
Durante a Agrishow 2025, em Ribeirão Preto (SP), a associação ConectarAGRO apresentou a nova edição do Indicador de Conectividade Rural (ICR), que aponta um crescimento expressivo da cobertura de redes móveis nas áreas agrícolas do Brasil. Segundo o levantamento, a presença de sinal 4G ou 5G passou de 18,7% para 33,9% entre 2024 e 2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, onde a infraestrutura já vinha avançando em anos anteriores.
Criada em 2018 e institucionalizada como entidade dois anos depois, fazem parte da ConectarAgro empresas como AGCO, Bayer (por meio da plataforma Climate FieldView), CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM Brasil, Trimble, Amazon Web Services (AWS), Vivo, Intelsat, Sol by RZK e Telit. A associação defende o uso da tecnologia 4G em 700 MHz como principal padrão para conectar o campo, por se tratar de uma frequência com maior alcance e penetração.
O relatório ICR também mostra que a proporção de imóveis rurais com cobertura total em suas áreas agricultáveis aumentou de 37,4% para 48,1%. Apesar dos avanços, o índice médio de conectividade rural por município, medido pelo ICR, teve uma evolução mais modesta, passando de 0,455 para 0,493 em escala nacional.
Construído com base em dados públicos e abertos, o ICR permite uma visão detalhada da realidade da conectividade no campo. A presidente da ConectarAGRO, Paola Campiello, destaca que, embora os dados revelem progresso, o acesso ainda é desigual. “A nova edição destaca desigualdades ainda presentes, especialmente em regiões distantes dos grandes centros e entre diferentes perfis de produtores rurais, mas evidencia também um progresso claro: a digitalização do campo está se expandindo de forma consistente”, afirma ela.
Campiello reforça que, além da cobertura em si, a qualidade da conexão e sua disponibilidade em tempo integral ainda variam significativamente entre regiões. “A conectividade é um insumo estratégico para o campo. Ela viabiliza o uso de tecnologias que aumentam a eficiência, reduzem desperdícios e fortalecem a sustentabilidade. Quando uma fazenda se conecta, toda a cadeia produtiva é impactada.”
Boa parte da ampliação registrada no último ano está relacionada à expansão de cobertura ao longo de rodovias, que têm se transformado em corredores de conectividade. Trechos da BR-153, que corta os estados de Goiás e Tocantins, e da BR-158, no Mato Grosso do Sul, são exemplos citados pela entidade como áreas que hoje permitem acesso a milhares de pequenas propriedades, anteriormente isoladas digitalmente.
Além disso, mudanças recentes no Cadastro Ambiental Rural (CAR), impulsionadas pela Lei do Georreferenciamento, permitiram a formalização de novos imóveis rurais, o que melhorou a base de dados usada para o cálculo do indicador. Com mais propriedades registradas, o ICR passou a refletir de forma mais representativa a realidade fundiária do país.
Ainda assim, a exclusão digital continua a ser um desafio relevante, segundo a presidente da ConectarAGRO. “Áreas com baixa cobertura enfrentam dificuldades para adotar tecnologias como IoT, agricultura de precisão e plataformas de gestão remota, limitando o potencial produtivo, sobretudo entre pequenos e médios produtores”, diz Campiello.
Outro avanço apresentado em abril foi a incorporação de dados da ConectarAGRO ao Índice Brasileiro de Conectividade (IBC), desenvolvido pela Anatel. A nova versão do IBC, com metodologia atualizada em 2024, passou a incluir uma variável específica para mensurar a conectividade rural — construída com base no ICR.
A nova variável considera a cobertura de 4G ou 5G em áreas agrícolas, utilizando informações do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) e da própria Anatel. Essa métrica corresponde a 68% da estrutura do ICR e, combinada à variável de infraestrutura já existente no índice, representa 81,2% do indicador rural incorporado ao IBC.
Com a atualização, o IBC ganha mais precisão ao refletir a realidade de municípios com grande área rural e passa a servir como ferramenta mais eficaz para políticas públicas, alocação de investimentos e monitoramento de iniciativas voltadas ao desenvolvimento do campo. “A mensuração precisa da conectividade rural permite um acompanhamento mais assertivo de políticas públicas, investimentos e ações voltadas ao agronegócio, à educação rural, à saúde no campo e à conservação ambiental”, destaca a ConectarAGRO.
A inclusão da variável rural no IBC marca um avanço na visibilidade da conectividade fora dos grandes centros urbanos e consolida o papel da associação no apoio a projetos de transformação digital no campo.
Durante a Agrishow, a ConectarAGRO também anunciou a entrada de duas novas associadas: a Intelsat e a Sol by RZK, que se somam ao esforço da entidade para ampliar a conectividade rural.
A Intelsat é uma operadora global de serviços de satélite, com uma das maiores redes integradas de satélites e infraestrutura terrestre do mundo. Com foco em regiões remotas e de difícil acesso, onde a infraestrutura tradicional ainda não chegou, a empresa deve atuar como parceira estratégica na expansão da cobertura em áreas críticas. Segundo a ConectarAGRO, a expertise da Intelsat permitirá acelerar a implantação de conectividade em pontos ainda fora do alcance de torres de telecomunicação.
Já a Sol by RZK, braço de tecnologia agrícola do Grupo RZK, traz soluções que combinam conectividade rural, análise de dados e inteligência artificial. A empresa atua com foco na integração de tecnologias para agricultores de diferentes perfis e portes. Segundo comunicado da entidade, a proposta da Sol é “aumentar a eficiência produtiva, financeira e operacional da gestão agrícola, buscando sempre novos patamares de rentabilidade e sustentabilidade no campo”.