Em 13 de março, quando Nova York se preparava para ficar entre quatro paredes a fim de diminuir a propagação do coronavírus, a fundadora da Mirror, Brynn Putnam, fechou os escritórios de sua startup de fitness de alta tecnologia e mandou para casa quase 100 funcionários. Agora, a ex-bailarina está entrincheirada com o marido, Lowell, também empresário, em seu apartamento no Greenwich Village. O casal alterna quem usa o Zoom no dormitório e quem toma conta do filho de 3 anos, George, na sala de estar.
A única coisa fácil é malhar. Putnam levou para casa dois espelhos interativos da sua empresa de fitness, a Mirror (“espelho”, em inglês). Um está no dormitório; o outro, no quarto de hóspedes. “Se Lowell quer lutar boxe e eu quero praticar ioga, podemos fazer isso”, diz Putnam, de 36 anos. Com 56 cm de largura, 132 cm de altura e 3,5 cm de profundidade, o produto de Putnam tem o mesmo visual e funcionamento de um espelho comum. No entanto, basta ligá-lo e o usuário vê um instrutor ensinando a turma (assim como seu próprio reflexo para que possa trabalhar o corpo); um software oferece modificações personalizadas no canto da tela e ajuda a acompanhar as metas de fitness. Os sócios pagam US$ 1.495 pelo Mirror e outros US$ 39 por mês pelo acesso a uma variedade de aulas transmitidas por streaming ao vivo – de condicionamento cardiovascular, barra, treino de força e ioga, com duração de 15, 30 ou 60 minutos.
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“Ninguém tinha pensado em colocar uma tela em um espelho e fazer dele uma plataforma de malhação”, diz Kevin Thau, sócio da Spark Capital, uma das primeiras firmas a investir em Putnam. “Em retrospecto, parece óbvio.”
Em setembro de 2018, após dois anos de projeto, Putnam lançou o produto, atualmente fabricado no México. Houve um atraso de seis meses em relação à data prevista, mas ele foi lançado sem grandes imperfeições, uma grande vitória para um equipamento eletrônico complexo. Três meses depois, ela estava na casa dos sogros para passar o Natal, torcendo para que as vendas fossem boas. “Ouvi minha prima gritar do outro cômodo que Alicia Keys tinha postado no Instagram sua família dando a ela um Mirror de presente”, lembra Putnam. No vídeo, os filhos de Keys a levam até uma porta fechada e dizem para ela não gritar, mas, assim que vê o Mirror instalado na parede, ela começa a gritar e dançar, entusiasmada.
Não demorou para o Mirror atrair outras clientes celebridades, cujos nomes Putnam passou a usar como carimbo de aprovação: Reese Witherspoon, Ellen DeGeneres, Gwyneth Paltrow e Kate Hudson, entre outras. “Foi um efeito em cascata. Os pedidos chegavam e eram de cair o queixo, porque havia muitas celebridades.”
Quando Putnam lançou o produto, estava apostando em uma transição gradual e contínua para o fitness doméstico. Agora, com milhões de pessoas presas em casa e loucas para se exercitar, ela está em alta: o faturamento superou suas projeções, que já eram ambiciosas, e a empresa conquistou uma vaga na lista de 25 empresas de capital fechado que a Forbes USA acredita que vão virar unicórnios.
Embora Putnam e a empresa sejam bastante reservadas quanto às cifras, a Forbes estima que a receita tenha atingido US$ 45 milhões em 2019 e saltará a mais de US$ 100 milhões este ano, o que Putnam confirma. Apesar de o foco óbvio ser o crescimento, a empreendedora diz esperar que a Mirror passe a gerar lucros no início do ano que vem. A última captação, ocorrida em outubro, levantou US$ 34 milhões e proporcionou à empresa uma avaliação de quase US$ 300 milhões. O desafio dela daqui para a frente: garantir que a Mirror se torne o novo normal, e não uma tendência passageira trazida pela pandemia.
Reportagem publicada na edição 78, lançada em junho de 2020
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