Os influenciadores dominam as redes sociais e já movimentam uma indústria milionária. Ainda assim, segundo uma pesquisa recente realizada pela agência BRUNCH em conjunto com consultoria YOUPIX, a chamada “creator economy” brasileira ainda tem muito a se desenvolver no que se refere a autonomia, formalização e equidade racial.
Os dados obtidos apontam que influenciadores brancos fecham 30% mais projetos do que influenciadores não brancos. Além disso, a parcela de pessoas brancas que não realizam nenhum trabalho com marcas no mês é de 17%, enquanto, entre os demais, chega a 22%. Esta é a primeira vez que a pesquisa analisa o aspecto da equidade de gênero no segmento.
De 2019 a 2021, segundo o estudo, o percentual de influenciadores que vivem apenas da criação de conteúdo caiu de 25% para 16,8%, numa amostra de 274 entrevistados. Cresceu, assim, o conceito de “gigfluencers”, que são usuários que têm um emprego fixo e ganham uma renda extra como influenciador. O termo foi cunhado em uma pesquisa da empresa norte-americana ShopStyle Collective, que observou a intensificação desse movimento durante a pandemia, e que encontrou consonância em um Brasil abalado pela crise.
As publicidades e os trabalhos com marcas representam a principal fonte de renda dos influenciadores, mas mais da metade deles não emite nota fiscal para todos os trabalhos que realiza. Isso ocorre porque 23,7% sequer têm uma empresa aberta, aponta a pesquisa. De maneira semelhante, 54,4% fazem trabalhos sem contrato assinado. Ainda assim, é possível notar que o cenário está melhorando, tendo em vista que, em 2019, este número era de 76%.
“Esses novos dados da pesquisa mostram que muita coisa mudou e melhorou, mas precisamos de mais ações no sentido de construir um mercado onde todas as pessoas consigam de fato ter acesso a dinheiro e sustento econômico a partir do que estão fazendo no digital. Por isso, procuramos sempre provocar e puxar essas discussões”, diz Bia Granja, cofundadora da YOUPIX.
A pesquisa destaca também que a dependência algorítmica, ou seja, o trabalho baseado em plataformas como Instagram, Facebook e YouTube, é um dos principais desafios enfrentados pelos influenciadores brasileiros. Como diz Ana Paula Passarelli, COO da BRUNCH, “O ecossistema de influenciadores brasileiro depende das plataformas pela facilidade que elas oferecem para começar. São gratuitas, fáceis de usar e estimulam recompensas rápidas como números de seguidores e likes. Se essas recompensas imediatas ajudam no começo, é preciso ter cuidado a longo prazo.”
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Segundo o estudo, o Instagram é a plataforma mais utilizada por esses profissionais. Do total de entrevistados, 67,2% usam a rede social como principal meio de atuação, e para 66,2%, a plataforma é a que rende mais trabalhos. Em segundo lugar vem o YouTube, que apesar de ser a preferência de 15,3% dos entrevistados, perdeu 20% de espaço em comparação com 2019. Em seguida, vêm os blogues, com 5,5%, Twitter, com 4,4%, e TikTok, ainda com 2,6%.
“Quando influenciadores dependem exclusivamente das plataformas, eles correm o risco de perder tudo com as mudanças de algoritmos, mudança de comportamento da rede ou mesmo de encerramento de atividades da própria plataforma”, afirma Ana Paula. “Por isso, o caminho mais adequado é desenvolver comunidades em espaços proprietários para que a administração de dados e acesso a essas comunidades não sejam mediados por algoritmos. Bons exemplos são modelos de assinatura de conteúdo, site para cadastro e venda de produtos para as comunidades, e serviço de consultoria.”
O algoritmo do Instagram, por exemplo, passa por atualizações frequentes, e apesar de ser considerado uma unidade, cada recurso da plataforma – como feed, explore e reels – conta com um algoritmo próprio, desenvolvido de acordo com a maneira pela qual os usuários utilizam e navegam por esses recursos. Assim, manter-se em evidência e garantir uma renda fixa em meio a um ambiente tão instável pode ser um desafio.
“Recentemente, o Facebook anunciou um investimento de US$ 1 bilhão em um projeto de 18 meses para remunerar criadores no Instagram”, diz a executiva da BRUNCH, avaliando de que maneira essas plataformas apoiam o trabalho dos criadores de conteúdo. “À primeira vista é um grande número, mas US$ 1 bilhão não chega a 1% do valor que a empresa gera de receita no período. Para bases comparativas, o Youtube compartilha aproximadamente 50% da receita gerada por anúncios com os criadores. Mas há sinais de melhoras.”
E Bia Granja acrescenta que, no Brasil, esse ecossistema ainda é incipiente. “O The Information apontou que empresas de capital de risco já investiram mais de US$ 2 bilhões em 50 startups com foco em criadores de conteúdo nos Estados Unidos. Ou seja, o dinheiro para o desenvolvimento do setor, fora do país, ainda é muito maior.”
Cada vez mais, influenciadores estão explorando a sustentabilidade de seus negócios e urgindo plataformas a adotarem medidas para apoiá-los, enquanto uma migração total para canais proprietários ainda parece difícil. “Nos últimos meses, diversas plataformas anunciaram investimentos para remunerar os criadores em uma conclusão coletiva e consolidada. É preciso considerar que, sem criadores de qualidade, as plataformas ficam muito suscetíveis à desinformação e à perda de credibilidade. O que no final é prejudicial não só para a saúde do negócio, mas para a democracia.”
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