“As periferias brasileiras são ouro puro. Infelizmente, as elites do país se contentam com bijuterias e deixam de enxergar o potencial das pessoas que vivem nesses locais.” A frase, dita com um misto de lamento e desabafo pelo ativista Helio Santos, fundador do Instituto Brasileiro de Diversidade (IBD), vem sendo repetida em diversos fóruns sobre empreendedorismo, economia e finanças.
Santos foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a estudar com profundidade a relação entre racismo institucional e o atraso econômico do país. O que ele conceituou em suas pesquisas é vivenciado, na prática, por uma legião de brasileiros que moram em bairros periféricos e favelas Brasil afora.
São homens e mulheres das mais variadas idades que estudam, trabalham e ajudam a movimentar uma parte expressiva da economia. Tanto a convencional quanto a informal, onde trafegam os tais “38 milhões de invisíveis” – aquele contingente cuja existência “surpreendeu” o ministro da Economia, Paulo Guedes, em meados do ano passado, quando os efeitos da pandemia de Covid-19 obrigaram o governo federal a adotar medidas adicionais de distribuição de renda.
Não foi somente o Ministério da Economia que se viu instado a responder à emergência social, sanitária e econômica. O setor privado também teve de se mexer, pressionado por uma série de fatores. Com destaque para a campanha global Black Lives Matter, que colocou no “espírito do tempo” a luta antirracista – além da necessidade de cumprir acordos globais pactuados no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente aqueles ligados à implementação dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O resultado foi um conjunto de ações que culminaram num recorde histórico anual no volume de Investimento Social Privado: R$ 6,53 bilhões, de acordo com o Monitor de Doações da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR).
Uma parte significativa desse montante foi gerado a partir da interlocução de empreendedores sociais e ativistas que, há tempos, abandonaram o discurso pautado pela ação social e incorporaram as teses de desenvolvimento territorial baseado na cocriação e na execução descentralizada de iniciativas públicas ou privadas. “Já não se admite que as empresas se comportem como cientistas que enxergam os afro-brasileiros como camundongos e as favelas como laboratórios”, diz o empreendedor Celso Athayde. Fundador da Central Única das Favelas (Cufa) e CEO da Favela Holding, que comanda 25 empresas nas mais diversas áreas, ele é um dos que simbolizam o novo tipo de interlocução entre as periferias e o setor privado.
Graças a essa articulação, a Cufa, comandada por Francisco José Pereira de Lima, mais conhecido como Preto Zezé, conseguiu colocar de pé diversas iniciativas com objetivos bastante específicos. Para afastar o fantasma da fome e cuidar da saúde, foi criado o projeto Mães da Favela. A iniciativa mobilizou R$ 180 milhões em doações, beneficiando 5,9 milhões de pessoas em 5 mil favelas. Elas receberam 19,5 mil toneladas de alimentos e kits de higiene, além de máscaras de pano, confeccionadas por costureiras das comunidades.
Visão estratégica
Olhando para o futuro, Athayde nota que o olhar do setor produtivo para essas comunidades precisa evoluir da escassez e da benemerência para uma visão estratégica, alinhada aos preceitos do capitalismo consciente. É nesse ponto que ele coloca na mesa os percalços criados pelo racismo institucional. “Em primeiro lugar, se os trabalhadores brasileiros recebessem um salário digno, não precisariam de ajuda em tempos de crise”, diz. “Sem contar que as empresas, muitas vezes, não contratam moradores de favelas por puro preconceito.”
Athayde diz que sua ambição é ver avançar o processo ainda incipiente de parcerias entre o “asfalto e o morro”, do qual ele é um dos pioneiros. Mesmo diante dos problemas e incertezas gerados pela pandemia, o CEO da Favela Holding conseguiu estruturar novos negócios, investindo em gaps de oferta para demandas pontuais.
