Apenas 1,6% da perda de florestas e vegetação nativa no Brasil, entre 1985 e 2020, ocorreu em terras indígenas. É o que mostram as imagens de satélite desse período analisadas pela equipe de pesquisadores do MapBiomas, iniciativa multi-institucional que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia focadas em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Para chegar aos atuais dados, o MapBiomas utilizou recursos de inteligência artificial. Nesse período de 36 anos, os territórios indígenas já demarcados ou aguardando demarcação foram os que mais preservaram suas características originais, comprovando o valioso serviço que essas comunidades prestam ao Brasil.
“Se queremos ter chuva para abastecer os reservatórios que provêm energia e água potável para consumidores, indústria e o agronegócio, precisamos preservar a floresta amazônica. E as imagens de satélite não deixam dúvidas: quem melhor faz isso são os indígenas”, afirma Tasso Azevedo, Coordenador do MapBiomas.
Se os territórios indígenas permaneceram quase intactos nas últimas décadas, o mesmo não se pode dizer do resto do Brasil. O crescimento da área ocupada por atividades agropecuárias entre 1985 e 2020 foi de 44,6%. Juntas, agricultura e pecuária ganharam 81,2 milhões de hectares no período. Essas atividades cresceram em cinco dos seis biomas brasileiros, com exceção da Mata Atlântica. O padrão de expansão da agropecuária nesse período é o avanço das pastagens sobre áreas de vegetação nativa enquanto a agricultura se expande principalmente sobre áreas de pastagem. Com isso a área total de pastagem parou de crescer em meados dos anos 2000 e começou a encolher, registrando uma retração de 4% de 2005 a 2020, depois de crescer 45% entre 1985 e 2005.
Atualmente, as pastagens representam o principal uso da terra no Brasil, ocupando um quinto do território nacional. Elas serão tema de análise mais aprofundada do MapBiomas, em estudo sobre a qualidade das pastagens a ser lançado ainda este ano.
Dos 27 estados da federação, 24 perderam vegetação nativa. Os campeões são Rondônia (-28%), Mato Grosso (-24%) e Maranhão (-16%). Apenas dois estados conseguiram manter as áreas de vegetação nativa – ambos na região Sudeste, principalmente na Mata Atlântica: Rio de Janeiro e Espírito Santo. No caso do Rio de Janeiro, houve inclusive um leve crescimento (de 34% em 1985 para 35% em 2020).
A principal cobertura vegetal nativa no Brasil é a floresta, que cobre 59,7% do território nacional. Mas esse percentual está majoritariamente concentrado na região amazônica. Ou seja, excluindo-se a Amazônia, o retrato do Brasil é bem diferente. No Pampa, 42,7% do território é ocupado pela agropecuária. Na Mata Atlântica, a área de agropecuária é ainda maior, ocupando dois terços (64,3%) do bioma. Cerrado (44,2%) e Caatinga (35,2%) têm a terceira e quarta maior ocupação por atividades agropecuárias.
Uma análise mais detalhada da cobertura e uso de terra no Brasil mostra que os 66,3% de vegetação nativa que as imagens de satélite mostram não correspondem necessariamente a áreas preservadas. “Uma parte significativa passou por processo de degradação ou está em regeneração depois de ter sido desmatada, por isso aprofundar o entendimento destes processos de degradação é um dos focos atuais do MapBiomas”, afirma Azevedo. “Com a plataforma de monitoramento das cicatrizes de fogo, descobrimos que 57 milhões de hectares, ou 11% da floresta existente no Brasil em 2020, pegaram fogo pelo menos uma vez nos últimos 36 anos”, detalha Ane Alencar, coordenadora do mapeamento do Cerrado e do mapeamento do fogo.
Em outra frente de trabalho, os pesquisadores mapearam as áreas de regeneração no Brasil. “A área de vegetação secundária no Brasil superou 45 milhões de hectares em 2020, o que representa 8% de vegetação nativa no Brasil”, explica Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. “Essa vegetação secundária também precisa ser protegida e monitorada, especialmente aquela nas faixas de proteção dos corpos d’água e nascentes, ampliando a captura do carbono, aumentando a quantidade e qualidade das águas e a recuperação dos mananciais”.
O percentual de área natural identificado pelo MapBiomas engloba também vegetação secundária, ou seja, que já foi destruída e se recuperou, capturando carbono da atmosfera. “Quando a vegetação secundária é suprimida, e isso acontece com frequência, não só liberamos mais carbono para a atmosfera como interrompemos o processo de captura”, diz Rosa. “Ou seja, para favorecer o cumprimento de nossas metas climáticas, o Brasil precisa parar de desmatar florestas primárias e também as secundárias”.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias