“Você tem fogo no estômago. Nunca deixe isso morrer”, é o que dizia o pai de Nishant Sinha, empreendedor indiano e dono de quatro diferentes negócios alimentares. Antes de consolidar suas marcas Roastery Coffee House, de café especial, a Colocal, de chocolates artesanais, a PS Cheese, de queijos e a de comida rústica, Athyeka, Sinha enfrentou diversos desafios. O primeiro deles veio em 2006, quando tentava concluir um curso de gestão hoteleira em Jodhpur, Rajasthan, zona rural do país.
Três anos depois, após inúmeras tentativas de se inserir neste mercado, Sinha conseguiu um emprego no Café Coffee Day, rede de cafeterias indianas, na unidade do aeroporto de Delhi. “Me apaixonei por café. Se tornou minha vida”, diz Sinha, que, após um ano, se mudou para Hyderabad, no sul do país, e passou a trabalhar para a concorrente italiana, Lavazza.
Leia também
A influência da marca italiana refinou as habilidades do iniciante. “Aprendi a arte de torrefação, dominei a ciência por trás das operações nos bastidores e desenvolvi uma grande rede de produtores rurais”, conta ele. Na década seguinte, Sinha passou por empresas como HUL, Metro Cash & Carry, além de atuar como consultor independente para várias pequenas redes de cafés em Hyderabad.
Durante esse período, ele percebeu um problema comum. “Os cafés estavam focando na ambientação e no cardápio de comida. O café não era o protagonista, mas um coadjuvante”, conta. Esse foi o pensamento que o levou a fundar a Roastery Coffee House, uma marca de café especial, em 2017.
“Eu não queria criar uma marca de café comum e sem originalidade”, diz ele, acrescentando que a ideia da Roastery era oferecer cafés de origem única, vindos das melhores fazendas do país, criar uma comunidade de apreciadores e indianizar a arte de preparar e servir a bebida.
“A marca é indiana no visual, no sabor e na essência. Queríamos ser conhecidos por servir café especial de origem única. Não temos arquitetura inspiradas em culturas estrangeiras.” A Índia é o país mais populoso do mundo, com 1,441 bilhão de pessoas, com estimativa de 1,668 bilhão em 2050. Sete anos após o início da empreitada, a Roastery cresceu na Índia.
A marca, que já começou de forma independente e lucrativa, tem registrado um ritmo acelerado de crescimento. A receita saltou de 26 crores em 2022 (R$ 1,8 milhão na cotação atual) para 75 crores (R$ 5,3 milhões) em 2024. No mesmo intervalo, a Roastery abriu cinco lojas em seis cidades.
No mês passado, em novembro, Sinha inaugurou mais três unidades. “A oportunidade para nós é enorme”, diz ele, ressaltando que, com 0,07 kg, o consumo per capita de café na Índia está entre os mais baixos do mundo. Na Finlândia, diz ele, esse número chega a quase 12 kg. “A história do café na Índia está apenas começando”.
Não por acaso, recentemente, a empresa abriu uma unidade em Helsinque, na Finlândia, tornando-se a primeira marca indiana de café a entrar no mercado europeu. Analistas da indústria estão impressionados com a trajetória de crescimento da Roastery. “A marca oferece aos entusiastas de café a oportunidade de saborear bebidas excepcionais, seja em suas cafeterias ou em pacotes para o varejo. Como uma oferta de alto nível, a marca mira em uma experiência de café mais íntima e refinada”, afirma KS Narayanan, especialista em alimentos e bebidas.
Para Narayanan, a aposta de Sinha surgiu no momento certo, quando o consumo de café — e principalmente de café especial — estava em ascensão na Índia. “Existe um mercado em rápido crescimento para grãos especiais, impulsionado por uma série de tendências: aumento do consumo de café, crescente urbanização, maior circulação global e o impacto das redes sociais”.
Ele diz, ainda, que “à medida que mais consumidores buscam experiências premium e gourmet, há uma demanda por cafés de alto nível que vão além do básico e focam na sustentabilidade e comércio justo e conexão com as origens do café”.
A jornada empreendedora de Sinha está só começando. Agora, ele está desenvolvendo uma série de marcas com sua esposa, Sheetal Saxena. Ex-bancária, ela se interessou pelo processo de fabricação de chocolate após seu casamento em 2018 e co-fundou a marca de chocolates artesanais Colocal em 2020. O casal também tem uma marca de queijos artesanais, a PS Cheese, e outra de comida rústica do sul da Índia chamada ‘Athyeka’.
Juntos, os negócios de alimentos e bebidas do casal agora geram uma receita de 100 crores (R$ 68,2 milhões). “Sempre quis começar meu próprio negócio, e os chocolates surgiram no momento certo da minha vida”, diz a chocolateira, que inaugurou a loja principal da Colocal em Delhi em novembro de 2020.
“A Colocal é a primeira fábrica de chocolate tree to bar, do grão à barra, da Índia”, afirma, acrescentando que a marca foi criada para levar os produtores de cacau indianos ao palco mundial e redefinir a experiência do chocolate indulgente. A marca utiliza cacau proveniente dos estados do sul da Índia.
Apesar dos quatro negócios consolidados, Sinha e Sheetal acreditam ter apetite para mais. Globalmente, assim como na Índia, ele observa que há exemplos de como famílias empresariais construíram impérios diversificados e vastos de marcas. “A chave é ter fogo no estômago. Eu ainda tenho, e vou crescer enquanto ele continuar queimando”, diz ele. “Estamos escrevendo uma história da Índia, e será uma história poderosa”.