De tempos em tempos, me deparo com uma leva de cariocas criativos e empreendedores que decidem migrar seus negócios e vidas para São Paulo.
Em 2022, a capital paulista foi apontada como a melhor cidade para empreender no Brasil, segundo estudo da Endeavor produzido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). A seleção dos critérios considerou: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora. A cidade de São Paulo liderou três (infraestrutura, acesso a capital e inovação) dos itens mais determinantes segundo o levantamento.
Curiosa, perguntei a um grupo de cariocas empreendedores de diversas áreas, o que os levou a trazer seus negócios para São Paulo, os desafios que enfrentaram na cidade mais cosmopolita do Brasil e, por fim, se o mito de que o paulista é mais exigente que o carioca procede.
Confira as respostas dos cariocas na galeria a seguir:
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Divulgação THOMAS TROISGROS
Thomas Troisgros nasceu no berço de ouro da gastronomia carioca, filho do chef Claude Troisgros, se interessou logo cedo pelo universo da culinária. Hoje, o chef e empresário é dono de 15 casas, entre Rio e São Paulo. Ele contou à Forbes as dores e delícias de empreender em SP.
O que te motivou a vir empreender em SP?
Acredito que explorar novas cidades seja um caminho natural do empreendedor. O público que frequenta meus restaurantes no Rio já é bem consolidado, estava na hora de partir para novos desafios.O que difere o público paulista do carioca?
Acho o perfil do carioca e do paulista diferente, mas complementar. Os paulistas aproveitam os horários de almoço e jantar para fazerem reunião, é uma cidade mais “business oriented”. Enquanto que o carioca é mais descontraído, além do forte turismo que a cidade tem o ano inteiro, que acaba ditando o clima mais leve e alegre do Rio.Teve que mudar ou adequar algo em seus restaurantes de SP?
Independente das diferentes sociedades que tenho, todos os restaurantes em que atuo tem uma marca registrada e personalidade muito bem definidas. Mudar algum produto, significaria descaracterizar o restaurante. No meu caso, não é algo que faça sentido, já que as pessoas que já tiveram a experiência no Rio, buscam repeti-lá em SP.O mito de que os paulistas são mais exigentes que os cariocas procede?
Não definiria desta forma. Ambos os públicos devem receber a mesma qualidade e entrega dos produtos e serviços. Porém, o paulista tem mais pressa, o tempo dele é contado no relógio, a fama de exigente talvez esteja mais associada a isso. -
Lucas Santana PAOLA VILAS
Paola Vilas é uma artista-designer multidisciplinar que traduz sua pesquisa em joias esculturais, mobiliário e espaços cenográficos. A linguagem neo-surrealista e mística está presente em todas as criações da under 30. A carioca trouxe sua marca global para São Paulo em 2019, e contou à Forbes as dores e delícias de empreender na capital paulista.
O que te motivou a vir empreender em SP?
Somos uma marca nativa digital que sempre se destacou pela abordagem inovadora, nascemos como uma marca global, atraídos pela demanda dos principais pólos econômicos e culturais do mundo. Decidimos concentrar nossas energias na cidade de São Paulo em resposta à demanda crescente e ao reconhecimento da cidade como um centro importante para o segmento de luxo e arte, afinal, vendemos arte vestível.Quais as dificuldades que encontrou no caminho?
No início, uma das principais dificuldades foi encontrar o local ideal para estabelecer nossa flagship store, um espaço que proporcionasse uma experiência verdadeiramente elevada para nossos clientes, sem comprometer a sensação de exclusividade que queríamos transmitir. No fim, encontramos uma casa com personalidade nos Jardins, que transformamos na Casa Paola Vilas em 2019, criando um ambiente acolhedor e sofisticado, onde os clientes podem vivenciar a essência da marca.E as surpresas?
Uma surpresa gratificante foi perceber que a marca era mais conhecida e desejada do que imaginávamos, não apenas em São Paulo, mas em diversos estados do país. Isso nos motivou a continuar aprimorando nosso trabalho, buscando constantemente superar expectativas e oferecer peças únicas, que tragam beleza, arte e significado para a vida das pessoas.Teve que mudar ou adequar algo na marca?
Nosso estoque de São Paulo é diferente do estoque do Rio, mas não tivemos que adequar nenhum produto.O mito de que os paulistas são mais exigentes que os cariocas procede?
Sinto que nossos clientes cariocas são igualmente exigentes quanto a experiência com a marca, qualidade dos produtos e excelência no geral. Acho que conseguimos equilibrar bem nosso jeito “intimista e leve” carioca a uma conduta profissional que constrói confiança, como os paulistas fazem com excelência. -
André Ligeiro THE DRY CLUB
As cariocas Bianca Latge – radicada na Espanha – e Renata Merquior , são as fundadoras do The Dry Club, cabeleireiro express e do e-commerce de moda The Club, que acaba de ganhar sua primeira loja física no shopping Iguatemi. Renata contou à Forbes as dores e delícias de ser uma empreendedora em São Paulo.
O que te motivou a vir empreender em SP?
