Destino glamouroso em qualquer época do ano, Mônaco reluz ainda mais em duas datas especiais do calendário de grandes eventos. A primeira é em maio, quando sedia a tradicionalíssima corrida de Fórmula 1. A segunda é em setembro, quando é realizado o Mônaco Yacht Show (MYS, este ano em sua 29ª edição), a maior exibição de iates de luxo da Europa e a única exclusivamente dedicada a superiates.
Em um cenário náutico eletrizante, cerca de € 4 bilhões em iates estarão à mostra, de 25 a 28 de setembro, no coração do principado – para onde estarão apontadas as bússolas dos apaixonados pelo mar.
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O palco do MYS é o histórico Port Hercule, a marina onde se concentram os grandes barcos que costumam estampar as belas imagens panorâmicas de Mônaco (além dela, há outras duas marinas relevantes, a de Porto Fontveille e a de La Condamine, a pequena enseada que abriga o porto de Monte Carlo – ambas igualmente com os píeres salpicados de iates).
Segundo Gaëlle Tallarida, diretora geral do evento, a exposição é dedicada – e exclusiva – a barcos com mais de 25 metros de comprimento (o que, em medida náutica, equivale a 82 pés, dimensão mínima para uma embarcação ser incluída na categoria dos iates; abaixo disso são consideradas lanchas). Serão 125 embarcações desse tipo em exibição, com preço médio de € 32 milhões. A maior delas tem 107 metros de comprimento (351 pés), que é quase o máximo que o espaço físico de Port Hercule pode suportar. Alguns barcos, aliás, são tão grandes que não conseguem manobrar no porto de Mônaco, como também é o caso do Madsummer, de 95 metros, que será exposto pelo estaleiro alemão Lürssen.
Gaëlle lamenta não ter mais espaço na marina para ampliar a feira. “O principado oferece um cenário acolhedor e festivo, o que torna o evento muito atrativo para os clientes. Se não existisse a limitação física, poderíamos certamente acomodar o dobro de iates”, calcula a diretora – para quem o setor de grandes barcos de luxo está em expansão. “A demanda é superior à oferta. Dezenas de milionários surgem a cada ano aspirando ter um iate”, revela.
No ano passado, 33 mil pessoas passaram pelo Mônaco Yacht Show, que tem como potenciais compradores os europeus em geral, os bilionários russos em particular e os indefectíveis xeiques árabes, que chegam para assistir à exposição a bordo de enormes helicópteros ou de seus iates cinematográficos.
O brasileiro Carlos Eduardo Calza, que tem uma empresa de gerenciamento de iates com clientes no principado, e que até recentemente foi diretor do Yacht Club de Mônaco, faz um alerta para quem pretende ir à exposição: “A subida nesse tipo de embarcação é exclusiva. É só você e seus possíveis acompanhantes que vão visitar o barco. Por isso, é necessário marcar hora nos estaleiros. Às vezes, a visita é marcada com um ano de antecedência”.
A marina Port Hercule tem cerca de 600 vagas. Com a ocupação de seus píeres pelos iates da exposição, os barcos que normalmente atracam ali são transferidos para a baía de Monte Carlo, onde ficam ancorados ao lado das embarcações visitantes. Cerca de 250 grandes embarcações se concentram nessa área, num curioso contraste com os barquinhos de pescadores que resistem ao tempo.
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É um espetáculo de beleza impressionante – e por vezes uma divertida competição de egos, com proprietários a bordo de seus megaiates, cada um querendo mostrar que seu barco é maior que o do vizinho.
Espiando com atenção, você acabará reconhecendo um ou outro visitante ilustre. “Aquele ali, a bordo do iate Petara, de 176 pés, não é Bernie Ecclestone, antigo chefão da F-1?” “É ele mesmo. E aquele gigante de 236 pés, o Axioma, é do bilionário russo Dmitry Pumpyansky.” A presença da família real (o príncipe Albert 2º nunca falta) é outro atrativo.
E o que fazem esses donos de palácios flutuantes em Mônaco, além de despertar nos mortais o pecado da inveja? Estão ali para conferir de perto as últimas criações dos principais estaleiros europeus, como o alemão Lürssen Yachts, os holandeses Amels, Feadship e Oceanco, os britânicos Sunseeker e Princess Yachts, o australiano Silver Yachts e os italianos Azimut, Benetti, CRN, Ferretti e Sanlorenz. E aproveitam para deixar engatilhadas suas encomendas, em transações que são concretizadas nos meses seguintes.
