Entre viagens de trem e avião que o levavam de um país a outro da Europa, o jovem Guilherme Paulus aproveitava para analisar as culturas que o cercavam. Naquela época, os garotos da sua geração usavam calças boca de sino, enquanto as meninas ostentavam minissaias e exaltavam a moda e o estilo de vida dos anos 1960 no exterior. A Alemanha, ainda dividida entre ociental e oriental, lembrava que havia uma Guerra Fria em andamento. Mas, nas ruas de Roma e Londres, a vibe não refletia esse peso. Foi com essa visão que Paulus, aos 20 anos, voltou ao Brasil, trazendo na bagagem um sonho: abrir sua própria agência de viagens e nunca parar de visitar lugares diferentes.
Até então, ele trabalhava como estagiário na IBM, onde tinha conseguido juntar dinheiro para conhecer a Europa com um amigo. Aquela foi sua primeira viagem internacional. Mas, voltando do exterior, sua cabeça estava diferente e, como um quebra-cabeça, não se encaixava mais na carreira escolhida, de computação. “Vi um anúncio no jornal oferecendo uma oportunidade em uma agência de turismo para trabalhar na área de vendas. Fiz o teste, passei e decidi arriscar”, relembra. Após dois anos pensando em viagens o dia inteiro, teve a oportunidade de acompanhar um grupo de cerca de 30 pessoas em um cruzeiro para Buenos Aires, onde sua vida viraria de ponta-cabeça mais uma vez.
O passeio, ao lado de pessoas bem mais velhas, era um tanto quanto monótono, o que exigiu dele uma dose extra de criatividade para manter o grupo animado. “Era uma viagem de 11 dias em um navio. Ele balançava muito, o cinema não era dublado e eu decidi que era hora de inovar nas brincadeiras. Fiz gincanas, jogos e conversava muito com todos os viajantes”, conta, lembrando que entre eles estava Carlos Vicente Cerchiari, então deputado na cidade de Santo André, no ABC paulista. “Todos me adoraram, inclusive o deputado, que no final da viagem me convidou para trabalhar com ele”, conta.
Da informática ao turismo, Paulus tinha novamente a chance de mudar de área. No entanto, o jovem sabia que a política não era o que ele desejava. “Eu neguei e contei que tinha o sonho de ter minha própria agência de viagem. Foi aí que veio a surpresa: ele se ofereceu para ser meu sócio. Me daria 33% da empresa”, recorda animado. “Meus pais ficaram até com medo, por serem mais tradicionais, mas depois disseram que eu devia seguir em frente se realmente confiava no meu novo sócio.” Mais do que confiar, Paulus batizou o negócio de CVC em homenagem às iniciais do nome do deputado – Carlos Vicente Cerchiari.
“Eu ainda brincava que o nome era perfeito por ter o ‘v’ de vitória no meio”, conta o empresário. Não se sabe se essa simbologia ajudou na trajetória, mas a agência, fundada em 1972, realmente se tornou uma das maiores operadoras de viagens do Brasil, com mais de 1.400 lojas em todo o país. A sociedade, no entanto, não durou tanto tempo quanto o negócio. Após alguns anos, Cerchiari decidiu deixar a empresa e Paulus passou a tocar o negócio junto de sua esposa, Luiza Paulus. “Eu tinha 23 anos e ele 46 quando montamos a sociedade. Era o dobro da minha idade, então ele confiou muito em mim”, diz.
A partir daquele momento, Paulus mergulhou ainda mais fundo no mundo do turismo. Em 2005, fundou a GJP Hotels & Resorts, uma das principais organizações da hotelaria nacional, com o controle de 10 hotéis próprios ao redor do Brasil. Já em 2006, adquiriu a companhia aérea Webjet, vendida para a Gol Linhas Aéreas em 2011. Nesse meio tempo, tornou-se membro do Conselho Nacional do Turismo, do Conselho Consultivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau, vice-presidente de relações institucionais da ABAV Nacional (Associação Brasileira das Agências de Viagens) e presidente do Conselho Deliberativo do Visit Iguassu.
Referência no setor, Paulus começou a receber inúmeras propostas de venda da CVC e, em 2009, decidiu abrir mão de uma parte para a multinacional norte-americana de private equity Carlyle Group. No ano seguinte, vendeu a parte restante da agência de viagens – o executivo não revelou o valor da operação, mas, na época, especialistas do mercado a avaliaram em mais de US$ 250 milhões.
