No Réveillon de 1930, o empresário americano Harvey Firestone, fundador da fábrica de pneus e borrachas homônima, inaugurou o The Surf Club, clube fechado para sócios na região norte de Miami Beach. O estabelecimento, exclusivíssimo, atraiu personalidades como Elizabeth Taylor, Frank Sinatra, Grace Kelly e Winston Churchill – o primeiro-ministro britânico foi clicado em 1946 enquanto pintava um quadro da paisagem, em sua private cabana no local.
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Com o tempo, os anos dourados deram lugar ao esquecimento. Até que, em 2012, a propriedade foi adquirida pela incorporadora Fort Partners e se tornou mais uma vez um destino em evidência.
Lembro-me de ter ficado impressionado, durante as obras, ao ver as estruturas ocas do Surf Club erguidas e sustentadas por muitos macacos hidráulicos, enquanto as fundações dos novos edifícios eram preparadas. Após a incrível renovação do prédio histórico, ele passou a contar também com um híbrido de hotel e branded residences operadas pela bandeira Four Seasons, com restaurantes e bares, spa, cabanas de praia e lojas, tudo espalhado por um terreno de mais de 35 mil metros quadrados em frente ao mar.
Inaugurado há cerca de um ano, o empreendimento colocou no mapa, mais uma vez, um trecho de praia que nem era mais lembrado. Muito se ouvia sobre Miami Beach e Bal Harbour, mas quase ninguém falava de Surfside. Isso mudou completamente com a chegada do Four Seasons, com seu irretocável requinte e a reconhecida qualidade de seus serviços.
O projeto foi idealizado pelo premiado arquiteto Richard Meier e tem interiores assinados pelo francês Joseph Dirand. O hotel em si foi planejado para N “poucos e bons”: são apenas 77 quartos disponíveis para os hóspedes, todos com enormes janelas panorâmicas do teto ao chão e vistas para o mar, para a baía ou para a cidade. A paleta de cores pensada por Dirand combina branco, verde-claro e azul, uma alusão à combinação entre areia, mar e sol.
O décor é realmente um dos pontos fortes do hotel. Não foram poucas as fotos que tirei da suíte e seus detalhes – enquanto repetia para mim mesmo: “Quero ter um quarto assim”. Já as residências administradas pelo Four Seasons estão localizadas em duas torres, onde todos os proprietários contam com total acesso às áreas do clube. A maior comprovação de que o empreendimento é um produto diferenciado, mesmo, é o fato de que ali vários poderosos do mundo dos negócios fixaram suas residências de praia, no sul da Flórida. Andrew Rosen, CEO da varejista de moda Theory, comprou uma unidade por US$ 5,15 milhões; Alan Greenberg, presidente da escola Avenues, adquiriu um apartamento de US$ 7,7 milhões; e o casal Joseph Thomas Elbling, CEO da Digicon, e Maria Beatriz Martins Elbling pagou US$ 10,5 milhões por seu imóvel. A cobiçada cobertura de 650 metros quadrados foi adquirida em dezembro deste ano pelo bilionário Neil Bluhm, por US$ 20,4 milhões.
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As áreas comuns não são menos atraentes – destaque para o lobby, numa área que fazia parte do prédio original do Surf Club, talvez um dos mais elegantes, aconchegantes e bem-decorados espaços da hotelaria mundial – não dá vontade de sair de lá. Na área externa, são três piscinas, 40 cabanas de descanso e um clube de lazer voltado às crianças – sejam hóspedes ou residentes. Na enorme faixa de areia de praia, toda a estrutura de mobiliário e serviços de bar e restaurante para quem não quer perder um segundo de sol e mar.
Depois de alguns dias hospedado no Four Seasons Surfside, a sensação era a de estar em um hotel butique. O número reduzido de apartamentos e as muitas opções de lazer emprestam a ele uma inestimável sensação de privacidade e exclusividade.
Em termos de gastronomia, não há como se decepcionar. O Le Sirenuse é um mix entre restaurante e bar de champanhes viabilizado por meio de uma parceria entre a propriedade e o hotel Le Sirenuse (localizado em Positano, na Costa Amalfitana da Itália). Em funcionamento desde a inauguração do hotel, ele traz pratos da culinária italiana servidos onde, no passado, funcionava o salão do The Surf Club – muitos detalhes originais, como as lareiras, o teto de madeira e os arcos das janelas, foram preservados. Sem dúvida, um dos hotspots da cena noturna de Miami. O serviço é primoroso e lembra alguns dos melhores endereços da Europa, unidos à decoração e ao público de uma Miami muito sofisticada e cosmopolita. Apesar da especialização do bar em champanhes, os coquetéis são igualmente fantásticos. Dica deste que vos escreve: peça um Old Fashioned – muito provavelmente, o melhor da Flórida.
O aguardado segundo restaurante, o The Surf Club Restaurant by chef Thomas Keller, foi inaugurado no verão de 2018. O chef, dono do grupo homônimo de restaurantes, está por trás dos reverenciados Per Se e The French Laundry. Para seu primeiro estabelecimento em Miami, propôs um conceito focado nos pratos clássicos da culinária americana e continental, executados com perfeição – e com o uso de ingredientes frescos. Em pouco tempo, já é parada obrigatória de jet-setters.
Em sua próxima ida a Miami, (re)descubra o Surf Club e veja com os próprios olhos por que ele encanta tanta gente famosa e poderosa há décadas.
Reportagem publicada na edição 64, lançada em janeiro de 2019