Caminhando pelas ruas de Paris, com a tocha olímpica erguida acima da cabeça, Snoop Dogg certamente foi o primeiro portador da chama a ser solicitado por um fã a fazer o Crip Walk — a dança do hip-hop famosa no clipe de “Drop It Like It’s Hot.” A lenda de 52 anos do rap atendeu ao pedido com entusiasmo, para a alegria do público francês.
Momentos como esse são os que fazem pessoas de todas as idades, gêneros e raças sentirem que conhecem Snoop, como um amigo que está presente em suas vidas há 30 anos. “Não sou distante”, diz ele à Forbes, enquanto relaxa no cassino particular de seu espaço de trabalho e lazer de 2.300 metros quadrados em Inglewood, Califórnia, que ele chama de The Compound. “Sou, tipo, acessível.”
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Essa familiaridade, combinada com a figura inconfundível de seu corpo esguio de 1,93 m e tranças longas, torna difícil para o rapper, cujo nome verdadeiro é Calvin Broadus Jr., sair em público sem causar alvoroço. É por isso que ele passa tanto tempo no The Compound, que também conta com estúdios de gravação, um fliperama e uma quadra de basquete. “Acho que, quando você é orgânico e autêntico, eventualmente o mundo te acompanha”, diz ele. “O que eu não fiz foi tentar seguir as modas ou tendências. Permaneci eu mesmo o tempo todo.”
A percepção pública de Snoop certamente evoluiu desde seus primeiros anos entrando e saindo da prisão e sua ascensão como pioneiro do rap da Costa Oeste, começando com Doggystyle, de 1993. Embora as percepções sobre o hip-hop e a cannabis tenham mudado nas últimas décadas, Snoop também trabalhou duro na reinvenção, mantendo-se fiel a quem é. Seja lançando um álbum de reggae ou gospel, aparecendo em filmes como “Dias Incríveis” e “Dia de Treinamento”, ou produzindo um programa infantil animado, a marca de Snoop passou de “aviso aos pais” para “adequada para a família.”
Após seu trabalho nas Olimpíadas pela NBC, Snoop nunca foi tão popular ou tão requisitado. Neste outono, ele estreará como o mais novo treinador do The Voice e, em dezembro, lançará Missionary, um álbum produzido por seu mentor de longa data, Dr. Dre. Ele também tem várias empreitadas empreendedoras que espera que se beneficiem de seu novo status de “tio maconheiro” favorito dos EUA.
“Claro que há um nível de perigo nele, mas, mais do que qualquer coisa, ele é uma pessoa divertida de se estar por perto”, diz Dr. Dre, de 59 anos, que cofundou a Death Row Records em 1991 e a fabricante de fones de ouvido Beats Electronics 15 anos depois. “Nunca vamos mudar quem somos. Mas o fato de que a cannabis agora é legal — isso definitivamente ajuda.”
A mais recente faceta de Snoop como “mensageiro da paz” — o título dado a qualquer portador da tocha olímpica — foi algo que ele levou muito a sério em Paris. Seja nadando com Michael Phelps, dançando com Simone Biles ou assistindo à dressagem com sua amiga de longa data Martha Stewart, ele irradiava positividade e brincadeira, o que ressoou com os telespectadores.
“Foi tudo o que esperávamos e mais”, diz Molly Solomon, produtora executiva e presidente de programação da NBC Olympics. “Ele foi uma atração tão grande em Paris quanto qualquer não-atleta já foi.”
Solomon espera que Snoop volte não apenas para os Jogos de Verão de 2028, em sua cidade natal, Los Angeles, mas também para os Jogos de Inverno de 2026, na Itália. Pelo menos lá, ele não será solicitado a comer escargot diante das câmeras, como foi durante um segmento no restaurante Le Cinq, com três estrelas Michelin, em Paris. “Vocês podem colocar um nome bonitinho nisso, tentar deixar fofo, fritar, colocar tempero”, diz ele sobre a iguaria francesa. “Eu não como caracóis.”
