Pela manhã, o trabalho de Ma Baoli era servir a população da província de Hebei, na China, como policial. No fim do expediente, começava outra jornada: administrar e moderar o site Danlan.org, ponto de encontro virtual para a comunidade LGBTQIA+ do país asiático, onde usuários compartilhavam notícias e relatos sobre suas vidas. Essa rotina durou 11 anos até que, em 2011, ele decidiu sair da segurança pública, setor ao qual serviu por quase 20 anos, depois que uma entrevista sua sobre a comunidade virtual viralizou na internet.
Um ano depois, o ex-policial se tornaria, de fato, empreendedor graças à BlueCity, empresa dedicada a usar tecnologia para acolher a comunidade LGBTQIA+. “Nossa missão é ser uma ‘casa espiritual’ para todos da sigla, encorajando-os a serem quem realmente são e a se sentirem bem consigo mesmos”, afirma Baoli, em entrevista exclusiva à Forbes. “Por anos, eu sofri de solidão e desemparo. Foi graças à internet que pude aprender sobre a homossexualidade e descobrir que isso não era uma doença.”
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Hoje, uma década após se aventurar no empreendedorismo, Baoli não só tem uma empresa listada na Nasdaq, a bolsa de valores dos Estados Unidos focada em companhias de tecnologia, como também projeta faturar US$ 2,1 bilhões até o final deste ano. O maior responsável por essa estimativa de receita é o aplicativo Blued, o principal produto da BlueCity. Lançado em 2012 na China, o app ganhou uma versão globalizada em 2015, quando passou a integrar a Google Play Store e a Apple Store dos outros países. Hoje, a plataforma conta com usuários de 107 cidadanias diferentes.
Com uma rede de 60 milhões de pessoas cadastradas, metade delas na China, o Blued possui diversas funcionalidades para aproximar e criar um ambiente de bem-estar para a comunidade LGBTQIA+. Postagem de conteúdo, realização de transmissões ao vivo, mensageria com base em geolocalização, salas de bate-papo em áudio – no estilo Clubhouse – e um serviço de encontros online, no qual os pretendentes podem conversar por vídeo rapidamente para depois avaliarem se levam o encontro adiante, são algumas das ferramentas disponibilizadas na plataforma.
DE OLHO NO BRASIL
Embora o aplicativo de relacionamentos seja extremamente popular na Ásia – o Blued é líder de mercado na China, Índia, Coreia, Tailândia e Vietnã em termos de usuários mensais ativos -, a BlueCity quer intensificar sua atuação na América Latina. No final do ano passado, em novembro, a rede social focada no público LGBTQIA+ desembarcou no Brasil. A companhia não divulga o número de usuários no país por motivos estratégicos, mas Baoli se diz otimista com as perspectivas. “Ainda estamos em um estágio inicial na América Latina, mas já alcançamos um nível substancial de crescimento desde que começamos a operar na região em 2020.”
Para promover o Blued em território brasileiro, a companhia utilizou a estratégia de divulgação por meio de importantes vozes do movimento LGBTQIA+ na internet, como, por exemplo, a drag queen Lorelay Fox, o influencer Klébio Damas e o cantor Mateus Carrilho. Além disso, a empresa também estabeleceu parcerias com ONGs referência da causa, como CASA 1 e Casinha, que trabalham pelo acolhimento de pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade. “Sempre tentamos estabelecer uma conexão com as comunidades locais onde operamos”, afirma Baoli.
Além do marketing e das parcerias, a BlueCity pretende dar atenção às demandas dos atuais usuários latino-americanos do seu aplicativo para, assim, atrair cada vez mais adeptos. “Gostamos de fazer produtos e serviços personalizados de acordo com a cultura e as preferências locais”, afirma o CEO. “Sabemos que, na América Latina, as pessoas são mais diretas, passionais e que valorizam eficiência, autenticidade e criatividade.” Essas informações, segundo ele, serão utilizadas para a construção de novas funcionalidades.
O executivo espera que o seu aplicativo “ajude a apresentar a vibrante, diversa e talentosa comunidade LGBTQIA+ para o resto do mundo” e diz querer construir uma relação profunda com os usuários do Brasil. “O Blued possui uma grande variedade de funcionalidades, que vão além dos serviços baseados em geolocalização. Nós queremos criar uma plataforma de conexões e ser mais do que um ‘aplicativo de namoro’”, afirma. “Nos comprometemos a oferecer um conjunto completo de serviços para promover e aumentar o bem-estar da comunidade LGBTQIA+.”
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