O Dia do Presidente, comemorado na última segunda-feira (18) nos Estados Unidos, pode ser um simples feriado para os norte-americanos comuns, mas para os apreciadores de vinho é uma oportunidade de relembrar a história dos enófilos presidenciais.
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Os historiadores especializados na bebida sabem um pouco mais sobre essa legado: dos sóbrios, como George W. Bush e, aparentemente, o atual ocupante da Casa Branca, Donald Trump, que, ironicamente, é dono de uma vinícola, e o dos consumidores, que são muitos.
Além disso, eles também sabem quem era mais pão-duro em relação ao consumo e à compra da bebida: segundo relatos, Richard Nixon servia vinho barato aos hóspedes enquanto ele mantinha uma garrafa de Chateau Margaux para seu próprio consumo. Em seu livro, “Mint Juleps with Teddy Roosevelt: The Complete History of Presidential Drinking”, sem versão em português, o autor Mark Will-Weber aponta que Tricky Dick era conhecido por ligar, bêbado, para outras figuras políticas durante à noite.
Além de Nixon, alguns outros eram sorrateiros sobre seus hábitos. Herbert H. Hoover, assim como Nixon, era Quaker — membro de um grupo religioso protestante – e também colecionador de vinhos, com adegas na Califórnia e em Londres. “Por conta da Lei Seca, sua esposa jogou fora a preciosa coleção de vinho, e ele então passou a apreciar a bebida ao visitar amigos na embaixada belga, onde a legislação não valia”, escreve Christopher Cumo, em seu livro “The SAGE Encyclopedia of Alcohol: Social, Cultural, and Historical Perspectives” (sem versão em português).
Já outros líderes eram embaixadores de vinhos menos conhecidos. Ronald Reagan, chamado de “O Grande Comunicador” e 40º presidente dos Estados Unidos, era um fervoroso defensor dos vinhos da Califórnia, seu estado natal, e costumava abastecer a Casa Branca com muitas garrafas da região.
Os fundadores
O consumo sério e de qualidade começou durante a era Federalista da América, e todos os presidentes atuais deveriam ser gratos à George Washington, o primeiro Pai do Vinho, por introduzir a bebida na primeira Casa Branca.
A partir de arquivos encontrados na propriedade de Mount Vernon, na Virgínia, a primeira requisição documentada de George Washington à seu agente de Londres, em 1759, veio à tona: “Peça, da melhor Casa da Madeira, uma caixa do melhor e mais antigo vinho, e deixe-a guardada”. (Uma caixa inglesa conta com cerca de 129 galões americanos de vinho, ou cerca de 654 garrafas de 750 mililitros.) Uma correspondência seguinte mostra pedidos de Washington diretamente à agentes da Madeira, encomendando “um vinho mais oleoso”.
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O primeiro presidente costumava tomar uma taça de vinho Madeira todos os dias durante o jantar, e a bebida sempre tinha lugar na mesa em outras ocasiões, afirmou Bartholomew Broadbent, um dos principais especialistas da região.
“A Constituição e a Declaração da Independência foram ambos brindados com vinhos de Madeira (50 garrafas, segundo algumas contas), e Betsy Ross contou com uma mesa repleta de vinhos – também da Madeira – enquanto costurava a primeira bandeira norte-americana”, declarou ele.
Washington permaneceu fiel ao vinhos da região (e ao vinho do Porto, ocasionalmente) ao longo de toda a sua vida, aumentando cada vez mais suas encomendas.
Thomas Jefferson: o primeiro sommelier dos EUA
Talvez nenhum outro ex-presidente fosse tão associado ao estilo de vida do vinho como Thomas Jefferson. Como embaixador na França, ele viajou por toda a Europa e foi um cronista dedicado a suas viagens e bebidas. Seu livro contábil detalha compras de vinhos finos, e oferece uma visão de outras bebidas consumidas por ele.
“Jefferson foi o precursor dos atuais apreciadores de vinho norte-americanos. Quando seus Burgundies e Bordeaux ficaram mais caros, ele se voltou para os vinhos mais baratos do sul da França, Itália e Portugal”, escreveu John R. Hailman em seu livro “Thomas Jefferson on Wine” (sem versão em português).
O terceiro presidente do país foi o primeiro a plantar vinhas nos Estados Unidos, em Monticello, sua casa na Virgínia. Ele pode ser considerado uma espécie de “profeta”, pois vislumbrou o país como uma terra onde o cultivo da uva poderia fornecer não apenas vinho, mas também uma renda para os pequenos agricultores, assim como na Borgonha, diz Richard Leahy, autor de “Beyond Jefferson’s Vines: The Evolution of Quality Wine in Virginia”, também sem tradução para o nosso idioma.
Segundo Leahy, Jefferson enxergava o vinho como uma ferramenta que poderia ajudar a civilizar a América. “Mas, talvez, prever o futuro do vinho fosse sua maior contribuição”, brincou.