A lista inclui a operadora de telefonia Alô Social, de venda de chips pré-pagos que em apenas quatro meses conseguiu a adesão de 600 mil clientes e movimentou R$ 20 milhões. A pedra de toque do negócio é a rede de revendedores autônomos, que obtêm uma comissão de 5% na venda e em cada recarga feita pelo dono do chip. Essa lógica associativa, com ganho social, permeia todos os negócios que têm a Cufa como beneficiária. Os empreendedores são recrutados nas comunidades e, segundo Athayde, ficam sempre com a maior parte do bolo. Outra iniciativa é a Digital Favela, que conecta marcas de consumo popular aos microinfluenciadores: jovens cujos perfis no Instagram, no Facebook ou no Twitter contam com mais de mil seguidores.
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Distribuição de riqueza
O modelo de atuação baseado em plataformas de negócios de impacto social é replicada por outros ativistas, como Gilson Rodrigues. Nascido em Itambé, um pequeno município no sul da Bahia, Gilson se destacou como presidente da União dos Moradores e do Comércio Local de Paraisópolis, comunidade encravada na parte rica da Zona Sul da cidade de São Paulo. Nos últimos anos, porém, ele vem assumindo um papel ainda maior como empreendedor social. Hoje Rodrigues se apresenta como um “realizador, alguém que busca soluções em vez de ficar procurando culpados”. Em meio à pandemia, ele participou da criação do G10 Favelas, com o objetivo de maximizar os esforços para enfrentamento da crise.
Ao mesmo tempo que ajudou a cuidar da saúde e do bem-estar da comunidade a partir de inúmeros programas emergenciais, os integrantes do G10 começaram a estruturar iniciativas com vistas a fortalecer a cadeia local de negócios. O primeiro fruto da G10 foi a Favela Brasil Express, lançada em meados de 2020 com a ambição de ser a last mile da operação logística de grandes comércios virtuais. A operação é tocada por moradores de Paraisópolis, e parte dos ganhos é destinada a melhorias na comunidade. Em seis meses, a lista de parceiros já inclui potências como Loggi e Correios. Em fevereiro foi a vez do G10 Bank Participações. Rodrigues é o CEO da instituição financeira que nasce com um capital de R$ 1,8 milhão, obtido junto a investidores. Seu foco é dar suporte ao crescimento do comércio das favelas a partir de instrumentos clássicos como microcrédito, seguros e maquininhas para vendas a prazo.
Banco, empresa de logística e de telefonia, além de agência de marketing digital, são negócios que, até bem pouco tempo atrás, não entravam no radar de empreendedores da comunidade afro-brasileira. Especialmente no caso dos moradores da periferia e de favelas. Boa parte dessas iniciativas é caudatária de fenômenos complementares, como o aumento do número de afrodescendentes no ensino superior e o barateamento do acesso às ferramentas da tecnologia da informação e da comunicação (TIC).
Segundo Priscila Gama, idealizadora e CEO do Instituto Das Pretas, a pandemia também ajudou a lançar luzes sobre iniciativas de inovação aplicadas a tecnologias sociais, carro-chefe da atuação do instituto baseado em Vitória. Desde sua fundação, em 2015, cerca de 100 mil mulheres já foram impactadas pelas atividades. A exemplo dos CEOs da Favela Holding e do G10 Bank, Priscila enxerga na colaboração com entidades públicas e privadas o caminho para o desenvolvimento de uma economia que discrimine menos e distribua melhor as riquezas. Especialmente no caso das mulheres afrodescendentes: segundo pesquisa do Instituto Insper, homens brancos chegam a ganhar 159% mais que elas na mesma função. O Instituto Das Pretas investe no letramento acadêmico e tecnológico: “Apenas saber que é possível crescer e se desenvolver é insuficiente para quem não sabe o caminho”.
