Quando o assunto é moda sustentável, a indústria de artigos de couro não tem dado o melhor exemplo.
Embora as preocupações éticas e ambientais tenham levado a indústria em geral a se tornar cada vez preocupada com o meio ambiente, o setor de itens feitos à base de couro – avaliado em US$ 414 bilhões globalmente – ainda é dominado pela pele de animais.
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Embora o “couro legítimo” ainda tenha influência na indústria do vestuário, seus subprodutos emitem gases de efeito estufa, consomem recursos naturais finitos (principalmente através da prática da criação de gado) e poluem o meio ambiente em processos de curtimento e tingimento.
A solução mais óbvia seria optar por couros veganos, é claro, mas suas credenciais nem sempre são melhores. Embora algumas marcas tenham investido no desenvolvimento de alternativas baseadas em plantas, o “couro vegano” mais comum e amplamente usado no mundo, o poliuretano (ou “PU”), é basicamente um poluente descartável.
Como é derivado de combustíveis fósseis, o couro PU não apenas libera materiais tóxicos na atmosfera, mas leva centenas de anos para se biodegradar em aterros sanitários.
Para os chamados consumidores conscientes, a escolha é menos do que ideal. Pelo menos até a empresa de biotecnologia Bolt Threads criar uma alternativa de couro especial capaz de atrair a atenção – e investimentos – das principais marcas de moda.
O produto, conhecido como Mylo, levou três anos e aproximadamente 4.000 iterações para ser desenvolvido. Ao contrário de qualquer outro produto do mercado, ele é cultivado a partir de células de micélio – as “raízes” que os fungos usam para crescer -, alimentado com serragem, descansado e colhido ao longo de duas semanas – um dos mais naturais e renováveis processos na Terra.
A novidade segue o conceito da primeira inovação da Bolt Threads, o Microsilk, que foi lançado em 2017 para replicar a seda fiada por aranha usando proteínas cultivadas em laboratório, fermento, açúcar e água.
O material despertou o interesse de Stella McCartney, que desenhou um vestido usando Microsilk, mas houve poucos movimentos na mesma direção. Com o Mylo, no entanto, a Bolt Threads tirou a sorte grande.
“Hoje, quando você toca no Mylo, tem a mesma sensação de tocar em um couro natural”, diz Dan Widmaier, CEO da Bolt Threads. “Muitas pessoas não seriam capazes de apontar a diferença entre ele e um couro natural só pelo toque.”
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Em uma grande estreia, Stella McCartney, Adidas, Lululemon e Kering (o grupo de luxo por trás de marcas como Gucci e Saint Laurent) acabam de anunciar que estão unindo forças para investir no material e garantir acesso exclusivo a ele.
Como parte do consórcio recém-estabelecido, as grifes concordaram em gastar somas de sete dígitos para reforçar as capacidades de produção do Mylo e criar uma cadeia de suprimentos que permitiria que ele fosse fabricada em uma escala comercialmente viável.
“Esta é uma tecnologia de produto físico, então o aumento de escala é lento e cheio de detalhes”, diz Widmaier. “Leva anos para atingir uma escala em que os produtos iniciais possam ser lançados pelas marcas com a qualidade e quantidade que esperamos.”
Além disso, a escala impulsiona os custos. E o acesso ao consumidor médio da moda depende do valor das tecnologias sustentáveis que competem com o de materiais já existentes.
Ainda assim, mesmo no prazo intermediário, Widmaier está otimista. “Veremos a disseminação de materiais sustentáveis se expandir rapidamente”, diz ele. “A demanda do consumidor existe e parte da nossa missão é tornar esses materiais mais acessíveis o mais rápido possível.”
Stella McCartney concorda. “Muitas pessoas associam couro ao luxo, mas, desde o início, sempre quis abordar as coisas de uma forma diferente”, diz ela. “Matar animais por uma questão de moda simplesmente não é aceitável. Mal posso esperar para lançar os produtos feitos com o Mylo no mercado”.
A estilista e seus companheiros de consórcio lançar produtos feitos com o material, separadamente, no início de 2021.
“Sem entrar em muitos detalhes, você pode imaginar que estamos brincando com quatro bilhões de anos de evolução em todo o planeta”, acrescenta Widmaier. “Dizer que estamos apenas arranhando a superfície do que é possível é um eufemismo gigante.”
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