Houve uma época em que falávamos “olha, no futuro, as mudanças climáticas vão afetar o planeta inteiro”. O futuro, neste caso, já chegou; as temperaturas estão cada vez mais altas e temos uma urgência maior ainda de implementar projetos que minimizem os danos para a humanidade. É aí que entra o trabalho da Carbonext, que já preserva cerca de dois milhões de hectares de Floresta Amazônica em risco de desmatamento (a área monitorada ultrapassa os 5 milhões de hectares). Tal preservação se transforma em créditos de carbono, comercializados para pessoas físicas e jurídicas. A empresa é responsável pelo gerenciamento do ciclo de produção e comercialização dos créditos (os projetos são verificados pelo Verra, maior certificadora de projetos de carbono no mundo).
Desde 2010 no mercado, a Carbonext deu um salto de crescimento no início da pandemia: da fundação à pandemia, a empresa tocava três projetos – agora, são 23. “A quarentena uniu a família e inovamos na condução dos projetos, criando uma espécie de linha de produção de fábrica, com mais gente envolvida e bastante tecnologia envolvida”, disse a fundadora e coCEO Janaina Dallan, engenheira florestal que trabalha com crédito de carbono desde 2001 e compõe o time brasileiro de especialistas da ONU para mudanças climáticas. “Projetos que necessitavam de dois a três anos para andar começaram a ser concluídos em uma média de 10 meses”, completa o coCEO Luciano Corrêa da Fonseca, irmão caçula de Janaina, economista e mestre em ciências políticas, na empresa desde 2020, com histórico longevo no mercado financeiro, experiência de 15 anos em private equity.
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Entre os projetos, o Evergreen foca na proteção de florestas em uma das regiões com maior índice de desmatamento do norte do Brasil: Apuí (AM). Trata-se de uma área de mais de 157 mil hectares, que começou a ter fauna e flora monitoradas em 2020, além da medição do estoque de carbono. Como em todos os projetos, considerando as cerca de 30 milhões de pessoas que vivem na Amazônia, a Carbonext tem entre seus pilares o desenvolvimento de atividades para a produção de renda nas comunidades. O projeto mais antigo é o Ituxi, de 2013, com área preservada de 46.592 hectares, em Lábrea (AM), outro município que fica no “Arco do desmatamento” – um corredor que vai do Acre ao sul do Pará, cruzando Rondônia, Mato Grosso e Amazonas.
Só nos cinco primeiros meses deste ano, os projetos da Carbonext geraram algo em torno de R$ 150 milhões em créditos no mercado voluntário de carbono. Em julho, houve o aporte de R$ 200 milhões em seu capital graças à parceria com a Shell Brasil, que virou sócia minoritária da companhia. Foi a segunda rodada de captação – na primeira, entraram R$ 25 milhões.
A companhia também pode funcionar como a porta de entrada para quem quer salvar o mundo e não sabe como dar o primeiro passo. No site da Carbonext, é possível calcular a sua pegada de carbono a partir do gasto energético domiciliar, hábitos de deslocamento e de viagem, e escolher entre três pacotes: carbono neutro (neutraliza 100% das suas emissões mensais), carbono consciente (neutraliza 50%) e carbono negativo (neutraliza 200%).
Os irmãos Janaina e Luciano ficam em silêncio por um instante quando questionados de onde vem o apreço pela natureza. Até que Luciano responde com a anuência de Janaina. “Estudamos na Escola Comunitária de Campinas (SP), que era afastada e muito arborizada – cada classe tinha um jardim.” “Sempre sonhei em trabalhar com o meio ambiente e ter a minha empresa”, acrescenta a irmã.
*Reportagem publicada na edição 102, lançada em outubro de 2022