Novos modelos de financiamento
A tecnologia pode lançar pontes entre esses diversos mundos, favorecendo a mobilização em uma escala inimaginável. Um dos aprendizados de 2020 foi a utilização do crowd matchfunding, baseado em plataformas de financiamento coletivo, com um patrocinador que dobra ou triplica o valor arrecadado. Uma dessas iniciativas foi o Matchfunding Enfrente, criado pela Fundação Tide Setubal em parceria com a plataforma Benfeitoria. Os R$ 7,2 milhões arrecadados foram distribuídos para 265 iniciativas de cunho empresarial e de impacto social de todo o país. Os repasses, a fundo perdido, variaram de R$ 10 mil a R$ 30 mil. Os parceiros da fundação entraram com R$ 4,8 milhões. “Com o agravamento da pandemia, já estamos estudando uma nova rodada neste semestre”, adianta Wagner Silva, coordenador de fomento da Fundação Tide Setubal. Na avaliação de Guiné, como ele é conhecido no movimento social, esse modelo tem inúmeras vantagens. A primeira é que reduz o número de intermediários e faz com que os recursos cheguem mais rapidamente ao empreendedor. A segunda é a possibilidade de divulgação da iniciativa, produto ou serviço numa plataforma de alcance nacional, sem contar o fato de os repasses serem a fundo perdido. “Num contexto de crise, nem sempre o crédito, mesmo subsidiado, é o melhor instrumento para empreendedores que atuam na periferia.”
Essa percepção lança luzes sobre gargalos na relação entre bancos, financeiras, órgãos de fomento, fundos de fundos de venture capital e os empreendedores. Especialmente no caso de homens e mulheres que têm sua trajetória atravessada por barreiras como o racismo e a discriminação pelo CEP. O matchfunding já provou sua efetividade como instrumento de democratização do acesso a recursos. A adesão de players como Natura, Coca-Cola, Itaú, Sebrae e BNDES nos faz divisar um futuro promissor.
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A EVOLUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO NEGRO
Celebrado como um instrumento que sintetiza elementos da filosofia do Vale do Silício, os projetos de crowdfunding (ou vaquinha virtual) têm na comunidade afro-brasileira sua pioneira origem. Pois é: o primeiro registro de uma experiência do tipo no Brasil, em bases organizadas, se deu no ano de 1832 e foi promovida pela Sociedade Protetora dos Desvalidos, de Salvador. A entidade foi criada por negros libertos para atuar como um espaço de acolhimento, suporte emocional e geração de riqueza. As “vaquinhas” feitas entre seus integrantes eram canalizadas para a compra de cartas de alforria.
Esse registro histórico é apenas uma das evidências da capacidade de inovação da comunidade afro-brasileira. Uma tradição que vem de longe, mais precisamente dos tempos em que os povos ancestrais na África construíam fantásticas pirâmides, faziam partos cesáreos (antes da invenção da medicina) e decifravam os mistérios estelares, como narrado no livro “Black Box”, obra de referência produzida pela agência Wunderman Thompson Brasil em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares.
Nestes quase 200 anos, não foi apenas a grande capacidade inovadora que fez com que os afro-brasileiros seguissem a trilha empreendedora. A necessidade de sobrevivência também teve um grande peso. Até porque o mercado formal de trabalho nunca os absorveu. Em pleno século 21, o desemprego ainda afeta de modo mais forte esse contingente: dados do IBGE mostram que no trimestre outubro-dezembro de 2020 a taxa de desocupação ficou em 17,2% entre os negros, 15,8% no caso dos pardos e 11,5% no dos brancos. Apartados desde sempre do mercado formal, o jeito foi se virar.
Não é por outro motivo que a maioria de microempreendedores individuais (MEIs) se declaram pretos ou pardos. Mas este cenário está se transformando. E não por obra do acaso ou concessões feitas por uma parcela da elite política e econômica, mas, fundamentalmente, pela derrubada de algumas barreiras nas diversas batalhas travadas por inúmeras gerações.
O universo das startups
A pesquisa Empreendedorismo Negro no Brasil, realizada em 2019 pela consultoria Plano CDE sob encomenda do Instituto Feira Preta, revela dados interessantes. O primeiro deles é que 31,1% dos entrevistados concluíram o ensino superior, sendo que 9,6% deles possuem título de mestre ou doutor (PhD), e 39% têm renda familiar acima de R$ 5 mil. O número de negócios formalizados chega a 54%, enquanto 58% do universo de 1.220 entrevistados tratam de modo separado as contas da empresa das suas finanças pessoais. Um quadro bastante distinto daquele que povoa o imaginário popular, mas ainda longe de indicar um cenário alvissareiro. A observação crítica do cotidiano nos mostra que muito ainda precisa ser feito na promoção da equidade racial e, fundamentalmente, de gênero, no campo do trabalho e na atividade empresarial.
