Há algumas décadas, Dubai era apenas um “ponto no deserto”. Hoje, é uma cidade com mais de três milhões de habitantes, em sua maioria expatriados, e apresenta uma trajetória de crescimento impressionante — assim como os gastos.
Atualmente, está em andamento a renovação de US$ 35 bilhões (R$ 196 bilhões) do novo terminal de passageiros do Aeroporto Internacional Al Maktoum (DWC), aprovada pela liderança de Dubai em abril. A estrutura futurista, projetada pelo escritório Leslie Jones Architecture, substituirá o Aeroporto Internacional de Dubai (DXB), atualmente o segundo maior hub internacional do mundo, depois do Aeroporto Hartsfield-Jackson em Atlanta, Geórgia. Mas os Emirados Árabes Unidos têm ambições ainda maiores. Se inaugurado conforme planejado nos próximos 10 anos, o DWC pretende se tornar o maior (e mais caro) aeroporto do mundo.
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Enquanto isso, redes hoteleiras estão apostando, especialmente no setor de luxo. Até o final de 2024, Dubai receberá um novo Delano Dubai (da Accor), um Jumeirah Marsa Al Arab e um Six Senses The Palm, Dubai (IHG), enquanto as marcas parceiras da Ennismore, Rikas Group e Paris Society adicionam cinco novos clubes de praia e restaurantes à região. Em 2025, a cidade ganhará um novo resort de praia da Gran Melia, enquanto a SHA Wellness Clinic (conhecida por seus resorts na Espanha e no México) prepara sua estreia nos Emirados para 2026.
Se a ideia é algo como uma “Las Vegas ampliada,” é bom aguardar. A MGM Resorts está construindo seu próprio “Dubai Sphere,” uma versão menor do imersivo Las Vegas Sphere, como parte de um novo complexo de US$ 2 bilhões (R$ 11,2 bilhões). Embora a data de inauguração ainda não tenha sido anunciada, o contrato para construção já foi concedido para o desenvolvimento de três novos resorts: um MGM, Bellagio e um Aria, com uma esfera no centro.
Projetos como esses parecem consolidar a reputação de Dubai como um exuberante oásis artificial no deserto. Mas, durante sua recente campanha de mídia em Nova York, incluindo uma apresentação no fórum de viagens Skift Global Forum, Issam Kazim, CEO da Dubai Corporation for Tourism and Commerce Marketing, destacou que há muito mais em sua cidade natal. E ele está lançando uma nova campanha para convencer os viajantes dos EUA a darem uma nova chance a Dubai. Confira a entrevista que ele deu à Forbes:
Forbes: Dubai parece mais acessível de uma forma que não era há 10 anos.
Issam Kazim: Atualmente, estamos na terceira ou quarta posição entre as cidades mais visitadas internacionalmente. Em 2014, estávamos na sétima posição — então elaboramos uma estratégia completa. [Dubai recebeu 9,31 milhões de visitantes internacionais com pernoite de janeiro a junho de 2024, um aumento de 9% em relação aos 8,55 milhões de turistas do primeiro semestre de 2023, segundo o Departamento de Economia e Turismo].
Realizamos pesquisas em cidades que considerávamos relevantes. Há de seis a sete mercados tradicionais fortes. Quais novos mercados em potencial podemos abrir? Como podemos atender às necessidades deles? Percebemos rapidamente que os visitantes de Dubai esperavam ótimas praias e hotéis; muitos não associavam a cidade com cultura ou patrimônio.
Dubai é um caso especial nos Emirados Árabes Unidos, pois não possui riqueza em petróleo. Foi preciso buscar outras formas de atrair riqueza: principalmente turismo e finanças. Certo?
Certamente. Era um centro comercial. A economia local se baseava em pesca e coleta de pérolas. Tudo se concentrava ao redor do riacho, onde os comerciantes desembarcavam. O primeiro grande projeto foi o aprofundamento do riacho para permitir a entrada de navios. Isso trouxe mais comunidades empresariais. Hoje, cerca de 200 nacionalidades escolheram Dubai como lar, constituindo aproximadamente 90% da população, de diferentes perfis. A falta de recursos naturais nos beneficiou, pois nos obrigou a buscar alternativas para levar o turismo e o comércio a outro nível.
Do comércio surge o comércio internacional, e daí vem o setor bancário…
Dubai pensa e age como uma empresa. Costumamos nos chamar de Dubai Inc., pois o setor privado e o público trabalham juntos. Se for necessário mudar alguma regra para favorecer os negócios, essas mudanças são feitas. É essa dinâmica; é essa agilidade.
Vou dar um exemplo: temos muitos hotéis de 3 a 4 estrelas, mas talvez não o suficiente para abrir mais mercados. No segmento de luxo, estamos bem atendidos. Mas também precisamos de mais luxo acessível. Assim, criamos um incentivo: qualquer investidor que desenvolva novos hotéis de 3 a 4 estrelas terá isenção das taxas municipais de 10% por cinco anos. Dessa forma, os desenvolvedores optaram por hotéis de 3 a 4 estrelas em vez de 5 estrelas, devido ao retorno mais rápido sobre o investimento (ROI).
Quando lançamos nossa estratégia em 2014, tínhamos 67 mil quartos de hotel. Hoje temos mais de 150 mil. Ou seja, mais que o dobro em cerca de oito anos. Em média, os hotéis estão com uma taxa de ocupação de cerca de 80%. [Em comparação ao final de 2019, os hotéis de todas as categorias aumentaram 11,3%, com um crescimento de 20,1% na oferta de quartos — totalizando atualmente mais de 820 estabelecimentos e 150 mil quartos, segundo o Departamento de Economia e Turismo].
