No final da primeira metade dos anos 1990, o Jeep Grand Cherokee estreou no Brasil como um dos carros mais luxuosos, potentes e cobiçados do mercado nacional.
Hoje na quarta geração, experimenta o ostracismo. Virou uma espécie de Rocky Balboa dos carros: já foi imbatível um dia, inspirou muita gente a se aventurar no esporte, mas hoje é um ídolo do passado.
Seria preciso uma renovação profunda para devolver ao SUV a glória de outrora. Pois foi o que fizeram na quinta geração, já lançada lá fora e com as malas prontas para o Brasil. A versão híbrida 4xe já foi confirmada; dúvida é se o Grand Cherokee L, aqui avaliado em primeira mão, vem também.
Pela primeira vez em quase trinta anos o Grand Cherokee é equipado com dois bancos extras – daí o sobrenome “L”. Poderia até ser um movimento arriscado para um ícone com papel tão bem definido no universo automotivo, tendo equilibrado como poucos competências dentro e fora de estrada, arrematadas com conforto e status.
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Mas, para quem se apresentou ao mundo estilhaçando uma parede de vidro em pleno Salão de Detroit, levar dois ocupantes a mais soa quase trivial.
Esta quinta geração talvez marque a maior ruptura de um Grand Cherokee para o próximo. Baseada na arquitetura WL – que a Jeep garante ter sido projetada a partir do zero – , a nova encarnação do SUV tem apenas 29% de sua estrutura monobloco em aço convencional, servindo-se mais de aços de alta resistência e alumínio.
Resultado: o Grand Cherokee L é apenas 31 kg mais pesado do que o Grand Cherokee de duas fileiras da geração anterior (WK2). Sobrepondo o atual e o antigo, são 4,91 metros de comprimento, 2,96m de entre-eixos e 1,80m de altura ante 4,82m, 2,91m e 1,76m, respectivamente.
Quando a comparação é com o Grand Cherokee L, então…Aí são 5,20 m de para-choque a para-choque e 3,09 m do eixo dianteiro ao traseiro – entre os quais quase daria para estacionar um Fiat Mobi, que tem 3,60 m. E ainda assim a carroceria está 13% mais resistente a torções.
Apenas os motores conhecidos há tempos – o Pentastar 3.6 V6 de 297 cv e o Hemi 5.7 V8 de 362 cv – parecem intrusos num carro que praticamente manteve apenas o nome e a glória do anterior.
Massagem e silêncio
Foram 20 dias de convivência com o Grand Cherokee L Summit no México, mercado apinhado de Cadillac Escalade e Lincoln Navigator, ícones de luxo para os norte-americanos. Mesmo os donos desses modelos, indivíduos da elite mexicana, olhavam para o Jeep com admiração e surpresa.
De dentro do jipão, o bagunçado e barulhento trânsito mexicano parecia bem menos bagunçado e barulhento, tal a eficiência do isolamento acústico.
A tal ruptura da quarta para quinta geração não se limita a questões estruturais: sair do antigo e entrar no novo é como fazer check-out em um hotel quatro estrelas e em seguida check-in num de cinco.
Bruto no tamanho, o Grand Cherokee é generoso com os ocupantes: volante com aquecimento, câmera de visão noturna que detecta pedestres e animais, sistema de som McIntosh com 19 alto-falantes e 835 watts de potência, quatro tipos de massagem para motorista e passageiro da frente, bancos dianteiros e da segunda fileira com aquecimento (os dianteiros com ventilação, controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência e assistente de manutenção de faixa são algumas das benesses disponíveis.
Acabamento impecável mistura metal, couro e madeira, aqui opaca – até quem não gosta desse tipo de material se impressiona. O capricho dos bancos e forros das portas põem o Jeep no mesmo patamar de ingleses e alemães.
Sobra, claro, espaço para todos. Para o motorista a ergonomia é irretocável. Quem está acostumado com o descanso de pé recuado e número 36 da dupla Commander/Compass, encontra no Grand Cherokee um suporte bem mais avançado e número 48. Em outras palavras, enquanto os Jeeps nacionais suportam o pé da Cinderela, o Jeep estadunidense encara o pé do Shrek.
Segunda fileira igualmente espaçosa e a terceira pode até levar um adulto por pequenos trajetos. O sistema de acesso para os fundos é simples, mas uma criança de 6 anos não conseguiu operá-lo. Com tanto luxo, faltou ali um acionamento elétrico.
V8 raiz
Equipado com o veterano 5.7 V8 Hemi, de 362 cv e 53,9 kgfm de torque, o GCL tem transmissão automática de oito marchas, cujas trocas são aveludadas quando o acelerador é tratado com carinho. Se o condutor afunda o pé, as passadas de marcha mostram que o câmbio pode ser bem rápido em orquestrar a força despejada nas quatro rodas.
Embora nem sempre seja nas quatro, pois há um recurso neste Grand Cherokee que desconecta a tração do eixo dianteiro quando não há demanda. Não houve oportunidade para um teste off-road. E isso pode dizer algo sobre a aura ao redor do Grand Cherokee: alguém tem coragem de duvidar da habilidade aventureira de um carro com tamanha experiência no assunto e que, agora, oferece três tipos de sistema 4×4?
Além do Quadra-Trac I, há o Quadra-Trac II com caixa de transferência de duas velocidades e o sistema Quadra-Drive II, com reduzida e diferencial traseiro de deslizamento limitado controlado eletronicamente.
Só não podemos esperar economia, o que me parece evidente para um V8 de mais de 5 metros de comprimento: segundo a agência responsável pela aferição de consumo dos EUA (EPA), a média é de 7,2 km/l.
A suspensão a ar e a direção leve e precisa são os arremates de uma dirigibilidade que pode ser extremamente confortável numa tocada mais serena, ou mais empolgante quando não há ninguém pode perto nas sinuosas e bem pavimentadas estradas mexicanas. Abusando numa curva aqui e outra ali, o Grand Cherokee se mostrou impávido.
Mais dinâmico, luxuoso, bonito e equipado do que nunca, o Grand Cherokee será um sucesso por aqui – caso venha.