Isso fica evidente quando nos debruçamos sobre o universo das startups. De acordo com o Mapeamento de Comunidades 2020, da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), apenas 5,8% dos founders são negros e 12,6% são mulheres – isso em uma amostragem na qual 87,7% das empresas pesquisadas disseram apoiar a diversidade. Algumas dessas honrosas exceções estão sob o guarda-chuva do BlackRocks Startups, iniciativa criada pela paulistana Maitê Lourenço, em 2016. A empresa ganhou musculatura e, hoje, é uma das principais aceleradoras do Brasil. “Geramos conexões entre as startups e as grandes empresas, demonstrando a capacidade dos negócios tecnológicos liderados por pessoas negras em resolver problemas reais e escaláveis”, conta Maitê.
A cobrança por maior diversidade no mundo corporativo, em geral, a partir dos pilares ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança corporativa), provocou dois movimentos complementares. Por um lado, despertou o apetite de empresas para processos de inovação aberta envolvendo atores mais diversos. Por outro, está fazendo com que muitos agentes econômicos, especialmente os financeiros envolvidos no ecossistema de inovação, assumam uma postura mais ativista. “Se as startups comandadas por negros e mulheres não estão no ecossistema, o jeito é procurar fora do circuito convencional”, diz Pedro Berto, analista da Volpe Capital.
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Nascido e criado na extinta Favela Vila Autódromo, que foi demolida para dar espaço ao Parque Olímpico de Jacarepaguá, Pedro representa uma nova geração de jovens que ascenderam profissionalmente, no rastro das políticas oficiais e iniciativas comunitárias de democratização do acesso ao ensino superior: cursinhos populares, financiamento estudantil e cotas. A soma disso tudo foi a explosão das inscrições na prova do Enem, que saltaram de 116 mil, em 1998, para 6,13 milhões, em 2016. O resultado desse fenômeno foi quantificado na pesquisa de 2018 do IBGE, que apontou que os pretos e pardos representavam 50,3% dos matriculados no ensino público superior. Graduado em administração pela FGV-Rio, com especialização na Tsinghua University, de Pequim, ele destaca seu papel no time da nascente empresa de fundos de venture capital: “Aqui ninguém será barrado por causa da cor da pele, do CEP ou da orientação sexual”. Na prática, a ambição do analista e da equipe de fundadores da Volpe (André Maciel, Marcelo Claure, Paulo Passoni e Shu Nyata) é fazer negócios com as startups e também empresas convencionais – e até mesmo negócios maduros das áreas de saúde, educação e software. O valor do tíquete varia entre US$ 3 milhões e US$ 5 milhões. A meta é levantar US$ 100 milhões com parceiros.
Ganhos compartilhados
Em certa medida, o time da Volpe segue a trilha aberta por outras fundos de venture capital que colocam o impacto social como um dos critérios para investimento. A pioneira neste caminho foi a Vox Capital, que, somente em 2019, dez anos após sua fundação, explicitou o componente racial em sua estratégia de negócios de impacto. A beneficiada foi a Diaspora.Black, startup focada em experiências vinculadas à cultura afro, que amealhou R$ 600 mil numa operação de equity crowdfunding liderada pela Vox.
A virada de chave se deu a partir do final de 2016, com o ingresso de Jéssica Silva Rios no time da Vox. Formada em administração de empresas com especialização em sociologia, ela é uma das vozes dissonantes na Faria Lima. “O mercado está acostumado a resolver tudo com a filantropia colonial, colocando grana e exigindo resultados, sem ao menos conhecer as especificidades do parceiro e do público que ele atende”, diz. Mais do que apenas assumir o papel de crítica, ela está se preparando para ser parte da solução.