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“Agora produzimos vinho em todos os estados. Podemos cultivar novas uvas nos EUA com base na hibridização das variedades europeias clássicas e os mais variados tipos norte-americanos. Acho que Jefferson adoraria ver tudo o que foi conquistado”, disse. Embora não tenha tido sucesso na produção de vinho em Monticello, hoje, com 276 vinícolas, o estado da Virgínia é o sexto maior produtor de vinho do país.
Thomas Jefferson também era politicamente experiente em relação ao vinho. “Ele via a bebida de forma saudável e a ser apreciada com moderação. Introduziu o vinho na classe política, como uma maneira de aproveitar mais a vida, mas também derrubar as barreiras entre as pessoas”, disse o escritor.
Infelizmente, a paixão de Jefferson o deixou à beira da morte. Sua vida, no entanto, foi muito bem vivida.
O barman abstêmio
Assim como George Washington, o 16º presidente do país nasceu em fevereiro. Lincoln era conservador em sua política e em suas tolerâncias. Eleito na época em que o movimento de temperança (movimento social contra o consumo de bebidas alcoólicas) estava ganhando força, por volta de 1860, seu status de abstêmio era politicamente correto. Ironicamente, durante sua infância em Kentucky, o pai de Lincoln trabalhou em uma destilaria perto de Knob Creek, e por incrível que pareça, quando jovem, o ex-presidente foi o coproprietário da Berry and Lincoln, uma loja de bebidas em New Salem, no estado de Illinois. Mas ele próprio não se importava com os negócios, tendo em vista que beber o deixava “fraco e perdido”.
Veja, na galeria abaixo, vinhos capazes de fazer você beber como um presidente:
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Foto Rep Google Octagon, Barboursville
Com um design da casa Jefferson projetado, em seu rótulo, para a família Barbour, o Octagon é um vinho proprietário de Barboursville que agora faz parte da Zonin, produtora de vinhos italiana. Uma mistura de Bordeaux e Merlot (58%) com Cabernet Franc (15%), Cabernet Sauvignon (6%) e Petit Verdot (21%), o vinho é envelhecido por 12 meses em barricas de carvalho francês. Seu aroma e sabor lembram frutas assadas, grãos de café e chocolate amargo, e apesar de sua cor clara, ele é seco e saboroso, feito do jeito mais antigo.
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Foto Rep Google Broadbent Rainwater Madeira
Produzido a partir da Tinta Negra e envelhecido em cascos de carvalho por três anos, este “best-seller” do portfólio da Broadbent é refrescante, sendo o tipo mais leve proveniente da Madeira – meio seco, um pouco doce e com toques de caramelo, a bebida é aromatizada com tâmaras. É ideal como um vinho de sobremesa e pode até mesmo ser servido com aperitivos, saladas ou queijos.
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Foto Rep Google Broadbent 10 anos Malmsey
Este Malmsey, à base de uva malvasia, é a versão mais doce e encorpada da região da Madeira: 119,70 gramas por litro de açúcar residual para 67,5 de água de chuva. “Mas a sua acidez – marca registrada do local – permite que a bebida seja combinada com qualquer sobremesa, mesmo cítrica ou balsâmica”, afirma Broadbent. Com um leve sabor de mel e final seco, é ideal para combinar com sobremesas ou ser tomado até puro.
Os vinhos da Madeira são conhecidos por seu sabor forte, e, uma vez que a garrafa esteja aberta, seu palato não se perde. Pode ser apreciado ao longo de meses ou até mesmo de anos.
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Foto Rep Google The Federalist Lodi Zinfandel.
Embora tenha “primos” europeus, a zinfandel é uma das primeiras uvas norte-americanas, e este vinho, gerido por Zin (93%), faz referência ao primeiro presidente dos EUA. O cheiro de frutas vermelhas e especiarias é combinado com o palato de frutas mais escuras (ameixa e amora). Taninos encorpados, bem geridos e um sabor longo tornam este vinho agradável e moderno. A bebida é envelhecida por 12 meses, em 25% de carvalho norte-americano.
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Foto Rep Google The Federalist Honest Red Blend
Uma mistura de Merlot, Zinfandel e Cabernet Sauvignon, este é um agradável vinho do estilo “beba agora”. O aroma representa o carvalho, frutas vermelhas azedas, alguns toques herbáceos e balsâmicos. Já no sabor, frutas vermelhas e negras são combinadas com um paladar de chocolate e taninos. Não é complexo, mas é delicioso – diferente de Lincoln, presidente ao qual presta homenagem.
Octagon, Barboursville
Com um design da casa Jefferson projetado, em seu rótulo, para a família Barbour, o Octagon é um vinho proprietário de Barboursville que agora faz parte da Zonin, produtora de vinhos italiana. Uma mistura de Bordeaux e Merlot (58%) com Cabernet Franc (15%), Cabernet Sauvignon (6%) e Petit Verdot (21%), o vinho é envelhecido por 12 meses em barricas de carvalho francês. Seu aroma e sabor lembram frutas assadas, grãos de café e chocolate amargo, e apesar de sua cor clara, ele é seco e saboroso, feito do jeito mais antigo.