Geleiras derretendo, lagos secando, rios correndo em níveis recordes de baixa, seca generalizada – os efeitos das mudanças climáticas e o aumento do calor são manchetes ao redor do mundo todos os dias. Juntamente com a inevitável tragédia e preocupação que esses eventos estão criando, houve um efeito colateral inesperado: a revelação de coisas há muito tempo escondidas de nossos olhos.
Partes da Europa estão registrando temperaturas recordes e as piores secas em mais de um século. Isso levou a alguns dos níveis de água mais baixos já registrados em seu segundo maior rio, o Danúbio, e com ele o ressurgimento de 20 navios de guerra da Segunda Guerra Mundial cheios de explosivos ao longo da área sérvia perto de Prahovo.
Acredita-se que os 20 navios, que faziam parte da Frota Nazista do Mar Negro, transportam mais de 10.000 peças de munição explosiva (muitas delas não detonadas), representando um sério risco para embarcações, pescadores e até mesmo para o abastecimento de água. Eles foram afundados em 1944 pelo exército alemão em retirada, para impedir que caíssem nas mãos dos soviéticos. Espera-se que mais deles surjam nas próximas semanas, com o governo sérvio estimando uma conta de limpeza de £ 30 milhões (cerca de R$ 177 milhões, na cotação atual).
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Especialistas militares também foram chamados na Itália para desarmar e realizar uma explosão controlada em uma bomba de 450 quilos da Segunda Guerra que emergiu do rio Pó, que atingiu seus níveis mais baixos em 70 anos. Enquanto isso, no rio Tibre, em Roma, as fundações de uma ponte de 2.000 anos surgiram das quedas de água.
Nos Alpes suíços, o derretimento das geleiras revelou dois conjuntos de restos humanos congelados há muito tempo no gelo. No final de julho, dois caminhantes descobriram um corpo “mumificado e levemente danificado, mas quase completo” perto de uma estação de esqui na geleira de Stockji vestindo roupas de cor neon “no estilo dos anos 80”. No início de agosto, alpinistas franceses descobriram os restos mortais de uma única pessoa no cantão de Valais, na Suíça, que acredita-se ter morrido na década de 1970 ou 1980. Ambos os conjuntos de restos mortais foram removidos para identificação.
Ao mesmo tempo, a geleira Aletsch, também na Suíça, mostrou os destroços de um avião – um Piper Cherokee que caiu em 30 de junho de 1968 perto dos picos das montanhas Jungfrau e Mönch com um professor, um médico e seu filho, todos de Zurique, a bordo. Os corpos foram recuperados na época, mas limitações técnicas impediram que os destroços fossem também.
Na Espanha, um monumento conhecido como Dolmen de Guadalperal (muitas vezes comparado ao Stonehenge da Inglaterra e datado entre 2.000 e 3.000 aC) apareceu no reservatório de Valdecañas, fortemente esvaziado, a oeste de Madri.
Igualmente interessante é o surgimento do que é conhecido como “pedras da fome” ao longo dos rios do continente. As pedras foram gravadas em anos anteriores de seca por moradores para indicar os níveis de água e alertar para más colheitas nos anos seguintes. Um exemplo famoso apareceu no rio Elba, na República Tcheca, com uma inscrição assustadora de 1616: “Se você me vir, chore”.
Não é apenas a Europa que tem visto revelações tão extraordinárias e horríveis. Formado pela Represa Hoover a cerca de 32 quilômetros de Las Vegas, o Lago Mead ganhou manchetes trágicas nos últimos meses, com quatro conjuntos de restos humanos sendo encontrados em suas águas.
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Embora um conjunto encontrado em maio tenha sido identificado como Thomas Erndt, que mergulhou de um barco no lago em 2 de agosto de 2002 e nunca emergiu, as investigações sobre a identidade de outros permanecem em andamento. Um desses restos humanos, descoberto em um barril com um tiro na cabeça, vem sendo considerado homicídio.
Voltando um pouco mais no tempo, o Dinosaur Valley State Park, no Texas, anunciou esta semana que as severas condições de seca esvaziaram um rio e revelaram pegadas de dinossauros de aproximadamente 113 milhões de anos atrás.
Acredita-se que os rastros profundos e nítidos pertençam ao Acrocanthosaurus, um carnívoro não muito diferente do T-Rex, que crescia até 4,5 metros e podia pesar até sete toneladas. Sua presa era o significativamente maior Sauroposeidon (grego para “Poseidon Lagarto”), cujas pegadas também são encontradas na área, e que pode crescer até 15 metros de altura e pesar cerca de 44 toneladas quando adulto, tornando-o o mais alto dinossauro conhecido.