De origem na região da Normandia, no norte da França, o camembert tem sido objeto de uma guerra nos últimos 20 anos entre pequenos produtores e grandes fabricantes industriais sobre como podem comercializar seus queijos.
De um lado, estão os pequenos produtores que usam vacas locais e leite cru. Do outro, grandes empresas, que podem usar qualquer vaca e leite pasteurizado. Ambos querem dizer que o seu queijo é feito na região. O argumento: quão regional o produto precisa ser para ganhar o direito de rotular um camembert como um camembert legítimo?
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O camembert pode ser feito sob o prestigioso rótulo AOP (“appellation d’origine protegée” ou denominação de origem protegida). Os produtos fabricados sob um AOP na Europa devem estar em conformidade com as diretrizes específicas –notadamente, os produtos devem ser originados na mesma região onde o produto é feito e curado. Outros exemplos são champanhe, gorgonzola, parmigiano-reggiano e, antes do Brexit, tortas de porco Melton Mowbray, no Reino Unido.
O camembert com AOP da Normandia é feito com leite não pasteurizado, metade do qual deve vir de vacas locais, criadas em uma área definida na região da Normandia. De acordo com o “The Guardian”, apenas 5.000 toneladas de camembert de AOP da Normandia são feitas a cada ano.
Durante anos, pequenos produtores que cumpriam as diretrizes do AOP venderam camembert com o rótulo AOP, mas gradualmente as vendas foram sendo tomadas por camembert produzido em grandes indústrias, que se anunciam com um rótulo “fabricado na Normandia” (fabriqué en Normandy).
Este camembert “fabricado na Normandia” é composto por leite pasteurizado de qualquer raça de vaca, criada em qualquer lugar, e é responsável pela maior parte do camembert encontrado em supermercados na Europa e no Reino Unido. Como comparação, cerca de 60 mil toneladas deste tipo de camembert são produzidas a cada ano, de acordo com o “The Guardian”.
Os produtores AOP pediram repetidamente ao governo francês e às agências de alimentos que impedissem os grandes produtores de camembert de rotular esses queijos como “feitos na Normandia”.
Em 2018, os dois lados chegaram a um acordo em que os produtores de ambos os tipos de camembert compartilhariam o AOP em um compromisso: os produtores industriais concordaram em usar apenas leite de rebanhos que contivessem pelo menos 30% de vacas da Normandia, a partir de 2021.
A mudança foi vista como um reflexo do aumento do medo em torno do uso de leite cru em produtos alimentícios –o consumo de queijos não pasteurizados vem caindo a cada ano em toda a França.
No entanto, a partir de Janeiro de 2021, os fabricantes industriais não têm mais o direito de rotular seu camembert como “fabricado na Normandia”. A Direção Geral da Concorrência, Defesa do Consumidor e Controle de Fraude (DGCCRF) ficou do lado dos pequenos produtores, alegando que o rótulo “fabricado em” sugere erroneamente aos consumidores que o queijo é de fato feito com ingredientes locais. A agência de alimentos disse que um produto não pode ser rotulado como “fabricado na Normandia” se não cumprir as regras de produção da AOP. É uma vitória dos pequenos produtores de queijo.
Gérald Andriot, diretor de operações da cooperativa de laticínios Isigny Sainte-Mèr, vende sob os dois rótulos, AOP e o “fabricado na Normandia”. Ele não concorda com a decisão, mas a cumprirá. “É um sequestro da palavra da Normandia”, disse ele ao “Les Echos”.
Muitos acreditam que a decisão surgiu porque o governo não conseguiu encontrar um acordo entre as grandes empresas e os pequenos produtores. Portanto, embora esteja se tornando mais difícil encontrar um queijo camembert “fabricado na Normandia” nas prateleiras, os produtores continuarão lutando.
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