Não é de hoje que o tema diversidade e inclusão vem ganhando destaque nas conversas de negócios. Em 2018, uma pesquisa da McKinsey já mostrava que empresas mais plurais nos âmbitos cultural e étnico têm 33% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado do que aquelas em que a questão não é uma prioridade.
No entanto, a representatividade no ecossistema de inovação ainda é insuficiente: em 2020, apenas 18% dos empreendedores apoiados pela Endeavor, rede global de fomento a scale-ups, autodeclararam-se pessoas negras e 1% amarelas, ante os 80% brancos. Em paralelo, 83% são homens cis, 15% são mulheres cis e apenas 1% não-binários. Heterossexuais correspondem a 96% do quadro.
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A análise é do “Censo de Diversidade e Inclusão” divulgado hoje (30) pela organização. O relatório traz um diagnóstico dos recortes de gênero, etnia e orientação sexual entre os agentes da companhia, e revela que, embora a representatividade esteja cada vez mais no radar das empresas, ainda há uma série de desafios que impedem a atuação de grupos minoritários. Para reverter o cenário atual e promover a equidade na rede, a Endeavor acaba de anunciar Robson Privado, COO e cofundador do unicórnio de venda de móveis e decoração MadeiraMadeira, como novo conselheiro administrativo da organização. A notícia vem acompanhada de uma série de metas de impacto.
“Das nossas scale-ups aceleradas, 27% possuem mulheres fundadoras ou cofundadoras, o que está acima da média do mercado, de 9,8% [a comparação é com o relatório ‘Female Founders Report’, da Distrito]. Em outros casos, estamos abaixo do esperado, como na representação de pessoas negras”, diz Renata Mendes, diretora de relações institucionais e governamentais da Endeavor.
Historicamente, o cenário da organização não é muito diferente. Em quase duas décadas de Endeavor no Brasil (de 2000 a 2019), 89% dos empreendedores acelerados pela rede foram homens cis, 85% pessoas brancas e 94% heterossexuais. As mulheres cis assumem uma participação de 10% do público apoiado, enquanto pessoas amarelas correspondem a apenas 2% do total. Os negros estão na faixa dos 11%. O estudo revela, também, que 94% dos líderes são heterossexuais, seguido de uma fraca presença de gays (3%), bissexuais (2%) e lésbicas (1%).
Apesar da pouca participação das minorias, a entidade diz que está trabalhando para criar um mundo mais equitativo e promissor. Em parceria com a Distrito e a aceleradora de negócios liderados por mães B2Mamy, a Endeavor divulgou, em março deste ano, o estudo “Female Founders Report”, com o intuito de analisar o cenário da desigualdade de gênero no ecossistema. O levantamento mostrou que apenas 4,7% das 6.280 startups analisadas são fundadas exclusivamente por mulheres.
Nesse contexto, a rede de empreendedorismo assume um compromisso para ampliar a presença feminina no ecossistema. No último ano, a organização registrou um aumento de 5% de empreendedoras apoiadas no último ano, segundo o “Censo de Diversidade e Inclusão”. Para os próximos anos, a expectativa é que este número seja ainda maior.
PRIORIDADES
A realização do censo é um passo importante para a Endeavor identificar os gargalos de diversidade em seus diferentes públicos. Após analisar os resultados, a organização começou a traçar estratégias que contribuam para mudanças concretas na rede. “Mais do que direcionar nossas ações, esses dados nos ajudam a ter voz ativa na construção de um ecossistema mais diverso e inclusivo ao compartilhar o que temos feito sobre o tema e convidar outras pessoas e organizações a fazerem o mesmo”, diz a executiva.
A primeira delas é ampliar a presença feminina nos programas scale-ups, uma das mais prestigiadas iniciativas de aceleração de negócios escaláveis do Brasil. No ano passado, 18% das scale-ups apoiadas pela rede eram encabeçadas por mulheres. No primeiro semestre de 2021, esse número saltou para 28%. O objetivo é, cada vez mais, fomentar startups com mulheres fundadoras, a fim de promover maior equidade de gênero nas lideranças. “Nossa missão é, até 2025, chegar a 40% de mulheres e 40% de pessoas negras no nosso time e na rede de empreendedores, considerando as interseccionalidades”, afirma Renata.
