Poucos carros expressam a promessa de glamour como um Rolls-Royce. Há uma certa magia em toda a experiência de dirigir um dos modelos da marca. E ela começa no momento em que você se aproxima e observa a grade imponente. O clímax é atingido ao entrar no veículo, depois de abrir as pesadas portas, acomodar-se nos espaçosos assentos e se aconchegar no acolchoado de pele de carneiro.
O Ghost oferece tudo isso, mas de uma maneira mais silenciosa e acessível. A segunda versão do modelo – a primeira foi projetada há uma década para atrair um público mais jovem – parece conter a dose certa de luxo e sensibilidade mais contemporânea. A marca, enfim, cunhou esse nova pegada criativa.
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Chego em Goodwood, na casa da Rolls-Royce, para pegar o novo Ghost para uma viagem de um dia. Para aqueles que não estão familiarizados com essa região do sul da Inglaterra, a zona rural de West Sussex é um lugar encantador, que oferece uma tela de verde infinito pontilhada de aldeias de cartão postal. A agonia do coronavírus simplesmente desaparece enquanto saio para explorar Sussex e o igualmente adorável Hampshire. A pandemia e toda a desgraça parecem não existir enquanto eu viajo para cima e para baixo por estradas verdes exuberantes, pensando na expressão que minha avó costumava usar: “daloon-e behesht”, termo persa que significa algo como “a porta para o paraíso”.
É incrível experimentar o carro em seu habitat natural e dirigir por onde ele foi criado. Projetado pelo arquiteto Nicholas Grimshaw, o premiado edifício da Rolls-Royce parece mais uma galeria de exposição do que uma fábrica. Quando finalizado, em 2003, o prédio estava à frente de seu tempo com uma visão ecológica: o telhado curvo hospeda diversas plantas sedum, as enormes vidraças e amplas claraboias inundam a fábrica com luz natural e um lago artificial fornece resfriamento natural. Há um belo paisagismo selvagem ao redor, onde a Rolls-Royce faz um mel muito especial nas seis colmeias de madeira do Apiário Goodwood que, segundo a equipe, totalizam cerca de 250 mil abelhas.
Mas vamos voltar ao Ghost, antes que eu me perca na paisagem fascinante. O pequeno Rolls-Royce tem sido um case para a marca. Apresentado pela primeira vez como um conceito totalmente novo, ao longo de uma década ele se tornou o modelo de maior sucesso na história de 116 anos da empresa. Desde o início, o Ghost foi projetado para ser dirigido em vez de ser guiado como o carro-chefe Phantom, e apresentou a marca a um conjunto totalmente diferente de clientes, mais internacional e mais jovem. O impacto do modelo, do Wraith, que veio na sequência, e das ousadas edições Black Badge foi tanto que o perfil do cliente médio da montadora mudou e está na casa dos 40 anos, uma conquista fenomenal no tradicional setor automotivo de luxo.
Não há grandes narrativas explosivas – o Ghost está mais preocupado com a simplicidade formal, com poucas linhas, elementos e ornamentos. Há quase uma pequena modéstia em seu exterior. Muito disso foi possível graças à arquitetura space frame de alumínio da marca, que já é usada no Phantom e no Cullinan, representada na estrutura do corpo de alumínio soldado à mão e que dá a sensação de uma tela fluida, não interrompida por linhas fechadas. A arquitetura permite que o Ghost se expanda em largura em 30 mm e, pela primeira vez, o mascote do Spirit of Ecstasy não é circundado por linhas de painel, mas posicionado sozinho, aparentemente flutuando no capô. Essas são mudanças sutis, mas juntas realmente alteram a percepção do carro.
Há um alto padrão de execução e é preciso pouco tempo para se adaptar aos detalhes. Há, por exemplo, 20 leds debaixo da parte superior da grade vertical do radiador, que iluminam sutilmente as nervuras, enquanto a barra da grade metálica é menos reflexiva e traz o efeito de brilho desejado. Se o verdadeiro luxo tem a ver com arte, inteligência e trabalho manual, então a grade por si só é uma grande expressão disso.
Um único traço reto é usado para enfatizar o comprimento do carro nas laterais. A linha inferior do Rolls-Royce se baseia no design náutico e utiliza a reflexão da luz para iluminar a superfície e criar uma sensação de movimento puro e descomplicado. A linha do teto é sutilmente arqueada, enquanto a traseira segue a sensação de movimento geral com o gráfico de luz discreto com uma ligeira inclinação para a frente.
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Também há clareza de expressão no espaçoso interior, com um belo jogo de linhas e luz. Para aumentar a conexão entre os elementos, muita energia foi gasta na qualidade do material e na fabricação. Cada uma das 20 metades de couro usadas para criar o interior, por exemplo, foi verificada para garantir que os 338 painéis sejam da melhor qualidade, enquanto os artesãos da Goodwood trabalharam com linhas de costura longas e perfeitamente retas no couro para uma cabine realmente limpa e clara. A madeira está disponível no acabamento para dar uma aparência mais autêntica e, assim como o couro, fica exposta como folhas cortadas ao meio.
No entanto, a Rolls-Royce poderia (e moralmente deveria) ter usado a ocasião para atrair seus clientes influentes a talvez investirem em expressões mais sustentáveis e ecológicas de materiais de luxo. Qualquer pessoa que quer um interior vegano pode especificar isso. Mas, ainda assim, a marca poderia ter visto sua autoridade como vanguarda do grande luxo como uma oportunidade de seduzir os compradores, mostrando as possibilidades de materiais mais progressistas nos carros de demonstração, como lã ecológica, sedas e tecidos elegantes.
O design interior mostra o que é necessário para expressar luxo. Há materiais mais tradicionais, como os elementos de metal frio com temática náutica, mas com o mínimo de distrações possíveis para que o motorista e os passageiros possam desligar do trabalho e dos problemas diários e desfrutar a experiência no Ghost.
Por trás do brilho da superfície está o motor V12 twin-turbo de 6,75 litros de gasolina, que oferece 563bhp/420kW e torque de 850Nm/627lb ft, além do sistema de tração nas quatro rodas a partir de apenas 1600 rpm. A presença de uma década do Ghost permitiu à marca coletar um feedback valioso do consumidor. E, segundo a equipe, todas essas informações alimentaram a engenharia do novo carro para incluir uma evolução do famoso “passeio no tapete mágico” da marca com uma nova suspensão para entregar o que é chamado de Sistema de Suspensão Planar – uma sensação de vôo em terra.
O Ghost atende às expectativas de um carro de sua estatura. A marca gostaria que ele fosse visto como o próximo capítulo de sua narrativa, uma experiência mais tranquila, refinada e menos exuberante. Ele equilibra o racional e o irracional, o privilégio e o prazer.
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