegas, nas cartas de vinhos de muitos restaurantes e outros locais de venda.
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“Embora o Vinexpo seja um evento B2B, onde produtores, distribuidores, varejistas e representantes do setor de vinhos e espumantes fecham negócios, tudo o que acontece na feira é, na verdade, para benefício do consumidor final”, disse Lameyse em entrevista à Forbes. “É aqui que são selecionadas as bebidas com mais chances de acabar em uma gôndola de qualquer parte do mundo.”
O sucesso da Vinexposium é baseado na realização de vários eventos anuais com a insígnia Vinexpo, em diversos países. A mais recente mostra europeia aconteceu na capital francesa, em fevereiro. Nos EUA, a próxima será em Nova York, de 24 a 25 de junho, seguida por Miami no ano que vem.
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Na Ásia, o evento alterna-se entre Hong Kong – o mais recente, em maio de 2024 – e Singapura, no mesmo mês. O território Chinês recebeu 1.032 produtores de 35 países, com destaque para expositores franceses e australianos. No total, foram 14 mil participantes de 60 países, com 4,2 mil reuniões e encontros de negócios.
Na Índia, lançada em 2021, a Vinexpo será realizada em Mumbai em meados de setembro. “Somos uma organização verdadeiramente internacional e crescemos juntos com a indústria”, afirma Lameyse.
O administrador parisiense de 46 anos pontua que não somente o emblema Vinexpo evoluiu ao longo dos anos (o nome da empresa foi alterado para Vinexposium em 2021, quando se fundiu com outra organizadora de eventos em Paris, a Comexposium), mas também o setor do vinho mudou radicalmente. Lameyse costuma fazer alguns insights fascinantes que explicam como as novas tendências de consumo impactam o comércio de vinhos, enquanto uma nova visão para o futuro do negócio vem sendo moldada.
O mercado antes do e-commerce
Fundada em 1981 em Bordeaux, a missão da Vinexpo é obviamente desenvolver o mercado de bebidas. “Naquela época, ainda não existia o comércio eletrônico”, conta Lameyse. “Mas em 1982, Robert Parker (o célebre crítico de vinhos de Baltimore, Maryland, nos EUA) publicou suas primeiras anotações e havia um entusiasmo crescente com a indústria. Os profissionais se reuniam todos anos para compartilhar informações, degustar a bebida e participar de rodas de conversa.”
Hoje em dia, a missão da Vinexposium continua a mesma, porém o tom da conversa mudou: “A beleza da Vinexpo é testemunharmos o que há de relevante no universo vitivinícola. Os diálogos mais recentes estão centrados no impacto que as mudanças climáticas causam nos vinhedos, entre outros assuntos como a ascensão de novas regiões produtoras, mudanças nas taxas de consumo e os estilos de vinho mais populares do momento.”
Lameyse explica que as trocas entre compradores de vinho e vinícolas realmente trazem mudanças para o modo como a vinificação é feita. “Por exemplo, há alguns anos as vinícolas de Bordeaux receberam um feedback de compradores alegando que seus vinhos eram muito tânicos, então elas tiveram que adaptar a fermentação ao paladar do consumidor.”
Segundo ele, os debates realizados durante as edições da Vinexpo costumam se concentrar no que é atual e mais importante para a agroindústria. “Este ano, tivemos uma master class intitulada ‘O vinho ainda é legal?’ e sessões educativas sobre como a redução no peso das garrafas de vidro pode diminuir a pegada de carbono.”
Mudanças nas regulamentações e questões políticas também são um tema central. “Ao longo dos anos, temos testemunhado muitas disputas políticas, como as sanções da China contra o vinho australiano e as dos EUA para os vinhos francês e espanhol”, afirmou Lameyse. “Antes, as crises aconteciam uma vez a cada dez anos, mas agora parece que há uma ou duas novas crises por ano.”
Expansão global da mostra
Após a fusão em 2021, a equipe executiva da Vinexposium decidiu transferir o principal evento anual de Bordeaux para Paris. “Foi uma escolha difícil, visto que 60% dos participantes são franceses e muitos deles de Bordeaux”, afirma Lameyse. “Mas precisávamos de um local neutro, e Paris fica a apenas duas ou três horas de trem de muitas regiões vinícolas francesas. Também decidimos mudar o calendário de junho para fevereiro.”
Segundo o executivo, valeu a pena, porque a Vinexposium conseguiu duplicar suas receitas entre 2020 e 2024, com 41 mil pessoas no Wine Paris de fevereiro. Dado que 90% das receitas são geradas no aluguel de estandes, quanto mais participantes, melhor.
A Vinexpo Hong Kong foi criada em 1998, sendo expandida para Cingapura, em anos alternados, à época da pandemia da Covid-19. “Depois da pandemia, entendemos que era necessário um novo local no sudeste da Ásia, e Cingapura é de fácil acesso para muitas pessoas”, disse ele.
Já a Vinexpo New York é realizada desde 2018 para atender o mercado norte-americano e vinícolas, além de compradores da América do Sul. A decisão de estabelecer uma Vinexpo Índia surgiu depois de uma análise de Pestle (avaliação de fatores políticos, econômicos e sociais, entre outros, dentro de uma empresa), de acordo com Lameyse. “O crescimento da população indiana, junto com seu crescente interesse por vinhos e espumantes, torna o país um lugar ideal.”
*Liz Thach, colaboradora da Forbes EUA, preside o Wine Market Council, órgão sem fins lucrativos. Ela é pesquisadora sobre vinho e também professora, escritora e consultora do mercado vitivinicultor na Califórnia.