Apesar do aumento de popularidade e do passado como garoto-propaganda para — entre muitos outros — Petco, Tostitos e Corona, Snoop recentemente se afastou de endossos para focar em empreendimentos nos quais possa participar dos lucros ou obter participações acionárias. Em 2020, ele fechou um acordo de licenciamento com a 19 Crimes para lançar um vinho tinto com sua imagem no rótulo, e a empresa afirma que atingiu sua meta de vendas de 12 meses nas primeiras seis semanas. O Dr. Bombay Ice Cream, uma joint venture 50/50 com a Happi Foodi, relatou US$ 10 milhões (R$ 56 milhões) em vendas desde o lançamento em agosto passado.
No mundo da cannabis — com o qual Snoop tem sido associado desde que, segundo relatos, vendeu maconha para sua colega de escola Cameron Diaz — ele é tão influente que um golpe publicitário no final do ano passado, em que anunciou que desistiria de fumar, fez com que as ações de empresas de cannabis listadas em bolsa despencassem — até que ele foi revelado como o novo rosto de uma churrasqueira sem fumaça. Embora tenha encerrado sua participação na Casa Verde, o fundo de capital de risco focado em cannabis com US$ 350 milhões (R$ 1,96 bilhão) em ativos sob gestão em 2024, sua marca Death Row Cannabis foi lançada no ano passado, com lojas em Los Angeles e Amsterdã.
O centro desse crescente império de negócios é a Death Row Records, a mesma gravadora que primeiro assinou com Snoop no início dos anos 1990, mas que entrou em declínio antes de pedir falência em 2006. Em 2022, Snoop comprou a Death Row por cerca de US$ 10 milhões (R$ 56 milhões) do grupo MNRK Music, controlado pela Blackstone. Na sexta-feira, a empresa colecionadora de catálogos Reservoir Media, com sede em Nova York, anunciou um novo contrato de publicação para o catálogo passado de Snoop e suas obras futuras, bem como o catálogo da Death Row.
“Eu sou dono da gravadora e quero ter propriedade das coisas que promovo e comercializo porque percebi que sou bom nisso”, diz ele. “Não faz sentido eu pegar um cheque de US$ 10 milhões (R$ 56 milhões) para promover sua empresa e ela faturar US$ 500 milhões (R$ 2,8 bilhões).”
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É a mesma lógica por trás da Gin and Juice, sua startup de Los Angeles que produz um coquetel pronto para beber com o nome de seu single de 1993, que ele lançou no início deste ano com Dr. Dre e o executivo musical Jimmy Iovine. Snoop diz que, quando mencionou marcas de gim como Seagram’s e Tanqueray nas letras, não fazia ideia do quanto estava ganhando para elas.
Ele também é apaixonado por Missionary, o primeiro álbum completo que Dr. Dre produziu para ele desde Doggystyle. “Sinto que esta é uma das melhores músicas que já fiz”, diz Dr. Dre. “Isso vai dar a ele algo novo para tocar no palco, e foi nisso que pensei ao produzir este álbum.” “A música é minha base. É a raiz de quem sou, então nunca posso me afastar disso. E acho que uma coisa sobre a boa música e bons músicos é que eles são atemporais”, completa Snoop.
Com a possibilidade de uma turnê já no ano que vem, não há sinais de que Snoop vá desacelerar. Neste ponto da carreira, ele diz que é motivado a continuar trabalhando por seus 12 netos e pelos participantes da Snoop Youth Football League, que ele apoia financeiramente.
“Penso na perspectiva das Olimpíadas, penso em correr uma corrida”, diz ele sobre sua trajetória. “Quando me passaram o bastão, a maioria das pessoas já tinha dado quatro ou cinco voltas, mas agora, no ritmo em que corro, já passei por eles quatro ou cinco vezes. Então, como faço para passar o bastão para meus netos, para que eles estejam à frente da corrida, e não atrás?”