Ampliar a diversidade no time de colaboradores também está no radar da organização. De acordo com o censo, 88% dos funcionários em cargos de gestão são brancos, ante 9% negros e 3% amarelos. A maioria, 91%, é heterossexual, e 9% da equipe se identifica como bissexual. Em contrapartida, as mulheres já são a maioria na liderança, com uma participação de 68% entre os gestores, enquanto os homens representam cerca de 32%.
“Internamente, modificamos o processo de recrutamento e seleção, aumentando de 24% para 38% o número de pessoas com marcadores de identidades diversas, considerando pessoas negras e LGBTQIA+”, diz a pesquisa. Segundo Renata, a Endeavor fechou parcerias com empresas que ajudam as organizações a aumentarem a representatividade de grupos minoritários entre seus colaboradores. “Estamos divulgando as vagas nessas redes, com preferências para marcadores específicos de diversidade.”
Além disso, a Endeavor removeu o método de candidatura por indicação de outros colaboradores. “O processo funcionava, mas, geralmente, as pessoas recomendam outras com quem se parecem, trazendo mais profissionais de um mesmo perfil”, explica a executiva. A organização também flexibilizou a exigência do inglês nas candidaturas, que foi abolida para determinadas funções, e passou a oferecer suporte interno para o aprendizado do idioma.
Outro ponto fundamental para a Endeavor é promover uma maior conscientização dos empreendedores. Para isso, a rede está desenvolvendo uma série de conteúdos online sobre os principais exemplos da rede de aliados à agenda de diversidade, a fim de inspirar e sensibilizar outras empresas. Entre eles, estão o unicórnio de serviços financeiros Creditas, a Cogna Educação e a Gupy, que desenvolve softwares corporativos de recrutamento e seleção. Os artigos serão disponibilizados no site da organização.
“Vamos buscar atrair novos mentores negros e mulheres para ter um grupo de especialistas mais heterogêneo. No caso de aceleração, pretendemos estreitar parcerias com outras organizações para nos aproximarmos de empresas com female e black founders”, explica a executiva. A estratégia é começar pela base, desde os programas de aceleração, para transformar toda a cadeia, abrangendo os empreendedores, mentores e o próprio quadro de funcionários da Endeavor.
Para fomentar a pluralidade de agentes no ecossistema, a Endeavor aposta em Robson Privado. Após levantar US$ 190 milhões em uma rodada de investimentos liderada pelo SoftBank e Dynamo, em janeiro deste ano, a MadeiraMadeira se tornou a primeira startup do Brasil com um líder C-Level negro a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão. O executivo chega para auxiliar o corpo diretivo e apoiar a ampliação do trabalho de diversidade e inclusão da organização.
“No último ano, alguns empreendedores negros começaram a me procurar, e passei a ajudá-los de forma informal, mas já tinha o desejo de multiplicar esse impacto”, conta. Para isso, Privado aproximou-se de iniciativas como o Black Founders Fund, projeto do Google for Startups para investir em empresas lideradas por negros, e a BlackRocks, que incentiva empreendedores negros a acessarem o ecossistema de inovação, tecnologia e startups. “Quero apoiar a causa não só com investimento-anjo, mas quero ajudar efetivamente a dar o próximo passo nos negócios.”
Privado é agora o terceiro empreendedor Endeavor membro no conselho, ao lado de Sergio Furio, da Creditas, e Eric Santos, da RD Station. Para o COO da MadeiraMadeira, ter integrantes da própria rede participando da tomada de decisão e planejamento estratégico da entidade contribui para inspirar novos empreendedores e para a pauta da diversidade. “A instituição tem uma capacidade muito grande de atuar em diferentes frentes e diminuir o gap do mercado de forma sustentável. Nosso objetivo é ter um ambiente muito mais igualitário, a partir da construção de pontes e ações afirmativas”, conclui.
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