CANNES ABRE A TEMPORADA
Dez dias antes do MYS, é realizado o Cannes Yachting Festival, em que as marcas mais importantes do setor náutico apresentam suas novidades, inaugurando oficialmente a temporada europeia de barcos. Em sua 42ª edição (de 10 a 15 de setembro), a feira da Riviera Francesa apresentará cerca de 700 barcos, dos mais diversos tamanhos, sendo 150 iates com mais de 23 metros de comprimento. A exposição se concentra em duas grandes marinas de Cannes, a Vieux Port e a Port Canto. Entre seus mais de 50 mil visitantes costumam se misturar celebridades do festival de cinema: Leonardo DiCaprio, Sharon Stone, Clint Eastwood e Steven Spielberg são alguns dos famosos que já marcaram presença.
As exposições de Cannes e de Mônaco formam – ao lado das feiras de Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, e de Düsseldorf, na Alemanha – uma espécie de Grand Slam dos salões internacionais de barcos.
ALGUÉM DO SEU TAMANHO
As lanchas costumam ser divididas em três categorias: pequenas (até 25 pés), médias (de 25 a 38 pés) e grandes (de 40 a 75 pés). Um pé equivale a 30,48 centímetros, ou seja, 10 pés equivalem a cerca de 3 metros. São chamadas de iates as embarcações que ultrapassam os 24,3 metros de comprimento (80 pés).
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Mônaco é, por excelência, o reduto desses gigantes dos mares. Diz-se, em tom de brincadeira, que a vida começa aos 80 no MYS. Isso indica uma evolução significativa a partir da primeira edição, em 1991, organizada pelo empresário francês Maurice Cohen, quando havia apenas 32 iates ancorados em Port Hercule, com comprimento médio de 31 metros, ou 102 pés. Em 2013, o Quattroelle tinha 282 pés; em 2014, o Equanimity media 300 pés; em 2017, o maior de todos era o Jubilee, de intermináveis 361 pés.
Em 1994, os direitos da feira foram vendidos para a IIR, principal empresa de conferências do mundo, que transformou o Mônaco Yacht Show num dos principais eventos do setor. Em 2003, foi a vez da IIR trocar de mãos, adquirida pela editora e promotora de eventos britânica Informa. Consequentemente, o MYS foi junto. A nova dona do show (hoje um de seus ativos mais preciosos) já no primeiro instante tomou a decisão de expor apenas superiates. Desde então, tudo ali é grandioso, da conta bancária dos compradores ao preço dos luxuosos itens em exposição.
Em 2019, a organização do MYS revelou que o gigante da exposição será um iate de 107 metros (351 pés), mas guarda segredo sobre os nomes do barco e de seu proprietário. Especula-se que seja o IJE, construído sob encomenda pelo estaleiro italiano Benetti (com projeto da britânica RWD) para o bilionário australiano James Packer, ao custo de US$ 200 milhões.
Maior iate de todos os tempos a participar do show, o já citado Jubilee (do comprimento de um campo de futebol), foi construído para o emir do Qatar pelo estaleiro holandês Oceanco Yachts ao custo de € 275 milhões. Tem 15 cabines (incluindo uma suíte para os proprietários, quatro suítes VIP e dez suítes simples), distribuídas por seus seis deques, e uma estrutura que inclui um heliponto, sala de esportes, elevador, piscina na popa em estilo de aquário e beach club, além de todos os luxos que se pode esperar de uma embarcação desse porte. Para empurrar tudo isso, dois motores de 4.828 hp cada um.
A expectativa, agora, é saber qual iate irá superá-lo, ao menos em tamanho, nos próximos Mônaco Yacht Show. Vale lembrar que, com um comprimento de 180 metros (590 pés), o Azzam ocupa orgulhosamente o primeiro lugar como o maior iate privado do mundo, à frente do Eclipse, de 162,5 metros (533 pés), pertencente ao empresário russo Roman Abramovich. Mas esses gigantes não conseguiriam entrar na marina de Port Hercule.
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Paralelamente à exposição de iates, os estaleiros patrocinam programações especiais, que misturam gastronomia e festas regadas com os melhores champanhes do planeta.
Desde 2016, a feira náutica passou a manter também um espaço para carros de luxo, chamado Car Deck, com a exposição de veículos de marcas icônicas, como Aston Martin, Bentley, Hemmels, Lamborghini, McLaren e Mercedes. Mas nada que roube a cena dos grandes barcos, os verdadeiros protagonistas desse show.
Reportagem publicada na edição 71, lançada em setembro de 2019
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