Foi no Salão do Automóvel de 2018 que a Renault deu o primeiro passo rumo à eletrificação de seus produtos, anunciando o compacto Zoe por R$ 149.990. Ainda desacostumado em plugar a bateria de um carro na tomada, o consumidor se recusou a desembolsar tanto dinheiro num modelo popular em termos de dimensões, acabamento, desempenho, equipamentos e status. Ainda mais tendo que lidar com a escassez de pontos públicos de recarga.
No ano passado, nova tentativa com a segunda geração do mesmo Zoe, agora mais refinado, potente e caro, chegando a R$ 219.990 na topo de linha Intense (hoje a única versão oferecida e que parte de R$ 239.990). Tanto o primeiro quanto o segundo raramente são avistados nas ruas – e quando são, estão a serviço de algum tipo de frota.
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Uma investida mais ampla e menos corporativa começa agora: durante o seminário de eletrificação E-Tech 100% Electric Days, realizado no Parque do Ibirapuera na última semana, a marca francesa lançou oficialmente o Kwid elétrico e prometeu para o primeiro semestre do ano que vem o hatch médio Megane e os utilitários Master e Kangoo igualmente movidos a bateria.
Vendido no Brasil até 2012 como um sedã médio, o Megane voltará agora baseado na plataforma CMF-EV, dedicada a elétricos. Será equipado com motor de 220 cv e 30,6 kgfm de torque, além de autonomia de 450 km. Também estreará o novo logotipo da Renault no Brasil.
Ao redor do mundo, tais modelos são parte de uma frota de 450 mil veículos 100% elétricos produzidos pela Renault – só na Europa representaram 36% das vendas de automóveis no primeiro semestre deste ano.
Democratização
Tanto pretende que elétricos sejam mais acessíveis que empresa elaborou o Renault on Demand, serviço de assinatura customizável que inclui serviços de revisões preventivas, gestão de documentos e taxas relacionadas ao veículo como IPVA e licenciamento, além de seguro.
Na prática, além de não ter que desembolsar R$ 146.990 num subcompacto espartano, o cliente tira do radar preocupações como valor de revenda (ainda uma incógnita quando se trata de elétricos e híbridos), manutenção e vida útil da bateria, entre outros aspectos.
“Outra vantagem é a economia do quilômetro rodado, natural nos veículos elétricos, que no Kwid E-Tech é também resultado do peso de apenas 977 kg. Traduzindo em valores: considerando R$ 6,20 o preço médio da gasolina no Brasil, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), e o valor médio de 1kWh a R$ 0,66, o custo de um quilômetro rodado do Kwid E-Tech é de R$ 0,06. Esse mesmo quilômetro rodado custa R$ 0,41 em um veículo térmico equivalente”, explica a marca.
A recarga pode ser feita em tomada comum, em wallbox de corrente alternada (AC) de 7 kW e em carregadores de corrente contínua (DC). Para carregar dos 15% até 80% da carga da bateria em DC são necessários 40 minutos, em um Wallbox de 7kW são 2h54 e em uma tomada doméstica de 220 volts são 8h57, de acordo com a Renault.
Em um plano de 48 meses com 1.000 quilômetros por mês, por exemplo, a mensalidade do Kwid E-Tech é de R$ 3.339. No mesmo evento, a Mobilize, marca do Renault Group dedicada à mobilidade, anunciou uma parceria com a Zarp Localiza para oferecer 200 unidades do Kwid E-Tech para motoristas de Uber de São Paulo, que serão usados no serviço de transporte por aplicativo.
Com a versão sem motor a combustão do Kwid, a Renault briga com a Caoa Chery pelo posto de carro elétrico mais barato do país. Lançado em junho, o modelo de ascendência chinesa custa atualmente (após dois reajustes) R$ 149.990.
O próximo degrau depois dos compactos de entrada é o Nissan Leaf, que chegou à linha 2023 em julho, por R$ 293.790. Um mês depois a General Motors relançou o Bolt, por R$ 329 mil.
Como anda o Kwid elétrico
Forbes Motors teve a oportunidade de experimentar a versão elétrica do Kwid brevemente. Em um trajeto predominante urbano, o modelo agradou pela aceleração vigorosa – característica de qualquer elétrico, até mesmo os menos potentes, como o modelo da Renault, cujo motor rende 65 cv e 11,5 kgfm de torque – pela suspensão macia e pelo silêncio a bordo.
Na lista de equipamentos o Kwid E-Tech também não passa vergonha: o veículo traz seis airbags, controle eletrônico de estabilidade (ESP), freios ABS com BAS (Braking Assist System), assistente de partida em rampa (HSA), câmera de ré, sensor de estacionamento traseiro, sistema multimídia e direção elétrica.
É fácil manejar o compacto no trânsito. A direção é leve e, graças às diminutas dimensões (são apenas 3,73 m de comprimento), dá para encaixá-lo em qualquer brecha. No retorno ao ponto de partida, ainda havia carga para mais algumas rodadas – segundo a Renault, são 298 km de autonomia se o uso se restringir à cidade e 265 km combinado com passeios rodoviários.
Contudo, trata-se ainda de um Kwid: o interior é espartano até mesmo para um modelo de entrada e o espaço é tão reduzido que motorista e passageiro quase viajam de braços dados.
Ainda assim, como elétrico de quase R$ 150 mil convence mais do que como 1.0 de entrada de R$ 65 mil.