Hoje, aos 72 anos, Paulus não atua em nenhuma das empresas que fundou – CVC e GJP Hotels & Resorts. A rede hoteleira, que continua sendo sua, é comandada pelo seu filho, Gustavo Paulus. Após conquistar muito mais do que imaginava, atualmente Paulus se contenta em trabalhar em dois projetos próprios que o encantam: o campo de golfe Village Iguassu Golf Residence, em Foz do Iguaçu (PR), e o Castelo Saint Andrews, em Gramado (RS).
“COMPREI UM CASTELO. E AGORA?”
Em uma narrativa parecida com a dos contos de fadas, Paulus conta que o Castelo Saint Andrews nasceu da paixão de um jovem casal que ele não conheceu. “Um dia, eles foram para o Reino Unido e a mulher se apaixonou pelos castelos do local. Quando voltaram ao Brasil, construíram uma residência inspirada na cultura escocesa em Gramado, no Rio Grande do Sul”, revela. A propriedade foi projetada pelo escritório de arquitetura Adelchi Colnaghi Arquitetura e Construção, de Novo Hamburgo (RS), com o próprio Adelchi Colnaghi como arquiteto responsável.
Como a vida real não é exatamente uma admiradora do “felizes para sempre”, o casal se divorciou alguns anos depois. O castelo não impactou na durabilidade da relação mas, em compensação, alegrou a vida de Paulus, que comprou a gigante residência por R$ 3,5 milhões em 2006.
“Comprei um castelo, agora o que eu faço?”, relembra, rindo, sobre o pensamento que o assolou na época. A dúvida, é claro, durou pouco. Paulus fez do castelo um hotel do tipo exclusive house, com 19 suítes exclusivas e experiências únicas que incluem mordomos, café da manhã com horário livre, chá da tarde, traslado privativo do aeroporto de Porto Alegre, Canela ou Caxias do Sul com chofer em carro próprio, helicóptero ou avião fretado. E, não menos importante, vista privilegiada das montanhas da região. O empresário gastou cerca de R$ 10 milhões com reformas e investimentos em infraestutura.
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“Assim que comprei, mandei meu arquiteto viajar para a Inglaterra para pegar ideias de decoração. Cada suíte é de um jeito, além do cuidado nos detalhes em cômodos como sala de estar, biblioteca, sala de leitura, jardim, piscina, spa, academia e adega gourmet”, explica o empresário. Mais do que a aparência e o aconchego do hotel, Paulus também ressalta o diferencial das programações, principalmente nesse momento de pandemia, no qual o isolamento social é inevitável.
Com foco na privacidade, o Castelo Saint Andrews oferece programações até janeiro de 2022. No início de junho, por exemplo, diversas atrações estão focadas no tema “mês dos namorados”, com roteiros especiais de uva e vinho, jantares à luz de velas preparados com exclusividade nos jardins do castelo e programas especiais em cidades vizinhas, como Bento Gonçalves.
Membro da Relais & Châteaux, associação que reúne os melhores hotéis e restaurantes do mundo, o Castelo Saint Andrews é uma joia preciosa para Paulus. Premiado por diversos órgãos especializados, o estabelecimento é heptacampeão pelo Word Travel Awards, enquanto o restaurante Primrose, que faz parte da instalação, é tricampeão no Best of Award of Excellence da “Wine Spectator”, revista norte-americana especializada em vinhos.
Veja, na galeria abaixo, imagens do Castelo Saint Andrews:
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Divulgação A vista privilegiada para as montanhas é um dos destaques do castelo.
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Divulgação O restaurante Primrose, que faz parte da instalação, é tricampeão no Best of Award of Excellence da “Wine Spectator”, revista norte-americana especializada em vinhos.
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Divulgação As experiências únicas incluem mordomos, café da manhã com horário livre, chá da tarde e traslado privativo.
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Divulgação A decoração do castelo é inspirada na Inglaterra.
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Divulgação O mirante do castelo é mais uma opção para quem quer um contato maior com a natureza.
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Divulgação O hotel conta com cômodos como sala de estar, biblioteca, sala de leitura, jardim, piscina, spa, academia e adega gourmet.
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Divulgação Paulus fez do castelo um hotel do tipo exclusive house, com 19 suítes exclusivas e experiências únicas.
A vista privilegiada para as montanhas é um dos destaques do castelo.
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