A Neriage apresentou sua nova coleção sob o nome “Andrômeda”. Não espere da estilista Rafaella Caniello, no entanto, nenhuma interpretação literal – é justamente no exercício racional (e, depois, junto a muitos outros pares de mãos, na experimentação têxtil) que ela dá sentido às criações que apresenta, ao lado da sócia Laura Leite. Ela nos coloca a pensar de qual Andrômeda estamos falando aqui.
Há a Andrômeda da mitologia grega, acorrentada a uma pedra como sacrifício a um monstro marinho e depois resgatada por Perseu – um ato que fala de coragem e do poder redentor do amor, temas eternizados como inspiração em diversas práticas artísticas, da dramaticidade na escultura de Auguste Rodin à profundidade contemplativa da faixa “O Sofrimento de Andrômeda” da compositora Alice Coltrane. Mas há, antes disso, a galáxia de Andrômeda. Localizada a 2,5 milhões de anos-luz da Terra, trata-se do objeto mais distante que o ser humano consegue enxergar a olho nu, superando 1 trilhão de estrelas (para fins de comparação, estima-se que a Via Láctea possui “apenas” 400 bilhões delas).
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As galáxias, por definição, são feitas de elementos distintos que interagem gravitacionalmente, fato científico que faz um aceno sobre o line-up de 42 modelos que desfilaram no jardim de oliveiras do hotel Rosewood, em São Paulo: se a Neriage, até então, era uma marca conhecida por ter um DNA muito particular de moda, ela agora expande seu estilo autoral para roupas que acolhem traços nunca antes vistos sob sua etiqueta, se tornando essencialmente mais… universal. “É como se existissem lugares distantes que a gente ainda não conhece. A gente acha que a cidade é tudo, mas existe Andrômeda”, conta Rafaella, em conversa com a coluna. “Não existe mais uma única mulher Neriage, existem várias”.
Se o universo está em expansão, a Neriage também. A julgar pelo styling das clientes-amigas-parceiras que lotaram a platéia, a hipótese se comprova: a fluidez e os plissados que são o carro-chefe da marca, antes mesmo do desfile, surgiram interpretados cada um à sua maneira, dentro do estilo de cada convidada.
Pois, na passarela, Rafaella também trouxe sua identidade para uma nova gama de produtos: com styling de Flavia Lafer, a estilista introduziu o couro como um elemento de maior presença na marca, seja em vestidos e jaquetas, ou nos acessórios que afivelam a cintura das modelos em contraposição ao movimento de tecidos ultrafinos. O jeans, antes visto somente em um experimento pontual com a Levi’s, agora integra de vez a coleção, e faz isso de maneira original, através de uma calça com camada extra de denim, garantindo ainda mais amplitude e liberdade de movimento.
Da parceria com a artista visual Regina Silveira (que, veja só, conheceu Rafaella no desfile da Neriage que olhou para obra de seu ex-aluno, José Leonilson), surge uma leva de peças lindamente estampadas a partir de obras licenciadas. Não seria justo, no entanto, reduzir essa colaboração à estamparia. Produto de um diálogo de mais de um semestre com a estilista, a collab acessou Rafaella em lugares mais internos do que a camada externa da roupa, propondo reflexões sobre seu próprio ofício. “Sempre pensei em movimentos, em encontrar texturas, unir formas e preencher vazios. Mas nunca havia trabalhado com eles de forma a escutá-los, torná-los o território principal da criação. Trabalhar com Regina Silveira me fez entender as geometrias dessa forma”, conta, nas notas entregues antes do show.
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Em uma era que busca resumir a moda à superficialidade (poderíamos estar falando aqui da volta da cintura baixa, dos recortes sensuais ou das botas de montaria – tendências presentes no desfile), a Neriage vai na contramão e busca observar o que a cerca justamente para chegar mais perto daquilo que existe mais profundamente em cada um de nós: a celebração de nossa individualidade.
Veja na galeria os looks de destaque do desfile.
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Zé Takahashi e Marcelo Soubhia Neriage Andrômeda 2024
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Neriage Andrômeda 2024
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.