“Minhas expectativas para a COP29 são baixas”, diz o holandês Arnoud Hameleers, diretor de país do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) no Brasil, comunidade internacional criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para canalizar investimentos a pequenos agricultores e financiar o desenvolvimento rural. Por isso, o especialista em sistemas agrícolas começa, desde já, a apostar suas fichas na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), evento que o Brasil vai sediar em 2025. “Espero que o Brasil desempenhe o seu papel.” No país, o FIDA possui projetos de promoção de sistemas alimentares, combate à pobreza e incentivo aos pequenos produtores rurais. Eles são 4,1 milhões, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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Hameleers assumiu o posto em julho no Brasil, depois de passar por países como Bangladesh, Paquistão, Bolívia e Honduras. O executivo tem conversado com o governo federal e participado de fóruns globais importantes, como a recente COP da Biodiversidade, que terminou em 1 de novembro, em Cali, na Colômbia. Em entrevista exclusiva à Forbes, logo após a COP, ele falou sobre o papel dos pequenos produtores, tecnologias e financiamentos. Destacou, também, que o momento geopolítico atual não é o melhor para discutir questões climáticas, justamente na Conferência do Clima que começou na segunda (11), em Baku,no Azerbaijão, e vai até 22 de novembro. “Esse não é o ambiente para uma discussão. O que está acontecendo no mundo – eleições, guerras, conflitos –, cria o ambiente inadequado”. Embora na última semana, o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) da União Europeia divulgou uma previsão preocupante: 2024 será o primeiro ano em que o planeta estará acima de 1,5ºC mais quente do que no período pré-industrial de 1850-1900.
“Estamos caminhando para um ponto crítico, onde danos permanentes estão sendo causados ao nosso ecossistema. Precisamos começar a melhorar os mecanismos e a forma como funciona o Fundo Verde para o Clima (GCF) “. O GCF, criado na COP16, de 2010, no México, busca mobilizar recursos para investir em desenvolvimento de baixa emissão e resiliente ao clima do planeta.
Para Hameleers, que é Ph.D. em Sistemas Agrícolas na Universidade de Glasgow, na Escócia, um dos caminhos é centrar esforços em dois pontos: biodiversidade e sistemas liderados por pequenos produtores. Porque eles têm demandas e desafios diferentes dos que enfrentam os grandes produtores de alimentos e suas corporações, um setor que não está fora da solução – é preciso ficar claro.
O especialista lembra que os povos indígenas, junto aos produtores, são fundamentais para tornar os sistemas agrícolas mais resilientes e preservar a biodiversidade. O último Censo Agro feito pelo IBGE, em 2017, apontou que dos 5,1 milhões de produtores do Brasil, 1,12% se declaram indígenas e que se concentram, em sua maioria, nas regiões Norte (5,0%) e Centro-Oeste (1,29%), com destaque para Roraima (33,63%) e Mato Grosso do Sul (4,52%).
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“Para reduzir riscos climáticos, precisamos de biodiversidade. E se não começarmos a incorporar isso nos sistemas de produção, não seremos capazes de lidar com todas as alterações que as mudanças climáticas vão causar”, afirma. “A biodiversidade surge aí. Os pequenos produtores rurais são importantes para estabilizar o processo de mudança climática, porque eles têm sistemas de produção muito diversos, e isso é uma estratégia que os torna estáveis”.
Porém, sistemas mais diversificados também exigem investimento em tecnologia, pilar que, segundo Hameleers, ainda precisa de mais atenção. “Apenas 3 ou 4% de todo o recurso climático vai para os pequenos produtores. Desta forma, a tecnologia ‘barata’ sequer chega ao pequeno produtor”.
Ele reforça que esses temas precisam ser discutidos não somente nesta, mas na COP 30. Entretanto, o especialista diz que não é preciso esperar até 2025 para ver a atuação do Brasil na questão climática. Em outubro, os países membros do G20, cúpula formada por líderes de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo — incluindo o Brasil — mais a União Africana e União Europeia, firmaram o compromisso de promover instrumentos e medidas para acelerar e ampliar os fluxos financeiros destinados às ações climáticas e incentivar a transformação ecológica.
“O G20 está preparando o terreno para a COP do ano que vem. Vai ser uma grande oportunidade para o Brasil apresentar um trabalho brilhante”, afirma Hameleers. A reunião oficial da cúpula acontecerá no Brasil pela primeira vez, entre os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.