A 91ª cerimônia do Oscar acontece hoje (24), e uma análise sobre os longas indicados a Melhor Filme, publicada na última segunda-feira (18) e realizada pela startup sueca Ceretai, revela que Hollywood ainda tem problemas de desigualdade de gênero. Ao compararem o tempo das falas de homens e o de mulheres, os pesquisadores descobriram que a média aproximada foi de 71% a 29%, respectivamente. Os homens continuam dominando o mercado de filmes populares, o que evidencia um problema para além de Hollywood.
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A Ceretai, especializada em realizar análises automatizadas sobre diversidade na mídia, examinou os oito filmes indicados ao título mais esperado da noite por meio de seu algoritmo e registrou o tempo de fala de personagens masculinos e femininos. O programa utilizou reconhecimento facial e de voz, entre outras ferramentas, e ainda houve uma checagem manual dos pesquisadores. Os resultados mostram que as mulheres ainda têm um longo caminho a ser percorrido para alcançar a equidade de gênero em Hollywood.
As informações obtidas reafirmam estudos anteriores, que indicam que, nos oitos longas indicados anualmente a Melhor Filme, homens superam mulheres em uma proporção de 3 para 1. Entre 1977 e 2006, as pesquisas contabilizaram 6.833 personagens falantes, mas apenas 1.865 (27%) desse número eram mulheres. Já a média do tempo de fala dos personagens era ainda pior do que é hoje, com apenas 25% das falas feitas por mulheres.
Outra análise comumente aplicada a filmes é o Teste de Bechdel, que utiliza três critérios: ter duas personagens femininas com nomes (1), que conversam entre si (2) e sobre um assunto sem relação com um homem (3). Não parecem ser critérios complicados, mas um número surpreendentemente alto de filmes não passa na avaliação.
Segundo uma análise da BBC, apenas 49% dos vencedores do Oscar de Melhor Filme, entre 1929 e 2017, passaram no Teste de Bechdel. Em outras palavras, mais da metade dos melhores filmes do ano nem sequer tem dois personagens femininos que conversam entre si para falar sobre algo além de um homem.
No entanto, isso não significa que filmes estrelados por mulheres não arrecadem dinheiro. Um estudo recente das 350 obras com maior bilheteria entre 2014 e 2017 descobriu que o estrelato feminino superou o masculino. Talvez o motivo seja porque há poucos filmes que destacam o papel das mulheres, ou porque precisam de uma produção mais elaborada, ou seja, precisam ser de boa qualidade para conseguirem arrecadar o investimento necessário e receberem o aval para serem produzidos. De qualquer forma, isso ainda não é suficiente para estimular as produtoras a produzir mais filmes com mulheres.
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Por que isso não é só um problema de Hollywood
É estimado que 180 milhões de norte-americanos assistam a filmes e programas televisivos a cada mês. Os indicados a Melhor Filme são, supostamente, as melhores produções do ano no cinema. Mas o que vemos quando assistimos a esses longas? Homens em papéis de liderança, no comando. Assim, quando não estamos assistindo a filmes, na hora de votar, de promover um empregado ou contratar um novo funcionário, por exemplo, tendemos a pensar que o homem é mais qualificado. É o que vemos nos filmes e o que impacta na forma como pensamos, o que cria o que psicólogos chamam de inconsciência a favor dos homens.
A diretora de tecnologia da Ceretai, Julia Dahlgren, explica que um maior tempo de fala de homens nos filmes passa a mensagem indireta de que vale mais ouvir o que um homem tem para dizer. “O primeiro passo para mudar essa realidade é ter mais consciência do problema, o que pode ser feito por meio da pesquisa”, afirma. Com a finalidade de promover a conscientização sobre a desigualdade de gênero no cinema, a Ceretai planeja lançar o Jämra, aplicativo que visa coletar informações sobre diversidade e inclusão em filmes. Muitas vezes, conscientizar é um elemento catalisador para reduzir a desigualdade, mas Hollywood parece ser um osso duro de roer.
Veja, no infográfico abaixo, a porcentagem de tempo de fala de homens e de mulheres nos oito filmes indicados a Melhor Filme neste ano:
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