Um demônio com chifres de bronze domina o centro de uma obra-prima monumental. Com quase cinco metros de largura, a pintura executada em Modena, Itália, no auge da curta (mas estelar) carreira de Jean-Michel Basquiat, “Sem título” (1982) tem uma exuberância visceral. Cativado pelo trabalho de Basquiat em exibição no show New York/New Wave no MoMa PS1 de Nova York em janeiro de 1981, Emilio Mazzoli convidou Basquiat para a Europa para a primeira exposição individual do artista.
O Basquiat de 21 anos transmite um domínio de pinceladas que atrai comparações com Jackson Pollock. O autorretrato monstruoso ressalta a ascensão meteórica do jovem artista à fama, seis anos antes de sua morte prematura. “Acho que é uma das pinturas mais ambiciosas e ousadas que Jean-Michel fez durante uma época em que sua fama estava crescendo exponencialmente”, disse Scott Nussbaum, especialista internacional sênior do século 20 e arte contemporânea da casa de leilões Phillips, em entrevista à Forbes.
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“Acho que isso fala de sua ambição, seu poder, seu talento como artista. E não conheço muitas outras pinturas que combinem escala e técnica com tanta força como nesta obra. É uma imagem de sonho. E é um ótimo momento para colocar um trabalho como este em oferta.”
A pintura, que desperta emoções entre os espectadores hipnotizados, deve arrecadar cerca de US$ 70 milhões (cerca de R$ 350,6 milhões) em 18 de maio, na venda noturna de arte contemporânea e do século 20 da Phillips.
“Embora esperamos uma forte procura da Ásia, o interesse em Basquiat não é limitado pela geografia e o mercado de obras-primas é verdadeiramente global”, disse Nussbaum, reforçando a decisão de mostrar o trabalho em uma turnê internacional em Londres, Los Angeles e Taipei, antes em exibição na ampla sede da Phillips em Nova York, na 432 Park Avenue.
Selecionado para a capa do catálogo raisonné (inventário da obra completa de um artista) de Basquiat, “Untitled” foi apresentado em todas as grandes retrospectivas do pintor.
“O que admiro no trabalho de Basquiat é que, não importa quando, onde ou qual peça de arte eu veja, reconheço instintivamente seu trabalho pelo caráter único que é transmitido”, disse o empresário bilionário e colecionador de arte Yusaku Maezawa. “Quando estou na frente dessa obra, ela é esmagadoramente poderosa, mas melancólica, e isso me faz sentir uma sensação de euforia e desespero ao mesmo tempo. Acredito que as peças de arte incendeiam a imaginação e a criatividade de uma pessoa e são essenciais para nossas vidas.”
Maezawa pagou US$ 57,3 milhões por “Sem título” (1982) na Christie’s em Nova York em maio de 2016, tornando-se o trabalho mais caro de Basquiat vendido em leilão. Esse recorde foi quebrado em maio de 2021, quando “In This Case (1983)”, da coleção do cofundador da Valentino, Giancarlo Giammetti, foi vendido por US$ 93,1 milhões, e em maio de 2017, quando outro “Sem Título” (1982), retratando um crânio enorme, foi vendido por US$ 110,5 milhões na Sotheby’s.
“Acredito que as coleções de arte são algo que deve sempre continuar a crescer e evoluir como o proprietário faz e, portanto, minha venda desta pintura foi relativa a isso”, disse Maezawa. “Viver com esta obra de arte tornou meu amor e interesse pela arte mais profundo e mais forte. Não posso explicar a influência que ela teve na minha vida e tenho certeza que será uma peça inesquecível para mim.”
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O aquecido mercado de Basquiat é amplificado pelo interesse onipresente em seu trabalho. Ingressos para “Jean-Michel Basquiat: King Pleasure” , com inauguração em 9 de abril no RXR’s Starrett-Lehigh Building, em Nova York, foram colocados à venda no começo do mês.
Organizada pela família de Basquiat, a exposição apresentará mais de 200 pinturas, desenhos, coisas efêmeras e artefatos que raramente ou nunca foram exibidos em público. Ela recriará o estúdio de Basquiat na 57 Great Jones St., e a sala VIP da lendária boate Palladium, adornada por duas pinturas de Basquiat.
Basquiat é o artista de maior tendência, classificado em 9º lugar do Articker, da Phillips, a primeira plataforma de tecnologia que agrega dados de código aberto em tempo real sobre artistas e obras de arte modernas e contemporâneas.
“Acho que há essa confluência de eventos. Há o lado do mercado, que está continuamente subindo. Houve algumas vendas privadas incríveis. Todas elas fazem parte do impulso do mercado, e também há esse impulso cultural, com a exposição King Pleasure”, disse Nussbaum. “Ele frequentemente aparece em todos os tipos de cultura pop, seja música, design, moda. É um artista que cativou o mundo e sua influência, seu impacto, seu legado, continua a crescer. Ele é aquele talento raro e geracional que fala com tantas pessoas sobre tantas coisas diferentes.”