Era um tanto previsível que uma 250 GTO suplantaria a outra para assumir o posto de clássico mais caro já leiloado, haja vista que essa é uma das Ferraris mais cobiçadas, raras e valorizadas de todos os tempos. Imaginava-se – como acabou ocorrendo – que o novo recorde se estabeleceria por uma modesta diferença.
Não que US$ 10 milhões sejam uma quantia modesta, mas nada comparável aos US$ 93.595.000 que separam o agora carro mais caro do mundo do agora segundo colocado – uma diferença exorbitante mesmo para os padrões excêntricos da elite do antigomobilismo mundial.
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Além do Mercedes-Benz 300 SLR “Uhlenhaut Coupe”, ingressou na lista dos clássicos mais caros já leiloados uma Ferrari 410 Sport Spider, arrematada em 2022. Saíram: Duesenberg SSJ 1935 e Jaguar D-Type 1955. Não entram na conta carros comercializados em transações privadas.
Mercedes-Benz 300 SLR “Uhlenhaut Coupe” 1955: US$ 142.000.000
(RM Sotheby’s, 2022)
Um dos dois Mercedes-Benz 300 SLR Uhlenhaut Coupé 1955 existentes foi leiloado, em maio, no Mercedes-Benz Museum, em Stuttgart (Alemanha). Foram convidados a participar do leilão apenas clientes da marca e colecionadores internacionais de carros e arte “que compartilham os valores corporativos da Mercedes-Benz”, explicou a casa de leilões canadense.
Baseado no W 196 R, carro de corrida que conquistou dois campeonatos mundiais com Juan Manual Fangio ao volante, este 300 SLR era especial porque, além de existir apenas mais um igual a ele, fora o carro de uso pessoal de Rudolf Uhlenhaut, o engenheiro que criou o modelo. Equipado com um motor 3.0 de oito cilindros que o levava aos 290 km/h, foi um dos mais rápidos de sua geração. Pertencia à Mercedes desde sempre e marcava pouco mais de 6.000 quilômetros.
“É razoável dizer que ninguém jamais imaginou que este carro seria colocado à venda. Palavras não podem realmente fazer justiça à importância e significado desta venda”, disse à época Peter Wallman, Chairman da RM Sotheby’s.
De acordo com Marcus Breitschwerdt, chefe do Mercedes-Benz Heritage, “o comprador concordou que o 300 SLR Uhlenhaut Coupé permanecerá acessível para exibição pública em ocasiões especiais, enquanto o segundo exemplar permanece na propriedade da empresa e continuará a ser exibido no Mercedes-Benz Museum”.
Ferrari 250 GTO by Scaglietti 1962: US$ 48.405.000
(RM Sotheby’s, 2018)
Num leilão conduzido pelo pentacampeão das 24 Horas de Le Mans Derek Bell, esta Ferrari removeu do trono a 250 GTO anterior após três colecionadores disputarem por dez minutos quem pagaria mais por um carro muito semelhante, mas que fora o carro de testes de Phil Hill e, apesar de competir em 20 corridas, nunca tenha se envolvido em um acidente.
O vencedor também achou que valia desembolsar US$ 10 milhões a mais pelo mesmo modelo por este exemplar ter sido a terceira 250 GTO produzida e por ter mais de 95% das peças com as quais saiu da fábrica de Maranello, em abril de 1962. A carroceria esculpida pela Carrozzeria Scaglietti – com spoiler traseiro aparafusado e lâmpadas indicadoras de direção abaixo dos faróis – abrigava na parte frontal um motor V12.
Ferrari 250 GTO Berlinetta 1962: US$ 38.115.000
(Bonhams, 2014)
Por quatro anos, esta Ferrari foi o carro mais caro já comercializado em um leilão. Concebida para disputar o campeonato mundial de carros Gran Turismo de 1963 – o qual venceu –, foi a 15ª 250 GTO produzida e pertenceu à mesma família por 49 anos.
Na época, o montante despendido no esportivo leiloado pela Bonhams equivalia a R$ 123,9 milhões – hoje, são R$ 204,2 milhões. Além de um poderoso motor 3.0 V12, tem no currículo o fator da raridade, pois apenas 39 foram construídas.
