O Brasil trilhou até aqui uma jornada de alta competitividade agrícola e pecuária, e avança a passos largos. O país estabeleceu duas safras de grãos e avançou para uma terceira safra em várias regiões do país. Mas existe ainda uma quarta safra que está iniciando, e que deverá ser explorada cada vez mais e com muita intensidade. É a safra dos créditos de carbono.
A capacidade de utilizar fatores climáticos, solo, conhecimento, gestão e pessoas na agricultura sustentável, traz ao Brasil uma oportunidade de se tornar em breve o maior produtor da quarta safra o “crédito carbono”.
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Entendemos que o Crédito de Carbono será a nova moeda internacional que financiará a transformação econômica de uma economia baseada em energia e materiais fósseis para uma bioeconomia sustentável.
A Europa já definiu seu procedimento incluindo as transições nas exportações e importações. Os EUA estão preparando o seu mercado de carbono regulando de maneira distinta.
O Brasil e a América Latina ainda não definiram sua legislação a respeito do tema, sendo muito relevante entender os princípios que irão regulamentar estes mercados e quais serão as transações possíveis entre os países. O mercado se divide entre o regulado e o voluntário.
No caso das economias dos trópicos, além de se referenciar a emissão de carbono e suas compensações (lado passivo da balança), os trópicos ainda possuem partes ativas, que reduzem a temperatura do mundo (lado ativo da balança), que não está sendo contemplados no debate, e precisa ser endereçado pelo Anexo 6 das negociações climáticas.
Os maiores emissores de carbono são aqueles que se utilizam de elementos fósseis para geração de energia elétrica, mobilidade, calefação e indústria intensiva em energia. Seguem deste reconhecimento as medidas de mitigação, como energias renováveis, materiais renováveis, processos novos, transformação tecnológica e transferências de indústrias para localidades de melhores condições de operação. Já na agricultura, existem por região climática diferentes soluções.
A saber, o solo tem uma forte influência em relação ao carbono. Há consenso científico de que os ecossistemas terrestres têm grande importância no ciclo do carbono e de que o solo é tido como seu maior reservatório. O sequestro do carbono no solo depende de fatores como a cobertura vegetal, práticas de manejo e classes de solo.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o solo armazena aproximadamente quatro vezes mais carbono que a biomassa vegetal e três vezes mais que a atmosfera, tendo assim grande importância no ciclo biogeoquímico do carbono.
As terras agrícolas globais têm o potencial de sequestrar até 570 milhões de toneladas métricas de carbono por ano. Novos projetos que paguem aos agricultores para adotarem práticas amigas do clima poderiam ajudar.
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A nova agenda dos trópicos, para a redução da temperatura global, advém do reconhecimento do poder fotossintético destas regiões que são três vezes maiores que nas regiões temperadas. Nos trópicos, as florestas nativas não representam o pulmão do mundo, pois estão em equilíbrio entre a emissão de oxigênio, carbono e metano, mas por exercerem fotossíntese o ano todo, são grandes refrigeradores.
As florestas plantadas, depois colhidas e transformadas em produtos, além de capturarem carbono, são absorvedores de calor pela fotossíntese. Assim também os plantios adicionais ou plantios em pastos degradados, significam que a fotossíntese, ao ser comparada com o baseline da pastagem, gera uma adicionalidade na absorção da temperatura. Estes temas, sim, serão objetos dos países tropicais para formarem um conceito científico comum a ser alocado na parte ativa do balanço climático.
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A quarta safra será uma realidade, e o Brasil tem a grande oportunidade de trazer ao debate internacional suas concepções e sugestões enquanto estiver na liderança do G20, BRICS e na COP30. Estes fóruns são a oportunidade de demonstrar as contribuições não só do Brasil, mas de um mundo tropical ainda desconhecido a ser descoberto.
*Nina Plöger é empresária do setor de reflorestamento, cultiva café sustentável. Nina é formada em administração e pós-graduada em economia e em governança e compliance. Integra o Comitê Sustentabilidade da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), é membro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da FIESP; do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL) e do Movimento Empresarial pela Inovação (MEI), da CNI.
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