Os investimentos sustentáveis, apesar de ainda registrarem uma menor capitalização de mercado quando comparados aos tradicionais, não deixam a desejar no quesito rendimento. Estudos elaborados pelo norte-americano Morgan Stanley e divulgados em 2019 e 2020 mostram que os investimentos atrelados a critérios sustentáveis tiveram desempenho similar aos tradicionais entre 2004 e 2018, e chegaram a superá-los no primeiro semestre de 2020, ano do início da pandemia do coronavírus, em 4,3%, na comparação com igual período anterior.
Foi também durante a pandemia que os fundos ESG se multiplicaram ao redor do mundo. Muitos deles, inclusive, nasceram destinados aos consumidores do varejo. Atualmente, é possível encontrar fundos ESG cuja aplicação mínima é de R$ 100.
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Os fundos com foco em práticas ESG são, segundo Igor Cavaca, gerente de portfólio da Warren, a melhor maneira de iniciar investimentos sustentáveis. “Existe um grande problema no mercado. Para conseguirmos determinar se uma empresa é ESG, ela tem que querer fornecer informações. Como precisamos de um conjunto de dados grande para entender se ela atende aos critérios, necessitamos que uma mão de obra técnica faça a avaliação dessas informações. Por isso, os fundos são uma boa opção, porque temos equipe especializada para avaliar essas empresas”, afirma.
A Warren Investimentos, por exemplo, possui dois fundos ESG: o Warren Green e o Warren Equals. O primeiro, engloba todos os critérios ESG (meio ambiente, social e governança), e busca investir em empresas que comprovadamente pontuam bem em todos esses aspectos, de acordo com avaliação feita pela corretora. Já o segundo busca investir apenas em empresas destacadas por suas políticas de equidade de gênero.
Para avaliar em qual fundo investir, Fabio Alperowitch, cofundador e gestor da FAMA Investimentos, sugere olhar para as gestoras, não para as empresas por trás das ações: “É preciso entender quais compromissos que a gestora assumiu, como a vida privada das pessoas que dirigem essa gestora estão alinhadas com ESG, quais são as temáticas que historicamente essa gestora trata, para ver se existe uma consistência ou se é oportunismo.”
Alperowitch ressalta que existem muitos produtos de investimento que trazem o rótulo ESG, mas cujas gestoras fazem uma análise rasa das empresas, e acabam se aproximando do “greenwashing” – conceito utilizado quando uma empresa promove discursos associados a ESG, mas que não estão relacionados a ações consistentes ou implementadas . “Em geral, as gestoras ainda estão muito atrasadas. São poucas as que levam o compromisso a sério”, diz.
Entre as opções para investir sustentavelmente, além dos produtos com foco em ESG, há os chamados “investimento de impacto”. Neste caso, o investimento não considera apenas as práticas que mitigam os riscos sociais, ambientais e de governança, mas se a empresa opera de maneira ativa a promover impactos positivos nessas instâncias.
Segundo Nathalia Pereira, consultora da WayCarbon, porém, esse tipo de investimento ainda é muito restrito: “Há um desafio de distribuição e de redução da concentração dos investimentos aos investidores profissionais. São alguns bancos que oferecem opções de investimento de impacto para investidores menores, mas isso ainda é uma barreira.” Mas alternativas estão surgindo, destaca. “Uma opção interessante que temos visto é o modelo de “crowdfunding” ou empréstimo coletivo, que permite aportes pequenos em negócios com o objetivo de gerar impacto.”
Para Cavaca, da Warren, a tendência é que tanto investimentos com foco em ESG quanto os de impacto se tornem cada vez mais acessíveis. “Se uma pessoa conseguir investir R$ 1 que seja, já vai estar gerando algo positivo para o futuro. É importante garantir que existam fundos relacionados aos aspectos ESG com investimento inicial o mais baixo possível para permitir que qualquer pessoa tenha acesso a eles”, afirma.
Confira sete exemplos de fundos e títulos com foco em ESG:
Fundos com foco em ESG
Modalidade: Renda variável
É a maneira mais tradicional de investir por um viés ESG, e funciona de maneira análoga a um fundo de ações comum. Investidores adquirem cotas de um fundo, e seus recursos são aplicados em conjunto no mercado acionário. O montante total é o que compõe o patrimônio do fundo, que é aplicado por um gestor profissional de acordo com políticas pré-estabelecidas.