Ferrari 335 Sport Scaglietti 1957: US$ 35.700.000
(Artcurial, 2016)
A raridade de quatro unidades fabricadas e a vitória no Grande Prêmio de Cuba de 1958, com Stirling Moss ao volante, põem este clássico na lista. No currículo, um monte de corridas: 12 Horas de Sebring, Mille Miglia e Le Mans estão entre as mais famosas.
Antes do leilão, pertenceu por 40 anos a um único colecionador, que chegou a construir uma pista em sua propriedade para desfrutar do carro – e de seu motor 4.0 V12 – tranquilamente.
Mercedes-Benz W196 1954: US$ 29.650.000
(Bonhams, 2013)
Dizer que esse exemplar foi o bólido que vencera os GPs da Alemanha e da Suíça em 1954, guiado por ninguém menos do que o argentino pentacampeão de Fórmula 1 Juan Manuel Fangio, dispensa qualquer outra apresentação. Mas aqui vai mais uma: seu motor de 2,5 litros, de oito cilindros em linha, foi o primeiro a contar com injeção de combustível na F-1, abrindo grande vantagem para os motores carburados dominantes.
Ferrari 290 MM 1956: US$ 28.050.000
(RM Sotheby’s, 2015)
Criada para Fangio disputar a edição de 1956 da lendária Mille Miglia, a terceira etapa do World Sportscar Championship, à época um campeonato tão importante quanto o da F-1. Chegou a ser o carro mais caro já comercializado em Nova York e o mais caro de 2015. Apenas quatro unidades foram construídas e este é o chassi número 0626.
Ferrari GTB/4 S N.A.R.T. Spider by Scaglietti 1967: US$ 27.500.000
(RM Sotheby’s, 2013)
Para promover a Ferrari nos EUA, no fim dos anos 1950, o importador Luigi Chinetti – longevo parceiro de Enzo Ferrari – criou o North American Racing Team (NART), que funcionava como um fornecedor de carros de corrida para gentleman drivers ávidos por campeonatos locais. Fez tanto sucesso que a fabricante italiana passou a aceitar encomendas especiais da 275 GTB/4.
Totalmente restaurado, este é um dos dez exemplares fabricados. Curiosidade: apareceu no filme The Thomas Crown Affair (1968), com Steve McQueen ao volante.
Ferrari 275 GTB/C Speciale by Scaglietti 1964: US$ 26.400.000
(RM Sotheby’s, 2014)
Para a leiloeira, essa 275 GTB/C, número de chassis 06701, “é um carro cuja inclusão nestas páginas quase certamente nunca mais acontecerá, particularmente porque seus dois carros ‘irmãos’ provavelmente não existem mais”.
Este é um dos três protótipos construídos pela Ferrari para homologar seu novo carro de corrida, a 275 GTB, cuja missão era desafiar o Ford GT40 e o Shelby Cobra Daytona nas 24 Horas de Le Mans de 1965. Foi o primeiro modelo da marca a contar com suspensão traseira independente; o motor é um V12 de 320 cv e o câmbio é manual, de cinco marchas.
Aston Martin DBR1 1956: US$ 22.550.000
(RM Sotheby’s, 2017)
Mais um clássico de competição guiado por Sir Stirling Moss, considerado o maior dos pilotos sem um título mundial de F-1. Ao ser arrematado por tal quantia, o primeiro dos cinco DBR1 construídos entre 1956 e 1958 se tornou o mais valioso automóvel britânico já comercializado.
Ferrari 290 MM by Scaglietti 1956: US$ 22.005.000
(RM Sotheby’s 2018)
A última das quatro 290 MM produzidas (e uma das três sobreviventes), chassi número 0628, também foi pilotada por Fangio, além de Phil Hill e Sir Stirling Moss. Incrementam seu “teor colecionável” uma restauração executada pela Ferrari Classiche (com a pintura que levou para as 12 Horas de Sebring de 1957) e ter sido mantida pela família Chinetti por quase três décadas.
Ferrari 410 Sport Spider 1955: US$ 22.005.000
(RM Sotheby’s, 2022)
Rival de Enzo Ferrari nas pistas, Carroll Shelby certa vez disse que a 410 Sport Spider era “a melhor Ferrari que já dirigiu”. No histórico de conquistas, vitória em 11 corridas (oito com o famoso preparador norte-americano ao volante) e visitas ao pódio em mais 19 entre 1956 e 1958. Com carroceria projetada e construída por Sergio Scaglietti (como a maioria das Ferraris da época), carrega um descomunal motor V12 de 4,9 litros e 400 cv.