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Se eu pudesse deixar uma mensagem para todos os integrantes do Agronegócio brasileiro seria para não perder tempo convertendo aqueles que já estão convertidos e, sim, adaptar seus discursos para de fato romper a bolha e acessar aqueles que desconhecem a realidade da vida no campo.
Sem entrar nos méritos do porquê temos hoje um setor com uma imagem deturpada, acredito que é essencial saber enxergar oportunidades que estabeleçam pontes entre o Agronegócio e o público urbano, ou, mais precisamente, o consumidor final. A comida, dentro de todos os recortes sobre o privilégio de poder se alimentar, é definitivamente um desses elos. E, para que uma comunicação seja estabelecida entre os dois mundos, é imprescindível olhar para fora da porteira e aprender a falar a mesma língua.
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Ao questionar a inteligência artificial sobre a ideia do alimento ser o fator mais relacionável com sua respectiva origem dentro do universo produtivo, a resposta é a seguinte:
“O alimento é o ponto mais tangível e emocional para conectar o ser humano com o Agronegócio. Ele não é apenas uma necessidade básica, mas também um elo cultural, afetivo e social. Quando uma pessoa entende a origem do que está no seu prato, ela se conecta de forma mais profunda ao campo, aos processos agrícolas e às pessoas que produzem o alimento. Por exemplo, conhecer a história por trás de um produto, como ele foi cultivado, os cuidados ambientais envolvidos, ou até os desafios enfrentados pelos agricultores, pode despertar maior empatia e valorização ao agronegócio. Além disso, o alimento é um convite para a reflexão sobre sustentabilidade, saúde e economia, temas que estão intrinsecamente ligados à produção agrícola. Eventos como feiras gastronômicas, visitas a propriedades rurais ou campanhas que mostram a jornada dos alimentos (da fazenda à mesa) são formas práticas de criar essa conexão. Isso reforça a importância do agronegócio, não apenas como setor econômico, mas como um pilar essencial da vida e da cultura humana.”
O fato é que a comida está na moda. A tendência aparece em campanhas publicitárias, em diversos relatórios de institutos de pesquisa, em forma de bens de consumo, em fragrâncias e em artigos de luxo evidenciando especialmente o rompimento dos limites da indústria de alimentos e bebidas e a migração para uma posição significativa dentro do estilo de vida das pessoas. A Pantone revelou recentemente a cor do ano de 2025: Mocha Mousse 17-1230.
A “Color of the Year 2025” ocupa esse posto depois de outros tons do universo dos alimentos já terem feito sucesso como o Amarelo Manteiga inspirado em uma linha mais natural que remete à manteiga fresca, trazendo sensação de naturalidade, conforto e energia; o verde Pistache desenvolvido a partir de um alimento que virou febre (atingindo até o setor de beleza) a partir de tendências comerciais, culturais, artísticas e sociais e o Apricot Crush com um tom que evoca os benefícios antioxidantes de damascos e laranjas trazendo uma sensação de refrescância.
A WGSN – Líder global em tendências de consumo e design de produtos – vem compartilhando diversos estudos sobre alimentos estarem em voga. A tendência mais recente apresentada em suas plataformas é a de comida falsa. Vela em formato de croissant, aspargos, tomates e tudo que a imaginação permitir, objetos decorativos e docinhos fake com mais de 1.9 bilhão de visualizações no Tik Tok, além de fragrâncias gourmand. A reportagem To Gen Z, food is the new luxury. What does that mean for fashion?
Publicada na Vogue Business em 2023 segue atual ao relatar como a Geração Z está redefinindo o conceito de luxo, priorizando experiências gastronômicas cotidianas e compartilhando-as nas redes sociais e faz um elo direto com a recente reportagem publicada na mesma plataforma em janeiro deste ano: 6 food trends fashion needs to know about in 2025.
Destaque para a tendência número 6: Hypebeast grocers and status snacks que evidencia como estabelecimentos alimentícios que oferecem produtos exclusivos estão se tornando símbolos de status, semelhantes a lançamentos limitados de streetwear. Marcas de luxo estão colaborando com esses “hypebeast grocers” para criar experiências únicas que combinam moda e gastronomia. Essas tendências refletem uma convergência entre alimentação, moda e estilo de vida, com consumidores buscando experiências multissensoriais que integrem sabor, estética e bem-estar.
A valorização das experiências sensoriais – intensificada pelo compartilhamento nas redes sociais -, está influenciando as estratégias de marketing das marcas de moda e beleza. Essa tendência foi um dos pilares para fomentar as parcerias entre os diferentes mercados e a incorporação de alimentos populares em eventos e campanhas.
Grandes nomes do mercado de influenciadoras como Nara Smith, mundialmente conhecida por cozinhar from scratch (do zero), e Hannah Neeleman, dona do perfil Ballerina Farm que mostra de forma extremamente aesthetic o conceito do “pasto ao prato”, estão atingindo milhões de telespectadores com um conteúdo explícito sobre a fusão do estilo de vida com o universo da alimentação, evidenciando a relação produto-origem.
Não é mais sobre “apenas comer” para satisfazer necessidades básicas. A escolha ou associação ao alimento fala sobre pertencimento, estilo de vida, causas, status e até posicionamento político. Passa o tempo, surgem modas, gominhas, vitaminas, pós, soros, e a verdade é que o alimento original com todos seus benefícios preservados permanece sendo a base e na tendência atual sendo o grande hype.
Torço para que os produtores rurais do Brasil nunca se esqueçam de todo propósito por trás da produção de um alimento e saibam que comer nunca sai de moda. Torço também para que as oportunidades de bons diálogos entre o universo rural e o urbano a partir de interesses que podem surgir despretensiosamente, como a comida nos holofotes, sejam bem aproveitadas. Sigo defendendo que comer é um ato político e, para todos que têm o privilégio de escolher o que irão colocar no prato, façam boas escolhas e saibam a importância de se conectarem com a origem do que consomem.
*Diana Jank é terceira geração de produtores de leite em Descalvado (SP), na fazenda Agrindus. Ela é a diretora de marketing da marca Letti A².
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