Há muitos tempo o fotógrafo Cássio Vasconcellos se dedica a fazer imersões fotográficas nas nossas florestas e matas, revelando suas riquezas ameaçadas. Nesta série inédita, também publicada em belo livro com o mesmo título, o foco foi o mapeamento das belezas da Mata Atlântica, transformadas em painéis imagéticos de grande formato e impacto. O resutado é de puro maravilhamento. A proposta da mostra e do livro é justamente proporcionar um olhar aprofundado sobre esse bioma único, que inclui os estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, uma das regiões florestais mais comprometidas do nosso país.
O projeto, iniciado há três anos, homenageia a rica diversidade da Mata Atlântica capturada através de uma técnica especialmente desenvolvida pelo fotógrafo, inspirada nas gravuras dos artistas viajantes do início do século 19, ainda no Brasil colônia. Antes do advento da máquina fotográfica, estas excursões de pesquisa atraiam os maiores nomes da época da botânica, geologia, biologia, enfim, da ciência em geral, interessados em ampliar o conhecimento em suas áreas e promover os registros de reconhecimento dos novos territórios.
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Para que tal façanha se realizasse, esses estudiosos também precisavam dominar as técnicas do desenho, gravura ou aquarela para fazer os registros e, assim, estudar, catalogar e levá-los aos mecenas europeus que financiavam as custosas expedições, que podiam levar anos. A curiosidade pela fauna, flora e pelos povos nativos das novas terras tinha dois objetivos principais, o conhecimento sócio-cientifíco e outra razão mais pragmática, a exploração dessas áreas recém-descobertas para benefício do erário dos financiadores de tal façanha.
O título da exposição de Vasconcellos se refere aos primeiros registros das florestas brasileiras, feitos pelo aristocrata e arqueólogo francês Conde de Clarac (1777-1847), autor do desenho, “Floresta Virgem do Brasil”, gravado em metal por Claude François Fortier (1775-1835), em 1822, que se tornou referência para artistas viajantes da Missão Artística Francesa, entre eles Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que ao voltar à França publicou “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839).
Vale também notar que vem de longe a curiosidade do fotógrafo pelos artistas viajantes e sua paixão pela pesquisa em nossas matas. Esse sentimento que move seu fazer artístico está, a bem da verdade, cravado em seu DNA. Seu pentavô foi o botânico alemão Ludwig Riedel (1790-1861) que participou da famosa expedição Langsdorff de1824-1829. Patrocinada pela coroa russa, a expedição aos trópicos foi chefiada pelo barão Georg Heinrich von Langsdorff, um médico alemão naturalizado russo, que percorreu no período de cinco anos, mais de dezesseis mil quilômetros pelo interior do jovem país, fazendo, como todos os participantes, registros importantíssimos da nossa natureza e sociedade, constituindo o mais completo inventário realizado nos primórdios do Império do Brasil.
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Além de expor em instituições de cultura do país, o paulistano Cássio Vasconcellos já sua obra exibiu na Argentina; na China em Beijing e Shanghai; em Seul, capital da Coréia do Sul; em Paris na Fundação Cartier; e em vários museus norte-americanos, entre eles no museu de Fine Arts de Houston, Texas, conhecido pela sigla MFAH, que acumula o maior acervo de arte latino-americana dos Estados Unidos. Este ano, o celebrado fotógrafo expôs “Over”, um painel gigante de 26 metros de comprimento, que denuncia os riscos da superprodução e do consumismo exacerbado, no “Festival La Gacilly-Baden”, na Áustria.
SERVIÇO
Cássio Vasconcellos: Viagem Pitoresca pelo Brasil
Até 17 de outubro de 2024
Curadoria de Ana Maria Beluzzo
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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