“Há quatro anos, durante o verão europeu, a Fortes D’Aloia & Gabriel organiza em Comporta, Portugal, uma coletiva em parceria com outras galerias. Desde que surgiu a ideia, já participaram nesta mostra colaborativa internacional as galerias Luísa Strina, Sé e Kurimanzutto da Cidade do México. Este ano, fomos nós os convidados”, explica o diretor-sênior de nossa galeria, Alexandre Roesler, a cargo do projeto. Inicialmente o pop-up de arte no ponto mais mais encantador do litoral luso foi concebido em resposta às restrições causadas pela pandemia, que abalaram o calendário da cena artística mundial.
Mas o evento provou-se desde a primeira vez um sucesso transformando-se em atração permanente dos verões da Comporta. Esta tendência vem sendo observada no setor da arte com importantes galerias montando pop-ups nas férias de verão quando os colecionadores fogem das grandes cidades. Só para mencionar dois, a suíça Hauser & Wirth, uma das maiores galerias do mundo, abriu filial na Isla del Rey, em Menorca, e a madrilenha Parra & Romero inaugurou um espaço de 1.500 metros quadrados em Ibiza.
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Na Comporta, a coletiva deste ano, intitulada “Stirring The Pot”, assim mesmo em inglês (que significa misturando o caldeirão, no caso, de influências), traça caminhos sócioculturais entre o Brasil, os Estados Unidos e a África do Sul. Anualmente, a exposição é montada em um antigo armazém de arroz deste pedaço encantador do Alentejo famoso por seus arrozais, que em outras épocas foi o cinema do bucólico vilarejo, e de alguns anos para cá abriga a Casa da Cultura de Comporta.
A curadoria este ano é da sul-africana-portuguesa Nancy Dantas, historiadora que atua entre Johannesburgo e Lisboa, que reuniu as pinturas de Marina Rheingantz e as esculturas da fauna e flora de Efrain Almeida, ambos do portfolio da FDAG, as peças etéreas do jovem sul-africano Igshaan Adams, e as esculturas abstratas do americano Leonardo Drew. De nosso acervo, Dantas selecionou pinturas em estampa têxtil do baiano Alberto Pitta que se referem ao sagrado na cultura e nos rituais afro-brasileiros. “A exposição está muito bem curada, tem uma linda expografia e vem atraindo bom público. Estamos felizes em realizar essa colaboração com a FDAG que poderá marcar o início de outras parcerias”, arrematou Alexandre.
Agora, falemos da Comporta. Há uma hora e meia ao sul de Lisboa, este pequeno paraíso na costa portuguesa, se é que você ainda não ouviu falar, vai começar logo, logo. É um sonho! Tem água cristalina, areia branquinha, construções discretas, baixas, em arquitetura vernacular com palha, pinho e paredes caiadas de branco pintadas com detalhes em azul alentejano. Sem contar, a hospitalidade da terrinha e sua gastronomia com sabor de mar regada por bom vinho português. Em meio ao pequeno comércio com produtos locais há lojinhas charmosas, mas nenhuma de grife. (Há alguns anos, Christian Louboutin tem ali uma linda casa de veraneio caiçara, mas ao em vez de abrir uma de suas sapatarias, tem uma badalada pousada em Melide, há 20 km da Comporta).
Por todo lado deste torrão mágico, o clima é de sofisticada simplicidade e natureza praiana selvagem. Nada de praia cheia, horda de turistas, música aos berros, prédios altos. A musicalidade da Comporta é da Mãe Natureza com sua sinfonia do mar e dos ventos… Por tudo isso, virou o point mais eco-chic do verão europeu como um dia foram, as hoje, badaladíssimas (e entupidas) St. Tropez, Ibiza e os Hamptons de cem anos atrás… Na Comporta o ritmo é calmo e a vida, simples, mas não sem sofisticação.
A Herdade da Comporta, esse é seu nome oficial, é um paraíso ecológico às margens do Oceano Atlântico norte, com seus grupos de golfinhos, e dunas entrecortadas pelo estuário do Sado com mais de 200 espécies de pássaros. Com o seu longo pescoço cinzento, a garça-real é o emblema local. Faz ninho no topo do campanário da igrejinha local, no alto dos postes, simboliza a rica biodiversidade alentejana.
Por muito tempo a região foi da família Espírito Santo, dona do conglomerado empresarial do mesmo nome, um dos maiores de Portugal, até a falência do grupo em 2014 quando a vasta área foi posta à venda não sem uma longa lista de rígidas regras de preservação, pelo visto, respeitadas e seguidas a risca por todos, locais e turistas. Sorte da Comporta!
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SERVIÇO
Stirring the Pot | Comporta 2024
Curadoria de Nancy Dantas
Casa da Cultura de Comporta
https://www.fundacaohdc.pt/casadacultura
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
[email protected]
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/
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