A mineradora Vale iniciou ontem (1) a operação de seus primeiros seis caminhões fora de estrada autônomos no importante Complexo de Carajás, no Pará, ampliando o uso da tecnologia já empenhada em Minas Gerais que dispensa a presença de operadores dentro das cabines, em busca de mais segurança, ganhos operacionais e ambientais.
Em Carajás, onde está o maior complexo produtor de minério de ferro da Vale, a expectativa é de ganho de produtividade com os gigantes caminhões autônomos, pela “operação mais eficiente e estável”, mas a companhia considera que projeções sobre um aumento de produção com o equipamento dependem de vários outros fatores.
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Esses novos transportadores de minério de ferro – com quase o dobro da altura e mais que o triplo da largura de um veículo convencional – vão operar ao lado caminhões não-autônomos na região de Carajás, que conta atualmente com uma frota de cerca de 120 unidades.
Até o final de 2021, Carajás deverá ganhar outros quatro caminhões autônomos, somando um total de dez, todos na área no entorno da mina N4E – a mais antiga da Vale na região.
Os veículos, com capacidade para transportar 320 toneladas, têm 16,2 metros cumprimento, 7,4 metros de altura e 8,7 metros de largura.
A escolha da localidade, embora emblemática, levou em conta motivos operacionais e de segurança, principalmente por ser um local que oferece maior capacidade de ficar isolado para a realização dos testes, que ocorreram desde 2019, disse à Reuters o gerente do Programa Autônomos, Pedro Bemfica.
“O principal objetivo do projeto é realmente trazer segurança… A gente embarca tecnologia dentro dos caminhões, com o objetivo de tirar as pessoas do risco inerente”, disse Bemfica, em entrevista por videoconferência, pontuando que os caminhões também entregam resultados operacionais e ambientais.
Questões de segurança envolvendo a Covid-19 também foram consideradas para o início da operação comercial dos caminhões autônomos, inicialmente prevista para o final do primeiro semestre de 2020, conforme a Reuters reportou em 2019.
“A Vale assumiu o compromisso de reduzir emissões de carbono. Os autônomos são uma excelente alavanca para isso”, acrescentou Bemfica.
A previsão atual é que o desempenho mais constante dos caminhões e o aumento da sua velocidade média, devido à operação autônoma, permita uma redução de cerca de 5% no consumo de combustível, o que resulta em volume mais baixo de emissões de CO2 e particulados.
Com base em dados do mercado, espera-se ainda um aumento da vida útil dos equipamentos na ordem de 7%, o que reduz a geração de resíduos como peças e lubrificantes, e proporciona um desgaste 25% menor dos pneus, o que também levará a uma menor geração de resíduos.
O projeto prevê ainda um aumento da competitividade da operação da Vale. Haverá maior eficácia, que resultará em maior produtividade horária. Os custos de manutenção devem cair 3%.
Bemfica destacou que a companhia planeja ampliar ainda mais o número de caminhões autônomos na região, a partir do próximo ano, atingindo futuramente um total de 37 unidades, somando investimento de US$ 64 milhões. Desde os testes até o momento, foram empenhados US$ 36 milhões nesse projeto.
Além dos caminhões sem motoristas, também estão em operação no Complexo de Carajás quatro perfuratrizes autônomas, e o projeto é que mais três comecem a operar até o final do ano.
Na mina gigante S11D, também no Complexo de Carajás, a Vale não utiliza caminhões, devido à adoção de um sistema chamado “truckless”, um conjunto de estruturas composto por escavadeiras e britadores móveis interligados por correias transportadoras.
A operação autônoma começou a ser implantada pela Vale na mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), em 2016, e hoje abrange todos os 13 caminhões fora de estrada dessa unidade. Desde a implantação em Brucutu, não foi registrado nenhum acidente causado pelos caminhões, segundo Bemfica.
O programa de autônomos da Vale, pontuou o executivo, continua em expansão, com um investimento total previsto de cerca de 34 milhões de dólares em 2021.
Outras regiões e capacitação
Com a entrada em operação em Carajás, a Vale terá até o fim do ano um total de 23 caminhões autônomos, 21 perfuratrizes e três pátios (empilhadeiras e recuperadoras) em Pará, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
No exterior, a operação autônoma já é realidade no Canadá, com perfuratrizes e carregadeiras para minas subterrâneas, e na Malásia, com máquinas de pátio.
Bemfica destacou que a implantação em Carajás está sendo acompanhada de um plano de recursos humanos para capacitar os empregados a trabalhar com as novas tecnologias digitais.
Ao tirar os operadores de dentro dos caminhões, torna-se necessário a presença de profissionais em salas de controle, em ambiente afastado, mas que zelam pelas atividades dos grandes veículos.
Além disso, outros equipamentos que circulam pela mina, como motoniveladoras e tratores, continuarão sendo tripulados. Dessa forma, operadores que permanecem em campo também precisam de treinamento para lidar com os veículos não tripulados.
“(Esses profissionais) passam a contar também com tecnologia embarcada no equipamento para ter visibilidade do ambiente da mina”, destacou.
Já foram capacitados 32 operadores em Carajás e até o final do ano este número chegará a 120. Serão 208 horas de treinamento para cada operador, totalizando quase 25 mil horas.
Nos próximos 12 meses, a operação será assistida pelo fornecedor dos caminhões. A previsão é que, após esse período, a Vale assuma totalmente a operação. Quando isso ocorrer, novos postos de trabalho serão criados em salas de controle, distante da frente de lavra. (Com Reuters)
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