Os ganhos são divididos entre os participantes proporcionalmente aos valores depositados por cada um. A grande diferença é que, em um fundo ESG, as ações selecionadas pelo gestor são de empresas que cumprem com critérios de sustentabilidade ambiental, social e de governança.
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Compra direta de ações
Modalidade: Renda variável
Retira os “intermediários” da jogada, e consiste na aquisição de ações de empresas que cumprem com os critérios ESG. Dessa forma, você monta a sua carteira de forma autônoma, embora também seja possível seguir carteiras recomendadas, pesquisas de mercado, ou índices e prêmios distribuídos no setor.
Nesse tipo de operação, porém, é preciso atenção. Alperowitch, da FAMA, argumenta que investidores de varejo muitas vezes não possuem a capacidade de julgar se uma empresa é realmente sustentável ou não, sendo necessário ter um conhecimento mais aprofundado sobre os índices e as certificações do setor para fazer uma escolha consciente.
ETFs ligados a índices de sustentabilidade
Modalidade: Renda variável
Também chamados de fundos de índices, possuem a supervisão de um gestor profissional que direciona os recursos dos investidores. A diferença em relação aos fundos de ações é que a gestão ocorre de maneira passiva, quando o gestor não decide por conta própria em quais empresas investir, já que o propósito de um ETF (fundo de investimento em índices de Bolsa) é exatamente replicar um índice e, nesse caso, um de sustentabilidade.
Alguns exemplos são o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), o Índice de Carbono Eficiente e o S&P/B3 Brasil ESG. A função do gestor é usar os recursos dos investidores para comprar as mesmas ações incluídas na carteira do índice, e na mesma proporção. Ainda assim, é possível haver diferenças entre a rentabilidade dos dois, pois o gestor pode encontrar dificuldades ao replicar o índice em momentos de grandes oscilações do mercado.
Títulos verdes
Modalidade: Renda fixa
Similares aos títulos de dívidas comuns, são instrumentos emitidos por empresas, governos e entidades multilaterais negociados nos mercados com a finalidade de atrair capital para projetos – e, nesse caso, apenas aqueles considerados sustentáveis.
Assim, estão incluídas iniciativas relacionadas à adaptação às mudanças climáticas, conservação da biodiversidade terrestre e aquática, expansão da energia renovável, prevenção ou controle de poluição, transporte limpo, entre outros. Como são de renda fixa, podem ter base em modelos prefixados e pós-fixados.
Títulos sociais
Modalidade: Renda fixa
São equivalentes aos títulos verdes, apesar de ajudarem a custear projetos voltados ao âmbito social, como acesso a serviços essenciais, geração de empregos, programas para minimizar o desemprego decorrente da crise socioeconômica, habitação a preços acessíveis, infraestrutura básica, segurança alimentar, entre outros.
Durante a pandemia de Covid-19, os títulos sociais passaram a ocupar um pouco do espaço antes dominado pelos títulos verdes, auxiliando o mercado global de dívida sustentável a chegar ao recorde de US$ 732 bilhões no ano passado, segundo a “BloombergNEF”.
Títulos de sustentabilidade
Modalidade: Renda fixa
São títulos de dívidas que buscam custear projetos com caráter socioambiental – ou seja, unindo os propósitos dos títulos verdes e sociais. Vale notar que projetos sociais podem ter cobenefícios ambientais e vice-versa, mas o que define a classificação de um título é a determinação estabelecida pelo seu emissor com base em seus objetivos principais.
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Títulos vinculados à sustentabilidade
Modalidade: Renda fixa
São instrumentos de dívida que têm como objetivo fazer com que o emissor alcance metas ESG, levando em conta indicadores-chave de desempenho, também conhecidos como KPIs, que garantem a credibilidade do título. O valor a ser captado pode ser alterado dependendo do alcance ou não das metas de sustentabilidade pré-estabelecidas.
O emissor tem a possibilidade de partir de um indicador de energia renovável e estabelecer uma meta de atingir 100% de consumo de energia elétrica renovável até 2024, ou então definir o objetivo de reduzir em 15% a intensidade de emissões de gases de efeito estufa até 2030, entre outros.
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