Ser um tubarão nos dias de hoje não é fácil. Eles precisam não apenas se preocupar com a possibilidade de serem devorados ainda no útero das mães como ainda têm que se adaptar a sobreviver sem os cuidados dos pais quando vêm ao mundo. Desde o segundo em que chegam à água, os tubarões estão por conta própria – e, normalmente, eles são muito pequenos. O que as mamães tubarão tentam fazer para aumentar as chances de seus filhotes é procurar “berçários”.
Muitas espécies de tubarões tropicais usam espaços semifechados de águas rasas, como estuários, como berçários naturais. Ambientes de mangue e prados de ervas marinhas são o habitat preferido para alguns, enquanto outros tubarões costeiros usam sistemas mais abertos, como baías, deltas de rios e praias pouco profundas.
O conhecimento sobre o uso de berçários para filhotes de tubarões é principalmente baseado em espécies costeiras, já que é mais fácil observá-las do que suas contrapartes pelágicas. Em regiões de clima temperado a tropical, os viveiros costumam ser habitats semi-fechados altamente produtivos, normalmente cercados por manguezais, bancos de areia ou recifes – estruturas que tornam difícil para os predadores maiores se infiltrarem e atacarem os filhotes em crescimento. O tempo que os tubarões jovens passam em viveiros também depende de fatores bióticos e abióticos que não são totalmente compreendidos pelos cientistas.
O tubarão-limão (Negaprion brevirostris) é uma das muitas espécies do Caribe que usam esses berçários, e muito do que se sabe hoje sobre a reprodução vem de estudos nas Bahamas ao longo das últimas décadas. Eles foram descritos pela primeira vez pelo ictiólogo cubano Felipe Poey, há mais de 150 anos, como uma espécie encontrada nas águas cubanas, mas têm uma distribuição tropical maior no Oceano Atlântico, Caribe e Pacífico Oriental. Preferem águas quentes e rasas com fundos arenosos e são conhecidos por usar habitats costeiros, como manguezais, para dar à luz seus filhotes e fornecer alimento e proteção contra predadores.
Mas as Bahamas podem não ser o único ponto importante para o tubarão-limão no Mar do Caribe. Na costa sudoeste de Cuba fica o Refúgio de Vida Selvagem La Salina, supervisionado e construído pela Empresa de Conservação do Pântano Zapata. Trata-se de uma estação de campo que monitora a vida selvagem local, incluindo os pequenos tubarões-limão. Com base nessas observações casuais, uma equipe liderada pelo cientista Alexei Ruiz-Abierno, do Centro de Investigações Marinhas da Universidade de Havana, realizou uma pesquisa exploratória para ver como esses peixes estavam usando o habitat protegido. “O estudo atendeu às necessidades de pesquisa especificadas no Plano Nacional de Ação (NPOA) do governo, que tem o objetivo de informar tanto sobre o manejo da pesca quanto sobre iniciativas de conservação dos tubarões nas águas cubanas”, afirmaram os autores.
O refúgio é um local semifechado, protegido por grossas raízes de mangue para impedir a entrada de grandes animais. É constantemente alimentado pelas várias aberturas de água do Golfo de Cazones e do Mar do Caribe, que proporcionam uma saída fácil para os jovens tubarões quando sentem que já cresceram. A atividade humana na área é praticamente inexistente, sendo proibida a pesca no local. Para saber mais sobre os tubarões que chamam a área de lar, a equipe teve que fazer mais do que apenas observá-los casualmente: precisaram capturá-los. Diferentes métodos de anzol e linha foram usados, e os tubarões capturados foram medidos, pesados, marcados e soltos. Os pesquisadores conseguiram até identificar a idade dos animais de acordo com a existência ou não de uma cicatriz umbilical aberta ou se eram jovens com cicatrizes umbilicais fechadas.
Duas espécies de tubarões foram capturadas, os tubarões-limão e os tubarões-lixa, (Ginglymostoma cirratum). Os cinco tubarões-lixa foram encontrados apenas em águas mais profundas, perto das aberturas que conectam o sistema La Salina ao Golfo de Cazones. Por outro lado, os tubarões-limão foram capturados principalmente nas águas rasas das lagoas costeiras e nas margens dos manguezais, não apresentando padrões evidentes de tamanho ou distribuição por sexo. “Capturamos apenas um tubarão-limão com mais de um metro de comprimento, na parte sudeste da área próxima a uma abertura para o Golfo”, disseram os especialistas. “A captura desta espécie foi consistente com as informações do guia de pesca local de que tubarões maiores são avistados nas áreas mais profundas, perto das entradas ou canais na fronteira sul.”
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“Nosso estudo foi baseado em um tamanho de amostra de observação extremamente pequeno, então mais pesquisas serão necessárias sobre o crescimento do tubarão-limão juvenil em La Salina”, explicaram. “O habitat para tubarões-limão filhotes em La Salina é consistente com a descrição convencional das áreas de berçário desta espécie, que incluem sistemas marinhos/ estuarinos rasos e semifechados que foram amplamente documentados principalmente nas Bahamas e áreas do Atlântico sudoeste.”
Embora Cuba não tenha nenhuma área governamental marinha protegida (conhecidas como MPAs), os tubarões cubanos ainda estão em processo de reconhecimento e de observação e estudos críticos. “Com a forte regulamentação de refúgio, acesso difícil (cercado por um pântano) e isolamento de centros populacionais humanos, os tubarões-limão filhotes de La Salina não sofrem mais impactos humanos significativos.”
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