Nas próximas semanas, Jéssica vai migrar para a recém-criada área de novos negócios, na qual ficará responsável por estudos em profundidade sobre iniciativas de impacto. A visão de geração de riqueza através de ganhos compartilhados, aliás, foi o que fez com que o empreendedor e contabilista Cesar Nascimento se envolvesse na criação do Integrare. Fundada em 1999, a entidade aproxima empresas controladas por afro-brasileiros, ameríndios e PCDs das grandes corporações. A inspiração veio da poderosa Nacional Minority Supplier Development Council (NMSDC), dos Estados Unidos, que movimenta US$ 400 bilhões por ano.
Segundo ele, a versão brasileira, bem mais modesta, gerou negócios estimados em R$ 500 milhões no período 2000-2019. Valores à parte, é certo que o grande mérito do Integrare é a sua longevidade e o fato de ter representado, ao menos na Grande São Paulo, sua área de atuação, uma guinada no modelo de interlocução com as grandes empresas. “Ao entrar nesse circuito, os PMEs começam a entender como o jogo funciona e aprendem a se movimentar neste campo.”
Nascimento acabou pavimentando o caminho para outras iniciativas de formação de redes de aprendizado e disseminação da cultura empreendedora, do intraempreendedorismo e do conceito de Black Money. É o caso da Afrobusiness Brasil. “Nós atuamos com capacitação 360 graus, buscando desenvolver redes de afro-empreendedores, além de evangelizar as empresas sobre a causa da diversidade”, explica Fernanda Leôncio, presidente da entidade.
Assim como ocorreu em 1832 nas “vaquinhas” para a compra de alforrias, as ações articuladas, tendo como foco a filosofia Ubuntu (“Eu sou porque somos!”), se espalharam por outros setores. Isso se nota especialmente na educação e na economia.
Laboratórios de inovação
A periferia sempre funcionou como um laboratório vivo de iniciativas com forte componente de inovação. Em meio a graves problemas que persistem até hoje sempre existiu a busca por saídas. A cultura empreendedora foi ganhando forma graças à ação de ativistas que criaram negócios sociais e ONGs para endereçar demandas específicas. Um exemplo é a Incubadora Afro Brasileira (IAB) criada em 2004, cuja metodologia já foi exportada para países como Cabo Verde e Colômbia. Sob o guarda-chuva da IAB estão iniciativas como a Conectora de Oportunidades, patrocinada pela Petrobras e que conta com duas bases: Campos Elísios, distrito de Duque de Caxias, e Macaé, ambas no Rio de Janeiro. As incertezas trazidas pela pandemia fizeram explodir o número de interessados nos dois programas: formação em gestão para empreendedores e mentoria de carreira para jovens maiores de 18 anos. “De 78 atendidos no ano passado, saltamos para 1.038 inscritos no processo seletivo deste ano”, conta Márcia Ferreira, presidente do Instituto de Pesquisas e Ação Comunitária e gerente do Programa da Conectora, em Campos Elísios. Como as aulas estão ocorrendo de forma remota, todos serão atendidos. Para isso, no entanto, será preciso driblar a realidade da exclusão digital que, em meio à pandemia, também colaborou para ampliar o fosso entre ricos e pobres, brancos e negros. “Estamos desenvolvendo uma plataforma via WhatsApp para que as pessoas possam acompanhar os cursos sem gastar o pacote de internet do celular”, adianta Márcia.
A superação das carências e da exclusão ainda envolve muito trabalho e criatividade, como era nos idos de 1800. Com poder de consumo próximo de R$ 2 trilhões e um potencial de inovação mais que comprovado, mesmo diante de grandes barreiras estruturais, a comunidade afro-brasileira deveria estar no centro das políticas de Estado e na estratégia de negócios das grandes empresas. Falta ambição do poder público e do setor privado, especialmente dos agentes financeiros. Mas os primeiros passos estão sendo dados.
Reportagem publicada na edição 85, lançada em março de 2021
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