O Grupo Los Grobo, uma das maiores empresas do agronegócio na Argentina, com sede em Carlos Casares, na província de Buenos Aires, tenta encontrar uma saída para o momento complexo que enfrenta.
Com as subsidiárias Agrofinia — voltada para a produção e distribuição de defensivos agrícolas — e a Los Grobo Agropecuaria — dedicada a produção e comercialização de grãos — já formalmente em processo de recuperação judicial, e após acumular uma dívida consolidada de pouco mais de US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão), a empresa sabe que não voltará a ser o que um dia foi.
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A situação da companhia — segundo os caminhos que estão sendo analisados internamente — será resolvida de duas formas, e ambas terminarão do mesmo modo. Se tudo ocorrer conforme o planejado, novos acionistas entrarão e as empresas passarão a operar separadamente.
O primeiro passo é fazer as empresas voltarem a girar a engrenagem. E para isso, há apenas uma solução: recuperar a confiança dos acionistas, que deverá se traduzir na assinatura de acordos comerciais com fornecedores que tenham disposição e interesse em ajudar a empresa a se reerguer.
Superada essa fase, esses “parceiros” deverão fornecer insumos — matérias-primas, no caso da Agrofinia, e sementes e comercialização, entre outros, no caso da Los Grobo — para que toda a operação possa ser retomada.
No entanto, internamente, há consciência de que o tempo não está a favor. Quanto mais demorado for o processo de reestruturação, mais complexa será a situação. A meta é que, no prazo máximo de três meses, a empresa já esteja operando novamente.
De acordo com o plano da companhia, com as operações retomadas, será a hora de iniciar a segunda etapa: a entrada de novos acionistas, e muito possivelmente alguns deles serão os mesmos que terão ajudado por meio dos acordos comerciais.
Segundo apuração da Forbes Argentina, os executivos do Grupo Los Grobo já comunicaram esse plano aos fornecedores atuais e afirmam que, com base nas respostas recebidas, estão otimistas quanto à possibilidade de um acordo no futuro.
No âmbito financeiro e jurídico, as dívidas seguirão o processo de recuperação judicial. A depender do caso, alguns interessados que participarem do processo poderão optar por capitalizar as dívidas.
Com essa etapa concluída, Agrofinia e Los Grobo Agropecuaria seguirão caminhos distintos. “Quem estiver no negócio de agroquímicos não terá interesse no de sementes, e vice-versa”, afirmam fontes consultadas.
A análise que a empresa faz sobre sua situação é um dos pilares sobre os quais as expectativas se sustentam, indo além dos aspectos estritamente financeiros.
A companhia acredita que, para potenciais novos acionistas, o investimento pode representar uma boa oportunidade de crescimento, especialmente pelo nível de ativos que possui. Entre eles, destacam-se a planta de processamento da Agrofinia em Zárate, cidade localizada na província de Buenos Aires, seu laboratório modelo, além das 18 unidades de armazenamento, 27 depósitos e 36 filiais da Los Grobo.
A crise estourou
Nos bastidores da empresa, a percepção é de que a crise financeira atual surgiu de um momento para outro. “Tudo explodiu de repente”, afirmam. A referência é ao fato de que os acionistas — Victoria Capital Partners (VCP), o grupo de investimentos de private equity voltado para a América do Sul, controla 90% do capital da empresa, enquanto os irmãos Gustavo e Matilde Grobocopatel detêm os 10% restantes — esperavam uma injeção de capital entre março e abril, algo que nunca aconteceu.
Naquele momento, o nível de endividamento da empresa já havia ultrapassado US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão na cotação atual), um valor que escapava do controle dos acionistas. No setor, há o entendimento de que essa situação não surpreende, dado que é comum no agronegócio assumir dívidas acima da capacidade operacional.
Esse foi se acumulando ao longo dos últimos anos, mas a prática — como em muitas outras empresas do agro — era rolar a dívida constantemente, sempre com a expectativa de uma futura capitalização. A situação se agravou ainda mais quando o prazo esperado chegou e nada aconteceu.
E, em meio a essa gestão financeira, Los Grobo entende que o que aconteceu com outra empresa do setor, a Surcos — empresa argentina de capital nacional que desenvolve, produz e comercializa insumos para o setor agrícola — foi um fator decisivo. Em dezembro de 2024, a companhia entrou em recuperação judicial. Embora sua dívida bancária não fosse tão alta, a empresa teve 61 cheques rejeitados, somando mais de 600 milhões de pesos (R$ 3,4 bilhões).
Para Los Grobo, esse foi o estopim para o setor financeiro perder a confiança no agronegócio, deixando-o sem acesso a crédito. “Quando a Surcos deu calote, ficou muito difícil renovar os títulos de crédito. Foi uma tempestade perfeita. O negócio ia bem”, dizem fontes da empresa.
Além disso, a crise já vinha sendo pressionada por dificuldades enfrentadas por outras companhias do setor, como as avícolas Cresta Roja e Granja Tres Arroyos, e agora também pela SanCor, mais uma empresa agropecuária que entrou em recuperação judicial.
Os números
Dos US$ 800 milhões (R$ 4,5 bilhões) de faturamento da Los Grobo, cerca de US$ 130 milhões (R$ 741 milhões) correspondiam à Agrofinia, enquanto outros US$ 130 milhões (R$ 741 milhões) vinham da distribuição de insumos da Los Grobo Agropecuaria.
Outros US$ 20 milhões (R$ 114 milhões) eram gerados pela produção de grãos. O restante — cerca de US$ 520 milhões (R$ 2,9 bilhões) — vinha da operação de comercialização de grãos.
No que se refere especificamente à dívida, dos pouco mais de US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão), a empresa deve cerca de US$ 50 milhões (R$ 285 milhões) a um grupo de sete bancos liderados pelo Banco Galicia, um dos principais bancos privados da Argentina, parte do Grupo Financiero Galicia, além de um valor equivalente referente a pré-financiamento de exportações.
Também aparecem no balanço débitos de US$ 40 milhões (R$ 228 milhões) em Obrigações Negociáveis (ON) e US$ 60 milhões (R$ 342 milhões) em notas promissórias do mercado financeiro. Do total da dívida, quase US$ 100 milhões (R$ 570 milhões) possuem vencimento em seis meses, o que torna a urgência da reestruturação ainda maior.