Dubai está aberto a empresas de tecnologia de viagens como Airbnb e Uber?
Sim, estamos abertos e conectados ao mundo. Com o Airbnb, entendemos os desafios que enfrentam em Nova York. Mas, no fim das contas, não se trata apenas do Airbnb, mas dos clientes do Airbnb. Se é assim que viajam, não podemos ignorá-los completamente. Queremos acomodá-los também.
Existe uma percepção errônea de que Dubai é muito caro. Mas isso não é verdade. [Além do Hotel Indigo Dubai Downtown, Rove Hotels, Avani+ Palm View e Al Seef Heritage Hotel, hotéis Mama Shelter vão adicionar outra opção de médio custo em Dubai este ano].
De onde virá o crescimento futuro?
A ilha Palm Jumeirah é um destino de grande sucesso. Estamos trazendo propriedades e hotéis para essa área, e há muito mais por vir. O Aeroporto Internacional de Dubai (DXB) atingiu sua capacidade máxima. Então, lançamos o Aeroporto Al Maktoum há alguns anos para acostumar as pessoas com aquela área, que é onde se concentram os novos desenvolvimentos de Dubai.
Quando ele será inaugurado?
Dentro de 10 anos, em fases, pois é onde estará nosso futuro crescimento. Quando atingir a capacidade total, poderá acomodar até 260 milhões de passageiros anualmente. [Em comparação, o Aeroporto Internacional de Dubai aumentou sua previsão para 91,8 milhões de visitantes em 2024, acima do recorde de 89,1 milhões em 2018].
Além disso, o aeroporto está ao lado de um dos maiores operadores portuários, a DP World. Nosso hub é sobre conectar não apenas pessoas, mas também mercadorias. Estamos trabalhando para melhor atender às necessidades comerciais.
Permitir empresas estrangeiras com controle total?
Sim, a lei mudou em 2020. [Estrangeiros podem estabelecer empresas com 100% de propriedade, conforme o Decreto Federal nº 26 de 2020, que altera a Lei Federal nº 2 de 2015 sobre Sociedades Comerciais].
Empresas estão estabelecendo suas sedes globais em Dubai, pois isso proporciona acesso ao restante do mundo. Facilitá-las é parte de nosso objetivo desde a fusão do departamento de turismo com o de economia em 2022. Agora, estamos falando sobre ser a cidade número um para viver e para trabalhar. Em muitos aspectos, somos um incubador para o que as cidades do futuro serão.
Quais são os próximos passos para alcançar os objetivos?
No início, tínhamos cerca de 160 projetos, mas simplificamos em quatro metas principais: queremos ser uma das cidades mais visitadas do mundo, aumentar o número de visitantes a cada ano, prolongar o tempo de estadia e aumentar o gasto na cidade; queremos que os visitantes explorem tudo o que Dubai tem a oferecer e aumentem a frequência de retorno.
Hoje, atingimos essas metas. Agora, 25% dos visitantes voltam a Dubai dentro de 12 meses. Em um raio de oito horas, dois terços da população mundial estão próximos. Facilitamos a obtenção de visto e aumentamos o acesso a Dubai ao abrir mais rotas com nossos parceiros. Seis meses após o lançamento, adicionamos 16 países ao programa de “Visto na chegada.” Essa é nossa velocidade. Agora, com a Emirates, há várias portas de entrada e saída dos EUA. Criaram uma parceria com a United Airlines. [Atualmente, a United Airlines é a única companhia aérea dos EUA a oferecer voo direto para Dubai].
O que está sendo feito para acolher as viajantes mulheres?
O foco está em mudar a percepção sobre as mulheres em Dubai. A primeira pergunta que sempre é feita é: “Preciso me cobrir quando for a Dubai?” Não, não é assim. Há pessoas de todos os perfis. Todos, desde que respeitem o próximo, podem viver em Dubai da maneira que preferirem.
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Falando em gastronomia, houve mudanças desde a chegada do Guia Michelin em Dubai em 2022?
Cinco anos atrás, trabalhei em um projeto para tentar colocar Dubai no radar do Guia Michelin. Inicialmente, não estavam interessados. Então, um dia recebi uma ligação: “Um membro da nossa equipe voou para Dubai com a Emirates. Pedimos para ele avaliar a região. Ficamos agradavelmente surpresos; Dubai está muito mais preparada do que imaginávamos.” Agora, em seu terceiro ano, o Guia Michelin inclui 106 restaurantes de Dubai em sua edição de 2024.
A magia do Michelin é o marketing, pura e simplesmente. Saber que o Guia Michelin está falando de Dubai representa mais um canal importante promovendo o destino. Quando o anúncio do Michelin foi feito, vi pessoalmente restaurateurs e chefs de Dubai subirem ao palco emocionados. Muitos deles nunca imaginaram que Dubai teria essa oportunidade. Naquele momento, compreendi a importância disso.
Quais são as expectativas?
Que as pessoas conheçam Dubai como se estivessem vivendo e respirando o lugar. Se for possível proporcionar esse entendimento antes mesmo de escolherem um destino, seria o ideal. Quando as pessoas chegam com a mente aberta, não só acabam voltando, mas também começam a se perguntar: como posso viver aqui? A ideia é que compreendam o que é Dubai, que o explorem de forma autêntica e que se sintam parte do lugar.