São Paulo sempre me fascinou por ser uma cidade pulsante, viva, onde tudo acontece. Também sinto que é uma cidade onde o novo é bem visto e celebrado, o que estimula o empreendedorismo.Quais as dificuldades que encontrou no caminho?
As dificuldades de empreender no Brasil são muitas, mas não estão ligadas a São Paulo. Resiliência é uma característica que todo empreendedor precisa ter.E as surpresas?
A surpresa boa é que o paulistano é muito receptivo às novidades e muito conectado com o que acontece no mundo. Foi fácil apresentar um conceito que já era presente e forte nos EUA e trazer para cá.Teve que mudar ou adequar algo na marca?
Em relação a moda, consigo ver bastante diferença de estilos. O Rio, até pelo tempo mais quente, tem uma moda mais balneário, com peças mais leves e cores mais alegres e vivas. Em São Paulo, conseguimos usar peças mais pesadas, botas e a cor preta, que por incrível que pareça, não faz muito a cabeça da carioca.O mito de que os paulistas são mais exigentes que os cariocas procede?
Sim, acho que os paulistas são mais exigentes simplesmente pelo fato de terem mais ofertas. Se você não oferece um bom produto ou serviço, certamente o cliente vai achar algo igual ou melhor na próxima esquina. Então, a gente que lute (risos). -
Divulgação PALOMA DANEMBERG
A curadora carioca Paloma Danemberg fez seu nome no mundo das antiguidades com o AD.STUDIO, marca de decoração que fundou em 2016 no Rio de Janeiro. Erguida sobre os pilares do garimpo, restauro e upcycling, a empresa vende móveis e objetos europeus do final do século 19 e início do século 20. Em 2022, Paloma trouxe a marca para São Paulo, com uma loja no Shopping Cidade Jardim. A empresária contou à Forbes as dores e delícias de ser uma empreendedora em São Paulo.
O que te motivou a vir empreender em SP?
Frequento São Paulo com regularidade há mais de 10 anos. Acredito ser a cidade mais cosmopolita do Brasil, e isso sempre me chamou atenção. O que acontece em SP reverbera no Brasil todo e isso é extremamente animador para um empreendedor.Quais as dificuldades que encontrou no caminho que não esperava encontrar? E as surpresas?
Confesso que as dificuldades que encontrei já estavam mapeadas. Não me surpreendi, pelo contrário, me surpreendi. Achei o paulistano mais receptivo do que imaginava. Mais aberto para o novo. Como tenho uma loja de móveis e objetos antigos com olhar contemporâneo – como gosto de chamar -, sei que quem tem que explicar o que estou vendendo sou eu (risos). Estou recebendo muita aceitação do público paulistano por um negócio aparentemente não óbvio como o meu.Teve que mudar ou adequar algo nos produtos da marca?
Não, mantive a curadoria de nossa loja do Rio, onde o cliente pode encontrar um móvel para sua casa, uma peça decorativa ou um presente especial.O mito de que os paulistas são mais exigentes que os cariocas procede?
Costumo dizer que quem vence no Rio, vence em qualquer lugar. Saber fazer, criar e gerar excelência é um grande passaporte para o sucesso. O Rio te dá repertório, conhecimento, estofo para chegar em uma cidade como São Paulo. Acredito que nós cariocas somos inventivos, criativos, temos uma bossa diferente. Não diria que os paulistanos são mais exigentes. Acredito que são muito coerentes. Querem o retorno das suas expectativas. E eu trabalho para sempre superá-las.
THOMAS TROISGROS
Thomas Troisgros nasceu no berço de ouro da gastronomia carioca, filho do chef Claude Troisgros, se interessou logo cedo pelo universo da culinária. Hoje, o chef e empresário é dono de 15 casas, entre Rio e São Paulo. Ele contou à Forbes as dores e delícias de empreender em SP.
O que te motivou a vir empreender em SP?
Acredito que explorar novas cidades seja um caminho natural do empreendedor. O público que frequenta meus restaurantes no Rio já é bem consolidado, estava na hora de partir para novos desafios.
O que difere o público paulista do carioca?
Acho o perfil do carioca e do paulista diferente, mas complementar. Os paulistas aproveitam os horários de almoço e jantar para fazerem reunião, é uma cidade mais “business oriented”. Enquanto que o carioca é mais descontraído, além do forte turismo que a cidade tem o ano inteiro, que acaba ditando o clima mais leve e alegre do Rio.
Teve que mudar ou adequar algo em seus restaurantes de SP?
Independente das diferentes sociedades que tenho, todos os restaurantes em que atuo tem uma marca registrada e personalidade muito bem definidas. Mudar algum produto, significaria descaracterizar o restaurante. No meu caso, não é algo que faça sentido, já que as pessoas que já tiveram a experiência no Rio, buscam repeti-lá em SP.
O mito de que os paulistas são mais exigentes que os cariocas procede?
Não definiria desta forma. Ambos os públicos devem receber a mesma qualidade e entrega dos produtos e serviços. Porém, o paulista tem mais pressa, o tempo dele é contado no relógio, a fama de exigente talvez esteja mais associada a isso.
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